O cofundador e presidente do Conselho da Asaas abriu os planos da fintech catarinense, que pretende se tornar uma marca global em até 10 anos. / Fotos: Divulgação
[09.10.2025]
Por Fabrício Umpierres, editor SC Inova – scinova@scinova.com.br
Direto do Assas Connect, em São Paulo
Durante o Asaas Connect 2025, realizado em São Paulo na quinta (09), o cofundador e presidente do conselho, Piero Contezini, conversou com o SC Inova sobre o amadurecimento da empresa após a rodada, o lançamento de uma app store própria e aberta para desenvolvedores – o que transforma o Asaas em uma plataforma colaborativa.
Na entrevista, Contezini também comenta os planos de internacionalização, o posicionamento de marca, a estratégia de IPO até 2028 e a decisão de manter o centro de operações em Santa Catarina. “A vontade de ir para fora é mais nossa do que dos investidores. Eles olham o Brasil e dizem: ‘fiquem aí, ainda há muito para crescer’. Mas queremos reduzir o risco de estar em um único país”, resume o empreendedor.
Confira:
SC Inova – O Asaas Connect chegou ao terceiro ano. Como foi essa edição na avaliação de vocês?
Piero Contezini – Incrível. O evento esgotou os ingressos uma semana antes, com muita gente pedindo pra participar. É uma satisfação enorme ver esse crescimento, mas também nos faz pensar. Talvez não seja uma questão de tamanho, e sim de segmentação e posicionamento. Queremos subir o nível, mas não necessariamente aumentar o público para 15 mil pessoas.
SC Inova – Há um anos vocês captaram a maior rodada da América Latina no período (R$ 820 milhões). O que mudou de lá pra cá dentro da empresa?
Piero – A principal mudança é a profissionalização. Com os recursos, conseguimos atrair executivos muito qualificados — pessoas que antes nem olhavam para o Asaas por nos verem como uma empresa pequena do Sul. Trouxemos líderes seniores em áreas como jurídico e people, e isso elevou o padrão da organização como um todo. Agora estamos estruturados para crescer na velocidade que queremos.
SC Inova – E do ponto de vista de produto, o que mais avançou?
Piero – O Asaas sempre foi conhecido como uma conta digital, mas há tempos fazemos muito mais do que isso. Começamos com cobranças, depois nota fiscal, ERP, contas a pagar… Só que percebemos que não dá pra ser o melhor em tudo. Então hoje estamos virando uma plataforma, e não apenas uma conta digital. Lançamos no Connect a nossa app store, para que desenvolvedores publiquem aplicativos dentro do Asaas — usando nossa infraestrutura de pagamentos como uma “língua comum”. Isso permite automatizar processos financeiros em diferentes verticais.
SC Inova – Ou seja, o Asaas está se tornando um ecossistema aberto.
Piero – Exatamente. Estamos abrindo a plataforma para que terceiros possam desenvolver e distribuir seus aplicativos à nossa base. É um passo importante: deixa de ser um ecossistema fechado e passa a ser colaborativo.
SC Inova – Que impacto essa estratégia pode ter nos resultados da empresa?
Piero – É enorme. A Salesforce, por exemplo, tem a AppExchange, que representa cerca de 20% da receita dela. No nosso planejamento, estimamos algo em torno de 15% da receita global até 2030 vindo de comissões sobre aplicativos de terceiros. E o mais interessante: isso tende a impactar mais o lucro líquido do que a receita, já que software tem margens muito melhores que serviços bancários.

SC Inova – O Asaas vem apostando muito também em marca. Patrocínios, mídia nacional… de onde veio essa estratégia?
Piero – A gente estudou por que ainda não tínhamos milhões de clientes, e a resposta foi uma palavra: segurança. As pessoas escolhem um banco porque se sentem seguras em deixar o dinheiro lá. E a melhor forma de construir essa percepção é através de brand awareness. Por isso escolhemos marcas e projetos que transmitem confiança: Shark Tank, MasterChef, Red Bull Bragantino. O Bragantino, por exemplo, é uma empresa que visa lucro e performance. Então buscamos associações consistentes e de longo prazo.
SC Inova – Sobre a abertura de capital na Bolsa (IPO): vocês planejam abrir capital até 2028?
Piero – A gente vai estar pronto até 2028, mas isso não quer dizer que vamos abrir capital. Essa decisão depende do mercado — se há demanda por novas emissões, se a precificação pública está melhor que a privada… Além disso, abrir capital reduz muito a liberdade de inovação, porque você passa a prestar contas a cada três meses. Então, quanto mais tempo conseguirmos permanecer privados, melhor. O exemplo é a [empresa americana] Stripe: vale 100 bilhões de dólares e continua privado.
SC Inova – Há planos de internacionalização no curto prazo?
Piero – A vontade é mais nossa do que dos investidores. Eles olham o mercado brasileiro e dizem: “fiquem aí, ainda há muito para crescer”. Mas queremos reduzir o risco de operar em um único país. A ideia é começar aos poucos — permitir, por exemplo, que clientes brasileiros tenham saldo ou recebam em dólar nos próximos dois anos. Ainda será voltado a brasileiros com CPF, mas mirando um público global.
SC Inova – Mesmo com o crescimento, você e o Diego [Contezini, irmão e cofundador] também continuam envolvidos no desenvolvimento de produto?
Piero – Totalmente. Eu defino a visão de longo prazo e estou envolvido nas inovações que realmente fazem diferença. A Flap Store, por exemplo, nasceu de um conceito que eu desenhei. Hoje temos cerca de 250 pessoas em produto e engenharia, e umas 40 ou 50 focadas em produto. O Diego, por outro lado, é o cara das pessoas. Ele cuida da cultura, da felicidade das equipes. Eu olho pra fora e pro futuro; ele olha pra dentro.
SC Inova – E qual é a visão de futuro? Onde o Asaas quer estar em 10 ou 15 anos?
Piero – Até 2030, queremos ser o vencedor do nosso mercado no Brasil. E, em dez anos, queremos ser uma plataforma usada no mundo todo. Mas só faz sentido competir lá fora quando formos líderes absolutos aqui.
SC Inova – O Brasil tem sido referência global em regulação financeira. Isso ajuda nessa ambição?
Piero – Muito. O país está à frente em inovação regulatória. O PIX é o melhor exemplo — e agora os EUA estão copiando com o FedNow. Até a Colômbia lançou um sistema idêntico. Então faz sentido consolidar a liderança aqui antes de expandir.
SC Inova – Por fim: o Asaas nasceu em Santa Catarina. Isso já foi uma barreira?
Piero – No começo, sim. Muita gente dizia que seria difícil atrair talentos e investidores fora do eixo Rio–São Paulo. Mas a pandemia mudou tudo. Hoje o trabalho remoto e a qualidade de vida de estar no interior são diferenciais. Estar em Joinville nos dá foco. São Paulo é incrível para negócios, mas o barulho e a velocidade de lá tiram o foco. Aqui, a gente resolve o que precisa resolver — e constrói uma empresa global com a cabeça no lugar.
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