Quem domina os fundamentos (APIs, automações, lógica de agentes) cria vantagem competitiva. A boa notícia: não custa uma fortuna, é preciso método. / Imagem: ChatGPT/SC Inova
[29.09.2025]
Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”.
Nos últimos meses, uma pergunta tem se repetido em toda palestra, curso ou reunião com empresários: “Barbosa, por onde eu começo a implantar agentes de IA na minha empresa?”
A dúvida é legítima.
Para muitos, a IA ainda parece uma caixa-preta reservada a gigantes de tecnologia. Mas a verdade é que os agentes de IA — esses sistemas que não apenas respondem, mas agem — estão ao alcance de qualquer pequena e média empresa. E o caminho não começa com milhões em investimento, mas sim com clareza de propósito, fundamentos bem compreendidos e passos incrementais.
1. ENTENDER O QUE É (E O QUE NÃO É) UM AGENTE DE IA
A primeira confusão é achar que agentes são apenas “chatbots turbinados”. Chatbots repetem scripts; agentes de IA raciocinam, acessam dados, executam ações e aprendem com o tempo.
Pense neles como colaboradores digitais que podem:
- Consultar uma base de dados ou planilha;
- Executar uma tarefa em outro sistema via API;
- Integrar mensagens de WhatsApp, e-mails ou ERPs;
- Tomar pequenas decisões sem intervenção humana.
2. O ERRO COMUM: PULAR DIRETO PARA A FERRAMENTA
Muitos empreendedores começam pelo fim: qual ferramenta usar? N8N, Make, Zapier, OpenAI Assistants, Dify?
Isso é como querer dirigir sem antes entender as regras da estrada. Antes da ferramenta, vem a arquitetura:
- Frontend: onde o usuário interage (site, WhatsApp, CRM).
- Backend: onde estão as regras de negócio, banco de dados e APIs.
- Agente de IA: o cérebro, capaz de interpretar pedidos e acionar funções.
Esse racional, mostra que a ferramenta é só a camada final. O diferencial está em desenhar a lógica do fluxo: o que entra, o que sai, e qual decisão deve ser tomada.
3. O PRIMEIRO PASSO PRÁTICO: AUTOMAÇÕES SIMPLES
Antes de criar um agente “autônomo”, o ideal é começar por automações — integrações simples entre sistemas.
Exemplo real em PMEs:
- Ao fechar uma venda no sistema, disparar automaticamente um WhatsApp para o cliente;
- Integrar o ERP ao CRM para evitar retrabalho;
- Criar alertas automáticos de inadimplência ou estoque baixo.
Esses “mini-agentes” já liberam tempo da equipe e ensinam a empresa a pensar em processos integrados.
4. EVOLUIR PARA AGENTES DE IA
Com automações rodando, chega o momento de dar inteligência. Aqui entra as camadas de evolução:
- Nível 0: LLM puro (respostas simples, sem memória).
- Nível 1: Memória (consegue lembrar conversas anteriores).
- Nível 2: RAG (acesso a dados específicos, como PDFs ou planilhas).
- Nível 3: Tools (acessa APIs e executa tarefas).
- Nível 4 e 5: Auto-feedback e multiagentes (colaboração entre vários especialistas digitais).
Uma PME não precisa chegar ao nível 5 de imediato. Nível 2 já resolve 80% das dores: atendimento ao cliente mais inteligente, consulta de documentos, suporte a vendedores.
5. MÃO NA MASSA OU PARCEIRO?
Nem toda PME terá tempo ou equipe técnica. O empreendedor precisa decidir:
- Fazer dentro de casa (usando ferramentas no-code, como N8N e Dify);
- Trazer um parceiro (consultoria ou freelancer) para desenhar a primeira versão.
A regra de ouro: comece pequeno, mas com um caso real de negócio. Atendimento, cobrança, pós-venda, vendas — escolha o gargalo mais crítico.
6. O IMPACTO DE COMEÇAR AGORA
Quem domina os fundamentos (APIs, automações, lógica de agentes) cria vantagem competitiva. Empresas que esperarem “a tecnologia amadurecer” vão enfrentar concorrentes mais rápidos, mais baratos e mais escaláveis.
A boa notícia? Implantar agentes não exige milhões, exige método. E para pequenas e médias empresas, isso é uma revolução silenciosa: cada automação implantada libera horas da equipe, reduz custo e aumenta a experiência do cliente.
O MAPA PARA COMEÇAR
Se eu fosse resumir em três frases o caminho:
- Desenhe processos simples de automação antes de pensar em agentes.
- Aprenda o básico de APIs e integrações — esse é o idioma universal da IA.
- Implemente um primeiro agente resolvendo uma dor clara do negócio.
A jornada é menos sobre tecnologia e mais sobre mentalidade.
Não é perguntar “qual ferramenta usar”, mas sim “qual problema quero resolver e como ensino um agente a agir por mim”.
A pergunta já não é mais “por onde começar?”, mas sim “quanto tempo você vai esperar para colocar seu primeiro agente em campo?”
REFERÊNCIAS
- ANDERSON, Chris. The Long Tail: Why the Future of Business Is Selling Less of More. New York: Hyperion, 2006.
- BROWN, Ethan; VYAS, Nikhil. Building AI Agents: A Step-by-Step Guide to Autonomous Systems. O’Reilly Media, 2024.
- GENAI PRISM. GenAI Prism by JESS3 and Brian Solis. Disponível em: https://jess3.com/projects/genaiprism/ Acesso em: 28 set. 2025.
- LOPES, André. Token e Embedding: conceitos da IA e LLMs. OpenAI Platform. Disponível em: https://platform.openai.com/tokenizer. Acesso em: 28 set. 2025.
- OPENAI. Assistants API Documentation. Disponível em:https://platform.openai.com/docs/guides/agents Acesso em: 28 set. 2025.
- SILIS, Brian. GenAI Prism Framework for Generative AI. Disponível em: https://briansolis.com/. Acesso em: 28 set. 2025.
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