Com organoides que reproduzem o trato respiratório de galinhas, pesquisadores eliminam a necessidade de infectar animais e aceleram o desenvolvimento de antivirais. / Foto: Divulgação
[FLORIANÓPOLIS, 04.06.2025]
Redação SC Inova, com informações da Fapesc
Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveram, pela primeira vez no Brasil, organoides capazes de simular infecções causadas pelo vírus H5N1 — causador da gripe aviária — sem a necessidade de infectar animais vivos. A tecnologia, inédita no país, permite estudar o comportamento do vírus em condições laboratoriais seguras e com menor custo, representando um avanço crucial para a prevenção de surtos que ameaçam não apenas a saúde animal, mas a economia de estados como Santa Catarina, líder nacional em exportações de carne de frango.
A simples detecção do vírus em uma única ave pode levar ao abate preventivo de milhares de animais, com perdas bilionárias para o setor e riscos à segurança alimentar. “O grande risco da gripe aviária vai além da saúde animal. Ela compromete cadeias inteiras de produção e exportação. Com os organoides, conseguimos testar cenários e medicamentos em tempo real, sem precisar de instalações de alta biossegurança e sem sacrificar aves”, explica o professor e virologista Ricardo Castilho Garcez, coordenador do projeto.
Os organoides são estruturas tridimensionais cultivadas em laboratório que imitam a função e a arquitetura dos alvéolos pulmonares das aves. Podem ser utilizados em placas de Petri para simular centenas de condições diferentes ao mesmo tempo. “Podemos aplicar uma substância e observar os efeitos quase imediatamente. Isso acelera o desenvolvimento de antivirais e reduz os custos de pesquisa. É um modelo com alto potencial para transformar o modo como o Brasil estuda doenças respiratórias em aves”, afirma Garcez.
A ideia surgiu de forma inusitada: diante da escassez de embriões de galinha, até então usados como modelo biológico no laboratório da UFSC, a equipe buscou doações em granjas da região. Foi em uma dessas visitas, em Lauro Müller, que surgiu a proposta de retribuir com ciência a colaboração recebida do setor agropecuário. Da parceria informal nasceu uma solução de alta tecnologia com impacto direto na principal cadeia produtiva de proteína animal do estado.
O projeto é um dos 273 contemplados pelo edital 21/2024 do Programa de Pesquisa Universal, da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), que destinou R$ 57 milhões para iniciativas com foco em inovação, sustentabilidade e impacto social. “Sem esse apoio, o projeto não sairia do papel. Os reagentes são caros, os equipamentos precisam ser importados. A Fapesc enxergou a importância e apostou na nossa proposta”, destaca o professor.
Atualmente, os pesquisadores já reproduziram estruturas semelhantes às do sistema respiratório das galinhas. A próxima etapa é confirmar a presença e organização de todos os tipos celulares necessários e, então, iniciar os testes com o vírus H5N1 em parceria com o Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz, no Paraná. A expectativa é de que os resultados ajudem a estabelecer um novo protocolo de pesquisa para doenças respiratórias aviárias, com mais agilidade, precisão e menor custo logístico, especialmente em regiões que não contam com laboratórios de alta contenção biológica.
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