A pesquisa de tendências e tecnologias em mercados diversos pode ser fonte de ideias para produtos na sua área. A inovação não precisa partir do zero e pode acontecer na adaptação de tecnologias ou produtos para novos usos. / Imagem: Reprodução Bing Image Creator
[13.09.2023]
Por Giancarlo Proença, diretor executivo da Link Estratégia, CI Director da Software Pricing Partners e LATAM Regional Manager do Bennion Group.
Escreve mensalmente sobre Inteligência Competitiva no SC Inova.
Isaac Newton disse “se eu vi mais longe foi por estar sobre ombros de gigantes”. Essa percepção de que conhecimento novo é fruto de descobertas anteriores é comum nas ciências. Mas e nas startups? Inovação muitas vezes é percebida no ambiente corporativo como algo único, uma ideia original. Mas raramente isso acontece.
Na maior parte das vezes, o que consideramos grandes inovações é produto da convergência de tecnologias ou práticas já existentes. Um bom exemplo é o aplicativo de namoro Tinder. Quando foi fundado, em 2012, já existia o Grindr, que é basicamente a mesma proposta, mas voltada para a comunidade LGBTI+.
O Grindr é de 2009 e foi o primeiro a aplicar o conceito de deslizar para a direita para aceitar o contato e para a esquerda para dispensar. Também foi o primeiro a usar geolocalização para mostrar pessoas próximas para “dar match”. O que os fundadores do Tinder fizeram foi pegar a mesma ideia e aplicar para um público diferente.
Empresas e empreendedores podem usar métodos e técnicas de Inteligência Competitiva e de Mercado (IC&M) para desenvolver essa capacidade de inovar. A IC&M faz isso basicamente de duas formas: olhando para tendências e conectando especialistas de diversos campos de conhecimento.
Novas ideias podem surgir em qualquer lugar. Por isso, um monitoramento de tendências voltado a inovação deve ser aberto e não focar exclusivamente em um ambiente competitivo. Há algum tempo (e só por isso eu posso dar esse exemplo sem prejudicar o cliente), atendemos uma empresa global de cosméticos cuja demanda, originada na área de P&D da empresa, era identificar tendências que pudessem afetar o negócio no futuro.
Logo no início, a cientista que foi nosso ponto de contato durante todo o projeto topou a abordagem aberta que propusemos. Nosso relatório apontava tendências como o desenvolvimento de veículos autônomos e a massificação da impressão 3D. À primeira vista, veículos autônomos e impressão 3D pouco ou nada tem a ver com cosméticos.
Mas a partir do momento em que os veículos ganharem em autonomia, mais pessoas devem começar a se maquiar no caminho para o trabalho, por exemplo. Estojos de maquiagem que possam ficar guardados no porta-luvas do carro, sem risco de derreter ou congelar em climas extremos (outra tendência apontada no relatório), serão valorizados por esse público.
A tecnologia hoje usada em impressão 3D pode ser aplicada para produzir cosméticos sob medida para atender ao tipo de pele de cada cliente. Pequenas estações domésticas podem inclusive imprimir cremes específicos conforme a previsão do tempo para o dia, com mais capacidade de hidratação para dias secos e protetor solar para dias ensolarados.
INOVAÇÃO VEM DA COMBINAÇÃO DE MAIS DE UM CAMPO DE CONHECIMENTO
Chegar a esses insights só foi possível depois de conversarmos – por meio de entrevistas em profundidade – com especialistas em diversos campos de conhecimento. Esse movimento de abrir o foco de um estudo de tendências ajuda a criar um ambiente criativo. Empresas que empreguem pessoas com diferentes formações e histórias de vida se beneficiam disso. Um relatório de Inteligência como o do exemplo, idealmente, deve circular entre diversas áreas da empresa. Mais insights surgirão a partir daí.
Já para os empreendedores que estão em busca de novas ideias, a dica é estar sempre atento às tendências buscando conectar os efeitos dessas tendências com seu próprio campo de atuação. Normalmente temos ideias melhores – e com mais chance de sucesso – dentro de nossa área de expertise. Mas, geralmente, as sacadas mais inovadoras são fruto de combinação de mais de um campo de conhecimento.
Uma boa dica é dar chance para todas as ideias, as boas e as ruins. O processo criativo tem muito a ver com quantidade. O psicólogo Dean Keith Simonton, em seu livro Origins of Genius, afirma que os inovadores são bem-sucedidos porque produzem muito. Quem tem muitas ideias tem mais chances de que as boas realmente tenham potencial de virar um produto ou serviço inovador.
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