Roteiro foi motivado pela realização de um Planejamento de Ecossistemas Locais de Inovação (ELI) organizado pelo Sebrae/SC em 17 cidades de nove regiões catarinenses. / Foto: Divulgação
[25.10.2022]
Por Marcus Rocha, Conselheiro e Especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação. Escreve quinzenalmente sobre o tema no SC Inova.
Entre os dias 26 e 30 de setembro de 2022, o Sebrae de Santa Catarina realizou uma missão técnica em Portugal, cujo roteiro e agenda foram organizados pelo autor desta coluna. O elemento motivador foi a realização do Planejamento de Ecossistemas Locais de Inovação (ELI) por parte do Sebrae/SC em nove regiões do Estado, alcançando mais de 17 municípios diferentes.
O artigo anterior contextualizou como funciona essa metodologia do do Planejamento de Ecossistemas Locais de Inovação (ELI) desenvolvida pelo Sebrae/SC. Também descreveu os principais acontecimentos e informações coletadas nos dois primeiros dias da missão, que esteve em Matosinhos, Porto e Braga. Agora, este artigo conta o que aconteceu nos outros três dias da missão, que se dirigiu rumo a Lisboa.
DIA 3 – LISBOA
Pela manhã, a missão visitou a Agência Nacional de Inovação (ANI), órgão do Governo de Portugal que faz a integração entre as ações de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) tecnológico desenvolvidas pelas instituições de educação e pesquisa básica, sob a liderança da Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT), com as demandas de mercado coordenadas pelo antigo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas, hoje chamado de Agência para a Competitividade e Inovação (IAPMEI). A missão foi recebida pela Presidente do Conselho da ANI, Joana Mendonça, e também pela Diretora de Promoção Internacional, Ana Mafalda Dourado.
A maior parte do orçamento que a ANI disponibiliza para financiar projetos vêm dos chamados “Fundos Comunitários”, ou seja, disponibilizados pela Comunidade Europeia. Para a execução dos projetos para o desenvolvimento de inovações, por meio dos editais da ANI, o principal desafio da entidade é garantir a coordenação entre os diferentes atores envolvidos. Como a maioria dos projetos têm altos graus de inovação e complexidade, o número de stakeholders envolvidos é grande e, por isso, é necessária uma atenção especial na gestão, para garantir que esse tipo de risco esteja sob controle.
As áreas temáticas dos editais lançados pela ANI não são definidas pela própria entidade, mas vêm das demandas apresentadas pelos diferentes Ministérios do Governo de Portugal, e também de outros parceiros. Nesse sentido, os temas mais frequentes têm sido: Energia; Descarbonização; Biotecnologia e Saúde.
Nesse sentido, o elemento que “destravou” a inovação em Portugal e na Comunidade Europeia em geral foi o trabalho integrado entre Empresas e Universidades. As empresas de médio e pequeno porte têm contato com a mediação de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) para a interlocução e trabalho com as Universidades. Já as empresas de grande porte, via de regra, têm estabelecido seus programas de inovação diretamente com as instituições de ensino superior, apesar de que algumas também têm trabalhado com ICTs.
Para facilitar essa integração foram criados 35 laboratórios colaborativos, distribuídos por todo o país e que envolvem 290 organizações, sendo 46% delas empresas. Com isso, nota-se que tem crescido a contratação de doutores e doutorandos para desenvolver trabalhos para demandas específicas de empresas. Recentemente foram registradas mais de 640 contratações nesse sentido em Portugal.
A ANI avalia que os projetos executados com recursos da entidade têm colaborado positivamente com o desenvolvimento econômico de Portugal. A boa qualidade desses projetos têm sido garantida por uma rede de consultores especializados, que podem ganhar por serviço prestado ou por taxa de sucesso. Para isso, a ANI faz sessões regulares para a formação desses consultores, especialmente para capacitá-los na submissão de projetos para mecanismos internacionais, o que também beneficia a qualidade dos projetos submetidos aos editais nacionais.
A ANI não faz investimento direto em startups, mas possui o programa de incentivo fiscal SIFIDE, que apoia iniciativas de P&D realizadas por empresas de grande porte, que podem trabalhar em conjunto e investir em startups. Apesar de não mencionar explicitamente as startups, o Governo de Portugal estabeleceu em 2018 um mecanismo de isenção de Imposto de Renda para trabalhadores micro ou pequenas empresas constituídas há menos de seis anos e que desenvolvam a sua atividade no âmbito do setor da tecnologia.
Assim, estima-se hoje que os investimentos em atividades de P&D em Portugal representam algo em torno de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Aqui no Brasil, segundo informações do MCTIC, nosso investimento médio anual em P&D está ao redor de 1% do PIB.
No período da tarde a missão seguiu para o Hub Criativo do Beato (HCB), onde foi recebida por José Mota Leal, Diretor responsável pela gestão do empreendimento. Com cerca de 50 mil m2 distribuídos por 18 edifícios, o HCB está instalado em um antigo complexo fabril do Exército Português, onde se fabricava de tudo para as forças armadas do país – alimentos, fardas e até mesmo munições. Desativado na década de 2000 e entrando em processo de degradação, o espaço foi cedido para a Câmara (Prefeitura) de Lisboa em 2016 por um prazo de 50 anos.
Com isso, a Associação Startup Lisboa, que também opera na cidade uma incubadora de startups bastante conhecida, foi designada e contratada para a gestão do projeto do HCB, com a missão de transformá-lo em um polo de atração de negócios da nova economia, pautada na inovação. Dessa forma, o HCB irá oferecer diversos espaços de trabalho, juntamente com áreas de lazer, serviços e programação cultural contínua, para atrair investimentos e negócios em 4 eixos principais: Empreendedorismo; Indústrias Criativas; Inovação & Conhecimento; Startups, Scaleups & Global Companies.
Algumas pessoas do Sebrae/SC e também o autor deste artigo já estiveram no HCB em anos anteriores, especificamente 2018 e 2019. Naquelas visitas, havia pouco progresso para ser visto. Desta vez foi diferente, pois houve uma evolução expressiva. O espaço deve iniciar suas atividades em no máximo 2 meses e já é possível verificar que algumas operações estão quase prontas. Segundo relato dos responsáveis pelo HCB, já se percebe inclusive um movimento imobiliário no entorno, com valorização expressiva das habitações.
Mesmo com o modelo de cessão com prazo máximo de 50 anos, conforme o acordo com o Governo de Portugal, o HCB já têm 15 dos 18 edifícios contratados, com organizações como a Factory, uma das maiores incubadoras europeias; o Super Bock Group, uma das principais cervejarias de Portugal, que terá no espaço a cerveja artesanal Browers Beato; a Delta Cafés; e a própria Startup Lisboa.
Ainda no Hub Criativo do Beato, a missão foi recebida pelo Pedro Teixeira, Gerente de Projetos e Parcerias da Startup Lisboa, uma Associação Privada sem fins lucrativos que foi criada em 2012. Seus fundadores foram a Câmara (Prefeitura) de Lisboa, o IAPMEI e o Banco Montepio.
Desde seu início a Startup Lisboa opera uma incubadora de startups que, provavelmente, é a mais importante do país. São lançadas 3 chamadas anuais para incubação, para receber até 30 startups em cada vez. O modelo de incubação é residente ou não-residente, a critério de cada startup selecionada.
O modelo de financiamento da Incubadora da Startup Lisboa é interessante e busca a auto sustentação da operação. As receitas são oriundas principalmente da prestação de serviços, prioritariamente para as startups incubadas, mas também para empresas de maior porte que estejam interessadas em desenvolver atividades de inovação em parceria com startups. Quando necessário, a Startup Lisboa busca a complementação de recursos externos, na maioria oriundos de organizações públicas, para garantir seus compromissos financeiros, o que nunca passou de 30% das necessidades de recursos da incubadora.
Um ponto interessante, que converge com outras organizações visitadas durante esta missão, é que a Incubadora da Startup Lisboa também não adota uma definição padrão de startup. No entanto, para a seleção das incubadas, 2 critérios são fundamentais: alto nível de inovação; e alto potencial de escalabilidade.
DIA 4 – CASCAIS E OEIRAS
A manhã do 4º dia da missão teve como destino a Escola de Negócios e Economia da Universidade Nova de Lisboa, mais conhecida como Nova SBE (School of Business and Economics). O novo campus, inaugurado há pouco mais de 2 anos, está localizado em Carcavelos, uma localidade pertencente ao Município de Cascais, vizinho a Lisboa.
A Nova SBE é uma das escolas da Universidade Nova de Lisboa, que é pública. No entanto, para a construção e gestão desse novo campus em Carcavelos, foi criada uma Associação Privada sem Fins Lucrativos, da qual a Universidade é uma das principais mantenedoras. A escola oferece 3 cursos de graduação, 13 cursos de pós-graduação, 10 programas de mestrado, 5 programas de mestrado executivo, e 2 programas de doutorado. Segundo o mais recente ranking do Financial Times, a Nova SBE é a 15ª melhor escola de negócios do mundo.
Mesmo sendo uma universidade pública, os cursos não são gratuitos. Os cursos de graduação são subsidiados em 50% pelo Governo de Portugal, devendo os estudantes arcar com a outra metade, que equivale a aproximadamente 1.100 euros por ano. Os cursos de pós-graduação e de capacitação executiva são todos pagos sem subsídios, mas a universidade oferece diferentes mecanismos de financiamento para os estudantes.
A Nova SBE é uma escola totalmente internacional, onde 65% dos alunos são estrangeiros. Com isso, a maior parte das disciplinas dos cursos de graduação são oferecidas em inglês e todas as disciplinas dos demais cursos são realizadas nesse idioma. A universidade também tem uma preocupação especial em relação ao corpo docente: para garantir pluralidade de conhecimentos e trazer o máximo de experiências de outras fontes, professores formados na própria instituição – especialmente com doutorado – devem esperar pelo menos 10 anos para estarem aptos a lecionar lá.
Após um tour pelo campus, a missão foi recebida pelo Rui Coutinho, Diretor Executivo do Innovation Ecosystem da Nova SBE, braço de extensão da universidade que é mantido por uma outra instituição privada sem fins lucrativos, também criada especificamente para essa finalidade. O foco do Innovation Ecosystem está em soluções disruptivas, e hoje a iniciativa apoia 100 startups, de forma residente ou não, em diferentes estágios de maturidade, desde a ideação até a tração de mercado. Cerca de 90% dessas startups foram criadas a partir de projetos dos alunos da instituição, já tendo recebido mais de 35 milhões de euros em investimentos, gerando mais de 350 postos de trabalho.
As atividades do Innovation Ecosystem não consideram especificamente pré-incubação ou incubação, pois os conteúdos e serviços relacionados ao empreendedorismo inovador já são contemplados pelas atividades acadêmicas desenvolvidas nos programas de ensino. A aceleração e o investimento são desenvolvidos a partir da rede com alunos e ex-alunos dos mestrados e dos programas de educação executiva (que são executivos de mercado) e com as empresas parceiras do Innovation Ecosystem. Áreas prioritárias para inovação consideradas lá são: Finanças; Finanças sustentáveis; Cidades Inteligentes; Saúde e Bem-estar; Economia do espaço, do meio-ambiente e dos oceanos; Hospitalidade e jornada do consumidor com foco no turismo.
A participação de empresas no Innovation Ecosystem se dá a partir de um diagnóstico inicial, para criar uma jornada individualizada de acordo com a realidade de cada empresa. Basicamente, a jornada considera 4 vetores de inovação aberta: com Pesquisadores da própria universidade, para P&D; com Estudantes, para projetos acadêmicos de empreendedorismo; com Startups, para aceleração; e com outras Empresas similares ou com potencial de parceria, para networking.
Assim, a parceria com a Nova SBE ocorre por diferentes caminhos, nos laboratórios de inovação instalados na universidade. Algumas dessas empresas inclusive abrem suas tecnologias para uso pelos alunos (a qualquer momento) e pelos professores (para aulas), para permitir insights de novos modelos de negócios. Por esse serviço, cada empresa paga uma mensalidade (“membership”) de acordo com o programa que foi especificamente desenhado conforme suas estratégias e necessidades para desenvolver sua jornada em inovação.
Dentre os laboratórios do Innovation Ecosystenam chamou a atenção o Cyberpod, especializado para o desenvolvimento de táticas de prevenção e contenção em casos de ataques cibernéticos, para a capacitação de executivos. Isso também permite fazer a capacitação tecnológica dos alunos de uma forma diferente. Mesmo que a Nova SBE não seja uma escola de tecnologia, os executivos precisam cada vez mais entender as tendências tecnológicas e as aplicações práticas das novas tecnologias.
Outro ponto de destaque é o fato de que o próprio campus da Nova SBE é um Living Lab, um laboratório vivo para o teste de inovações. Uma das primeiras lojas autônomas da rede de supermercados Pingo Doce, uma das principais de Portugal, foi instalada dentro do campus da Nova SBE.
Ao final da visita se falou sobre a integração com o Brasil. Foi destacado o recente acordo firmado com a escola de negócios da Fiesc. O Innovation Ecosystem da Nova SBE também está planejando criar um programa de intercâmbio de startups no modelo de residência, com duração entre 3 e 6 meses, e Santa Catarina está no radar desta iniciativa.
Em seguida, a comitiva se dirigiu ao município de Oeiras, vizinho a Cascais. Lá foram recebidos pela Vice-presidente da Câmara Municipal (equivalente ao cargo de Vice-Prefeita), Joana Baptista, que surpreendeu a todos com um exemplo de inovação relacionado à indústria do vinho. A municipalidade de Oeiras ressuscitou um vinho local com denominação de origem (indicação geográfica), o chamado Vinho de Carcavelos, que estava extinto.
Trata-se de um tipo de vinho fortificado, tal qual o vinho do Porto, que parou de ser produzido no século passado. Identificando uma oportunidade de incentivar o desenvolvimento da indústria vinífera local, a Câmara (Prefeitura) investiu inicialmente na pesquisa histórica da região geográfica, dos tipos de uvas e dos processos produtivos. Em seguida, desenvolveu novas tecnologias para o plantio, colheita e produção do vinho, cuja primeira safra foi colhida em 2007.
Além de uma aula sobre inovação em um setor pouco conhecido pelos membros da missão, foi possível também provar dois tipos do Vinho de Carcavelos, produzidos pela Câmara de Oeiras com o nome “Villa Oeiras”: o vinho envelhecido por 7 anos (safra de 2015) e o envelhecido por 15 anos (safra de 2007).
Os membros da missão também conheceram a História recente da cidade de Oeiras, que na década de 1980 era uma “cidade dormitório” da periferia de Lisboa. Hoje, é uma das cidades mais ricas de Portugal, com a maior proporção de graduados, mestres e doutores. A cidade também conta com 4 parques empresariais tecnológicos que abrigam grandes empresas: Taguspark; Arquiparque; Quinta da Fonte; e Lagoas Park.
A comitiva visitou o Parque dos Poetas e, em seguida, conheceu as novas iniciativas da Parques Tejo, empresa pública responsável pelas ações relacionadas ao âmbito das Cidades Inteligentes, com foco no ambiente urbano. Os membros da missão foram recebidos pelo Presidente da empresa, Rui Rei, que falou sobre diferentes ações no curto prazo para melhorar os serviços de estacionamento, transportes públicos, micro-mobilidade com patinetes e bicicletas compartilhadas, e carregamento de veículos elétricos. Para o futuro, estão previstas ações para a instalação de sensores e equipamentos de conectividade para melhorar a gestão do ambiente urbano do Município de Oeiras.
Nesse dia, a agenda da missão fechou com a visita ao Taguspark, maior parque empresarial tecnológico de Portugal. Lá todos foram recebidos pelo CEO Eduardo Baptista Correia, que iniciou sua fala contando da constituição do parque, que é propriedade da TAGUSPARK, S.A. – Sociedade de Promoção e Desenvolvimento do Parque de Ciência e Tecnologia da Área de Lisboa, S.A., uma por uma empresa privada fundada em 1992, com acionistas institucionais privados e públicos. O primeiro acionista foi a Câmara de Oeiras, que ainda detém 19% do capital dessa empresa.
A área do Taguspark possui 300 hectares e atualmente o parque está com 40% de ocupação. A estratégia de ocupação considera 2 tipos de contratos. Os terrenos mais periféricos são vendidos. Já as áreas principais são comercializadas na forma de cessão de direitos de superfície por 50 anos, ou no modelo Build to Suit, para locação de imóveis construídos sob medida para os locatários. Independentemente do tipo de relação com os ocupantes do espaço, sempre é seguido o plano de ocupação do parque. Há cerca de 160 empresas instalados no parque atualmente.
O parque conta com um campus de uma universidade “âncora”, o Instituto Superior Técnico, uma das mais tradicionais escolas de engenharia do país. O Taguspark também mantém uma das principais incubadoras de Portugal, que hoje abriga 30 startups. Das 3 startups unicórnios criadas em Portugal, 2 delas passaram pela incubadora do Taguspark: Farfetch e Talkdesk.
O programa de incubação de startups do Taguspark oferece apoio em serviços de marketing, gestão e vendas, principalmente. A contrapartida da startup é feita na forma de uma opção de compra (call option) de uma fração do capital social (não superior a 5%), com valor simbólico.
Um dos principais objetivos do Taguspark é ser o “Parque empresarial mais cívico da Europa”. Para isso, se apoia nos seguintes pilares: lixo zero; energia; economia circular; e dignidade laboral para todos (inclusive prestadores de serviços terceirizados). A promoção da arte e da cultura também é uma das prioridades no ambiente do parque. Percebe-se a presença constante de esculturas nas áreas externas; grafites nas áreas internas; exposições de arte e de acervo histórico a todo o tempo, em vários locais.
Mesmo sendo um empreendimento consolidado e com crescimento constante, até pouco tempo atrás, havia pouca interação entre as empresas residentes no parque. Isso se modificou de uns 5 anos para cá, a partir de eventos e outras ações de integração, que passaram a ser promovidos pelos gestores que assumiram a direção do Taguspark na época.
DIA 5 – DE VOLTA A LISBOA
O quinto e último dia da missão esteve novamente em Lisboa, iniciando pela visita ao campus central do Instituto Superior Técnico (IST), onde a comitiva foi recebida pela professora Susana Relvas. Maior escola de engenharias de Portugal, o IST possui 23 Centros de Pesquisa, com 720 Doutores. Para o desenvolvimento de pesquisas e parcerias para P&D com maior agilidade e menor burocracia, pois o IST também é uma instituição pública, foi criado o IST-ID, uma Associação privada sem fins lucrativos caracterizada como Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT). O IST-ID utiliza como principais recursos horas de professores e bolsistas do IST, possui 570 projetos de P&D ativos com investimentos de mais de 33 milhões de euros. No âmbito do programa H2020 da comunidade europeia, o IST recebeu investimentos de 38 milhões de euros, e também recebeu cerca de quase 40 milhões de euros para 158 projetos com financiamento da Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT) do Governo de Portugal.
Nota-se que o IST trabalha com excelência na criação de novos produtos por meio dos projetos de P&D, o que origina uma geração intensiva de patentes de invenções. No entanto, o IST ainda não consegue captar valor dessas patentes. Para isso, está em andamento uma iniciativa para integrar as patentes novas ou existentes com projetos de empreendedorismo dos alunos e pesquisadores, para transformar as patentes de invenções em inovações com utilidade para a sociedade e para diferentes mercados.
O IST terá uma equipe no Hub Criativo do Beato, para a realização de pesquisas de desenvolvimento de produtos para Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC). A universidade gerou mais de 50 empresas inovadoras, algumas delas de grande porte. A criação dessas empresas é incentivada nos trabalhos de conclusão de curso, em nível de pós-graduação ou graduação, com prioridade para as seguintes áreas: TIC; Aeronáutica e Espaço; Robótica, Automação; Eletrônica e Visão Computacional; Biotecnologia e Engenharia Biomédica; Energias limpas e Meio-ambiente.
O IST ainda não possui incubadora para as startups criadas por seus alunos, mas está construindo um centro de inovação que deverá abrigar esse tipo de iniciativa. O Técnico Innovation Center está sendo construído em um imóvel que foi cedido pela Câmara (Prefeitura) de Lisboa para o IST. O prédio que foi construído no início do século passado e que abrigava uma estação ferroviária, teve apenas parte da sua fachada preservada, sendo que todo o interior está sendo construído do zero, com um investimento de mais de 10 milhões de euros.
O ambiente estará aberto 24 horas, e suas operações estarão pautadas em 3 pilares: Ensino Superior; Pesquisa e Inovação; Transferência de tecnologias. O ambiente quer ser um veículo para gerar soluções duradouras, com espaço atrativos, flexíveis e multifuncionais, seguindo a tendência de habitats de inovação de todo o mundo. Mesmo muito antes de estar pronto, o Técnico Innovation Center já possui 20 parceiros empresariais, com destaque para Santander, Accenture, Vodafone, Cisco, BCG, KPMG, McKinsey, e Capgemini.
No período da tarde, a missão seguiu para conhecer a startups Unbabel, que foi fundada em 2013 e é especializada em tradução realtime. A comitiva foi recebida por Paulo Dimas, Vice-presidente de Inovação da empresa, que iniciou falando sobre os casos de sucesso da Skyscanner e da Easyjet, esta última que é uma empresa holandesa que não só atendia seus clientes em inglês.
Com a adoção da tecnologia Unbabel na comunicação em texto (chat, e-mails, etc.), a Easyjet conseguiu atender a maior parte dos seus clientes em seus idiomas nativos, sendo que a equipe de retaguarda foi movida para a Índia e só trabalhava em inglês. Com esse movimento, a empresa economizou 76% e melhorou a satisfação dos clientes holandeses em quase 5%.
A Unbabel participou do programa de aceleração da Y-combinator no vale do silício em 2014. Isso viabilizou a conquista dos primeiros clientes importantes, como a Pinterest. Segundo a empresa, além das conexões com o mercado, empresas de alta tecnologia precisam manter permanentemente conexões com universidades e centros de pesquisa que estão na liderança das pesquisas sobre o tema da startup. No caso da Unbabel, que trabalha fortemente com Inteligência Artificial, estar conectada a universidades como MIT e Carnegie Melon, que são referências nesta área do conhecimento, é algo fundamental para o seu sucesso.
Um dos maiores desafios da Unbabel para inovar nos seus produtos é melhorar cada vez mais a qualidade das suas traduções, que precisam ser cada vez mais adequadas ao contexto, à área de conhecimento em questão, e obviamente aos idiomas envolvidos. A empresa também tem colaborado, junto com outras organizações, em um centro de pesquisa para a inteligência artificial, que possui orçamento de 82 milhões de euros e trabalha com pelo menos 10 startups, sendo 2 delas unicórnios. O objetivo da Unbabel com esse centro de pesquisa é melhorar a precisão para traduções para áreas de conhecimento críticas tais como Saúde. Também querem reduzir o viés indesejado em traduções, principalmente em questões relacionadas a gênero, raça, religião, etc.
Por fim, a missão se dirigiu à Sensei Tech, uma startup com 5 anos de existência e que desenvolve soluções tecnológicas para lojas 100% autônomas. A comitiva foi recebida na loja conceito da empresa pelo Nuno Torres, Gerente de Desenvolvimento de Negócios, que contou que a Sensei passou inicialmente pela aceleradora Techstars da Alemanha, onde começou como uma plataforma de dados analíticos para estabelecimentos de varejo. A partir da participação nesse programa, resolveu pivotar e partir para o segmento em que opera hoje com sucesso.
A startup conta hoje com uma equipe de 52 pessoas, e está iniciando seu caminho de internacionalização, na Europa e também no Brasil, onde a primeira loja com tecnologia Sensei deve ser inaugurada nos próximos meses, para uma rede de supermercados ainda não divulgada (por sigilo contratual).
A Sensei não terá lojas próprias, pois quer ter foco na tecnologia que é vendida para operadores de lojas de supermercados. A tecnologia da startup é adequada às normas da GDPR (Lei de Proteção de Dados Pessoais da Comunidade Europeia) e, assim, não há identificação das pessoas que entram nas lojas, que são apenas vistas como “humanos anônimos” com um carrinho digital. A identificação só ocorre no momento do pagamento, e apenas se o cliente utilizar aplicativo específico para smartphone. Caso o pagamento seja feito em dinheiro ou cartão, não há nenhum tipo de identificação.
Conforme foi dito aos membros da missão, a tecnologia da Sensei possui redundância tripla, considerando câmeras com visão computacional, diferentes sensores, além do mapa digital de produtos da loja, levando a um índice de precisão superior a 99%. Atualmente, o investimento para instalar a tecnologia da Sensei em um supermercado está em torno de 600 a 1.200 euros por m2. Após a aquisição é cobrada uma mensalidade para o software de automação da loja.
A startup neste momento está buscando a implantação em lojas chave de parceiros com alta visibilidade. Dessa forma, além de se posicionar com destaque no mercado, a Sensei também quer relações duradouras com os clientes supermercadistas e os parceiros locais que implantam, dão suporte e manutenção para a tecnologia. A partir dessa estratégia, a empresa quer iniciar sua jornada de escalabilidade e, para isso, está também na busca de sua primeira rodada de capital empreendedor – série A.
MISSÃO CUMPRIDA
A partir do relato compartilhado nesses dois artigos no SC Inova, o leitor irá perceber que foi uma jornada intensiva, com agenda cheia de compromissos que geraram muito aprendizado para todos os presentes. Importante deixar registrado todo o apoio prestado pelo CEiiA, especialmente pela CTO Helena Silva e pelo Diretor do CEiiA by Colab, Vladimiro Cardoso Feliz.
O autor desta coluna espera que a agenda da missão tenha atendido às expectativas do Sebrae/SC e dos Ecossistemas de Inovação de Santa Catarina que se fizeram representados. Que, a partir dos novos conhecimentos e conexões gerados, tenhamos mais parcerias e inovação, trazendo ainda mais desenvolvimento para o nosso estado e o nosso país.
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