[OPINIÃO] Open data como fonte de inovação – o trigo que se cuide

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[OPINIÃO] Open data como fonte de inovação – o trigo que se cuide

A tecnologia tem criado “insumos” que tendem a ser base do desenvolvimento de produtos e serviços que ainda não conseguimos sequer imaginar

A tecnologia tem criado “insumos” que tendem a ser base do desenvolvimento de produtos e serviços que ainda sequer conseguimos imaginar – assim é o 5G, a inteligência artificial e a cultura de dados abertos. / Imagem: Shahadat Rahman (Unsplash


[13.10.2022]


Por Edgard Usuy, diretor de Relações Governamentais da ADVB/SC e CEO da Integra Relgov

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Trigo, o início do seu cultivo se deu na Mesopotâmia 10.000 a.c, os primeiros biscoitos nasceram no Egito, dois mil anos depois o cultivo se espalhou para a China e lá surgem o macarrão e o pastel. No século 9, os árabes teriam levado o macarrão para a Itália e, a partir de então, aparecem a pizza, os bolos, os pães e todos os seus derivados. 

Mas, você deve estar se perguntando: qual a relação do trigo com “open data” (dados abertos), que é o foco deste artigo? Quando o cultivo do trigo começou, certamente não se imaginava que tantos produtos derivariam da planta. Essa é a conexão dos temas.

A tecnologia tem criado “insumos” que tendem a ser base do desenvolvimento de produtos e serviços que ainda sequer conseguimos imaginar. Assim é o 5G, a inteligência artificial e a cultura de “open data”. 

Porém, o que efetivamente são dados abertos? Open data consiste no acesso a informações produzidas pelo governo, derivadas de políticas e finanças públicas, processos e parcerias privadas, para que sejam utilizadas no desenvolvimento de produtos e serviços. 

Um exemplo produzido pelo governo e já aberto são os dados eleitorais. As pessoas votam, o poder público (TSE) recebe os votos e os transforma em dado anônimo, depois disso divulga qual o percentual de votos das pessoas daquela região em  “x” ou “y” candidatos.

Agora veja como esse dado aberto pode ser utilizado pela iniciativa privada. Imagine que um cidadão desenvolve um refresco com propriedades antivirais que combate à Covid e percebe que, segundo o poder público, na região onde ele tem sua fábrica, o eleitorado majoritariamente votou em um candidato que usa as cores preto e branco e seu principal adversário usa a cor marrom. Qual cor de embalagem seria melhor aceita pelos consumidores da região? Acertou quem disse preto e branco (o óbvio sendo dito, o que  necessário às vezes). 

Este é um exemplo tão superficial e simplório como os primeiros biscoitos feitos no Egito. Porém, imagine quais as ideias, inovações e conclusões serão tiradas quando os dados estiverem todos abertos.

POR QUE ESTIMULAR A CULTURA DE OPEN DATA

Por exemplo, quando os dados do IPTU e do ITBI estiverem abertos e mostrarem o estoque de terrenos, imóveis comerciais e residenciais, área, ano de construção, tipo de imóvel, geolocalização e valores transacionados. O poder público conseguirá planejar o crescimento daquela área, fiscalizar as construções, elaborar políticas de segurança, fluxo viário, saneamento e outros serviços à população. E a iniciativa privada terá subsídio para definir se a área necessita de mais uma clínica médica, um novo restaurante ou mesmo um parque de diversões. 

Imagine quando os dados da saúde forem abertos mostrando quantas pessoas foram atendidas naquela região, as enfermidades, faixa etária, medicações prescritas, renda, sexo. Quando os dados da educação forem disponibilizados apontando o número de alunos, evasão e ausência escolar, as dificuldades e facilidades de aprendizagem, as deficiências, a faixa etária.

Quando os dados de mobilidade, segurança, infraestrutura estiverem disponíveis e forem cruzados entre si teremos maior transparência nas ações públicas e um melhor diagnóstico da sociedade e suas características regionais. Assim, tanto os produtos e serviços públicos quanto privados, poderão ser melhor customizados atendendo de forma mais eficiente o cidadão consumidor. 

A cultura de dados abertos precisa ser estimulada. A abertura dos dados, respeitando o que determina a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), nos trará mais benefícios que nos trouxe o trigo. E convenhamos, a vida seria mais triste sem o pão, o macarrão e o pastel.


*A Associação de Dirigentes de Marketing e Vendas de Santa Catarina é parceira editorial do SC Inova do canal Inovação & Gestão, com artigos publicados quinzenalmente pelos diretores da entidades.

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