A especialização das incubadoras de startups

Voce está em :Home-Inovadores, Opinião-A especialização das incubadoras de startups

A especialização das incubadoras de startups

Cresce em Santa Catarina o modelo temático de apoio a negócios inovadores, que pode ajudar a encontrar parceiros, mentores e veículos de investimento.

Cresce em Santa Catarina o modelo temático de apoio a negócios inovadores, que pode ajudar a encontrar parceiros, mentores e veículos de investimento. / Foto: MIDITEC Sapiens (Divulgação)


[21.06.2022]


Por Marcus Rocha, Conselheiro e Especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação.

Esta coluna já escreveu há um tempo sobre a importância da especialização para o sucesso de centros de inovação. A partir do modelo proposto pela Rede Catarinense de Centros de Inovação, materializado em um Guia de Implantação, foi destacada a função “7 – Especialização Inteligente”, que visa a proporcionar o foco necessário para aumentar o potencial de sucesso de um centro de inovação.

Dentro de um centro de inovação há vários serviços interdependentes, em um mesmo local, No entanto, nem sempre é possível ter o espaço, ou todos os atores, para implantar todos esses serviços. Tal fato não deve ser um impedimento para a implantação de um conjunto menor de atividades. Como não há uma única “receita de bolo”, havendo oportunidade para implantar serviços individuais, ela deve ser sim aproveitada.

Muitas vezes, em ecossistemas de inovação imaturos, ou em verticais que ainda não possuem massa crítica para a produção de empreendimentos inovadores em quantidade e com qualidade, o caminho é começar por serviços nas etapas iniciais do desenvolvimento de negócios, como as incubadoras.

Já há alguns exemplos de incubadoras “temáticas”, ou seja, especializadas em determinada vertical de negócios. Um exemplo já citado nesta coluna está dentro do Fermento, o Centro de Inovação em Gastronomia e FoodTech criado pela unidade catarinense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, a Abrasel/SC. Lá existe desde o ano passado uma incubadora especializada em startups com soluções de interesse para a cadeia produtiva da gastronomia, que já conta com 6 empreendimentos incubados: Zeca; Paypow; Kaffa; Aqui Delivery; Notato; e Fazendas Bioma.

Recentemente foi anunciado o lançamento de mais uma incubadora temática, também em Santa Catarina. Criada pelo Sebrae/SC dentro do SEBRAEHUB, Ambiente de Inovação para o Desenvolvimento Territorial, e que será oficialmente inaugurado em breve, essa nova incubadora é especializada em startups GovTech. Considerando essa área de negócios, junto com o campo de atuação do Sebrae, esse novo serviço apoiará startups cujas soluções colaborem com a Transformação Digital da Administração Pública nos Municípios, para criar um ambiente mais amigável, seguro e próspero para o empreendedorismo.

Assim, soluções inovadoras para a digitalização de processos/documentos, relacionamento do poder público com cidadãos e/ou empreendedores, educação empreendedora, melhoria do ambiente empreendedor, entre tantas outras possibilidades, serão consideradas para incubação. Outro ponto importante é que o programa apoiará startups desde a fase de validação até a fase de escala, de forma não residente. Na página da incubadora é possível obter todas as informações, bem como realizar inscrições para o Bootcamp e para o próprio processo seletivo.

Um ponto em comum entre as incubadoras do Centro de Inovação Fermento/Abrasel é que ambas utilizam a metodologia MIDITEC. operacionalizada em conjunto pela Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) e o Sebrae/SC. Aliás, hoje são 9 incubadoras que utilizam essa mesma metodologia:

A metodologia MDITEC já apoiou 211 startups, sendo que 136 foram graduadas. O processo atualmente se divide em duas fases, com duração entre 12 e 36 meses, a depender do próprio desempenho de cada startup incubada. A primeira fase, chamada de ‘StartLab’, busca garantir a validação da solução e do modelo de negócio da startup para, em seguida, garantir a demanda do mercado, traduzida em vendas.

A segunda fase, chamada de ‘GrowthLab’ visa estabelecer um padrão de vendas e de escalabilidade e, alcançando esse objetivo, estruturar a empresa para crescer de forma rápida. Startups que percorrem com sucesso esse processo são “graduadas”, ou seja, estão prontas para deixar a incubadora para operarem de forma autônoma no mercado.

Importante destacar que existem outras incubadoras e metodologias de incubação igualmente bem-sucedidas em Santa Catarina. Aliás, a primeira incubadora do Brasil fica em Santa Catarina, o CELTA. Criada em 1986 sob o nome de Incubadora Empresarial Tecnológica (IET), o Celta já graduou mais de 90 empreendimentos inovadores. 

Representantes das seis startups selecionadas para o programa de incubação, que tem metodologia do MIDITEC/ACATE.
Representantes das seis startups selecionadas para o programa de incubação Fermento, iniciativa da Abrasel/SC e metodologia MIDITEC. / Foto: ACATE, divulgação

VERTICALIZAÇÃO AJUDA A CAPTAR PARCEIROS ESPECIALIZADOS

Voltando à questão da especialização, para as incubadoras isso pode ser um fator bastante importante. Primeiro, porque obviamente dá foco nos trabalhos e, de uma certa forma, facilita o trabalho de busca pelas startups. Mas a especialização também ajuda na busca por parceiros, que auxiliam tanto na seleção, quanto no próprio processo de incubação.

No caso da Incubadora GovTech do SEBRAEHUB, a Federação dos Consórcios, Associações e Municípios de Santa Catarina (Fecam) e Consórcio de Inovação na Gestão Pública (Ciga) são parceiros estratégicos. Somente esses dois parceiros permitem o acesso a mais de 300 municípios, uma rede de grande valor para as startups incubadas.

Outro ponto importante quando a incubadora de startups tem um foco bem definido é a busca por mentores. Além de pessoas capacitadas nas áreas de gestão comuns a qualquer organização (finanças, pessoas, marketing, vendas, etc.), é necessário ter profissionais com experiência real nos mercados-alvo das startups. Ao considerar uma vertical de negócios bem definida, o trabalho de montar um bom time de mentores também é favorecido com menor esforço.

Novamente no exemplo da Incubadora GovTech do SEBRAEHUB, tanto a parceria com Fecam e Ciga, quanto o próprio corpo técnico do Sebrae no Programa Cidade Empreendedora, proporcionam a rápida construção de uma rede de mentores de alta qualidade.

Um outro ponto importante para a especialização de incubadoras está relacionado a serviços externos relevantes. Um desses serviços são os “veículos de investimento”, que a todo tempo buscam oportunidades com potencial de sucesso (e lucro) – como os fundos de investimento em startups trabalham nessa busca por negócios a partir de uma tese de investimento, um documento que define e delimita os critérios básicos para a busca de empresas para receberem os aportes. 

Como boa parte das teses de investimento consideram verticais específicas de negócio, se houver convergência com a área de especialização de uma incubadora, há uma oportunidade natural de aproximação, especialmente para aqueles fundos que investem em negócios ‘early stage‘, ou seja, nos seus estágios iniciais.

É possível perceber que incubadoras especializadas têm maior potencial de decolar com maior velocidade, bem como de incubar startups de forma mais rápida também. No entanto, há um desafio importante a ser considerado nos ecossistemas: gerar a ‘matéria-prima’ para essas incubadoras, ou seja, criar mecanismos para gerar volumes constantes de empreendimentos inovadores. 

É aqui que entram as pré-incubadoras, que estimulam a geração de ideias inovadoras de negócios para a solução de desafios reais, garantindo a sua validação e estruturando planos que podem gerar empresas reais. E destaca-se que as pré-incubadoras também podem atuar de forma especializada e sinérgica com as incubadoras.

Portanto, por esses e vários outros motivos que o leitor pode estar pensando, é bastante interessante também especializar a atuação de incubadoras. Nesse sentido, é muito provável que surjam outras incubadoras de startups especializadas em determinadas verticais de mercado, ou que as existentes procurem dar mais foco às suas operações.

LEIA TAMBÉM: