Levantamento exclusivo mostra que os principais aportes – RD, Neoway e ContaAzul – representaram até 80% do total de capital de risco investido em Santa Catarina.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
As empresas de tecnologia com sede em Santa Catarina receberam, entre 2015 e 2018, um total de R$ 439,4 milhões em aportes de capital de risco, de acordo com levantamento feito pela Escola do Financeiro com exclusividade para o SC Inova, a partir de dados do CrunchBase, plataforma que lista as principais negociações no mercado de venture capital e private equity voltadas ao mercado de tecnologia.
Somente em 2018, o volume total de recursos captados por empresas catarinenses foi de R$ 115,8 milhões, abaixo dos R$ 178,6 milhões contabilizados em 2017. O total de deals também caiu: foram apenas 10 negócios em 2018 em comparação com os 16 realizados no ano anterior (ver quadro 1).
“Os valores dos últimos três anos foram puxados basicamente pelos investimentos dos fundos feitos, respectivamente, na Resultados Digitais (2016), Neoway (2017) e ContaAzul”, comenta Rodrigo Ventura, fundador da Escola do Financeiro. Em 2016, a RD recebeu um aporte de R$ 62 milhões (fundos TPG Growth, Endeavor Catalyst, Redpoint e DGF), que representou 67% do total de capital de risco investido em empresas catarinenses naquele ano. No ano seguinte, a Neoway subiu a régua após receber um total de R$ 145 milhões (fundos QMS Capital, PointBreak, Pollux e Andrew Prozes), o que significou 83% dos negócios em SC. Por fim, os R$ 100 milhões que capitalizaram a ContaAzul em 2018 (liderado pelo fundo Tiger Global Management) representaram uma fatia ainda maior do volume total de capital de risco aportado em SC: 86% (ver quadro 2).
UMA COMUNIDADE FORTE, MAS AINDA PEQUENA
Sem esses deals, o total de investimentos em empresas locais seria de aproximadamente R$ 30 milhões nos anos de 2016 e 2017, com uma queda acentuada em 2018, cerca de R$ 15 milhões. O que explica a redução do apetite de investidores no ecossistema de tecnologia catarinense?
“Nossa comunidade é forte, mas ainda pequena. E nos últimos anos não surgiram novos fundos locais”, avalia Ventura. “A Cventures ainda não lançou seu segundo fundo, enquanto a Bzplan começou a atuar também no Paraná. Além disso, os fundos Criatec 2 e 3 não tiveram tanta atuação em Santa Catarina quanto o Criatec 1 (gerido pela Inseed e com recursos do BNDES)“. Além disso, ressalta, “os fundos de outros estados e países são mais difíceis de serem acessados pela distância, além de serem mais exigentes e ter muito mais concorrência pelo dinheiro”.
O investimento de capital de risco é um modelo relativamente novo no ambiente de negócios de Santa Catarina. Entre 2011 e 2014, o volume total aportado nas empresas locais foi de R$ 48 milhões. O mercado “explodiu” em 2015, quando foi registrado o maior número de aportes desta década (21) e o volume total investido – R$ 51,8 milhões – superando os números dos quatro anos anteriores somados.
“Tínhamos excelentes equipes empreendedoras represadas, uma geração que recebeu dinheiro entre 2013 e 2017. Agora estamos vivendo uma entressafra, com novas equipe se formando, uma segunda geração de startups formada por ex-funcionários das maiores startups locais e dinheiro dos próprios empreendedores de sucesso“, analisa Ventura, que aposta num cenário de crescimento deste mercado nos próximos anos. “Essa combinação tem tudo para gerar um novo boom de investimento no estado”.
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