As empresas de tecnologia e todas aquelas que passam por transformações em seus modelos de negócio são as que mais demandam um cuidado especial com a saúde de seus profissionais, comentam executivos e empreendedores que vivem de perto essa realidade. Foto: Divulgação GoGood
Qual o papel da saúde e da atividade física na transformação digital?
A pressão por resultados e o desafio de se reinventar em uma era de disrupção de modelos de negócio e surgimento de novas tecnologias passa, diretamente, pela saúde física e mental de todos os envolvidos nas corporações.
O cenário se torna ainda mais dramático em função do aumento da taxa de obesidade no Brasil, que passou de 11,8% para 19,8% da população entre 2006 e 2018, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas, divulgada neste ano pelo Ministério da Saúde.
“A preocupação com a qualidade de vida dos colaboradores vai ser, cada vez mais, um papel dos CEOs“, argumenta Bruno Rodrigues, CEO e cofundador da startup GoGood, com sede em Florianópolis que desenvolveu uma plataforma de bem estar voltada ao mercado corporativo. “O aumento da obesidade e do sedentarismo tem impacto direto no absenteísmo, na produtividade, na cultura organizacional e no custo de saúde – e as empresas que oferecem ambientes mais saudáveis vão sair na frente”, resume.
Para Bruno, ex-atleta de karatê que ainda mantém a rotina de atividades físicas, a tecnologia terá um papel preponderante para ajudar estes CEOs a acompanhar a evolução física e de saúde dos colaboradores. Esta foi sua aposta ao criar, há quatro anos, o conceito de um ambiente digital que funciona como uma rede social, na qual os participantes estimulam uns aos outros a terem melhores hábitos de saúde.
A ideia foi comprada por grandes empresas como Santander, Ambev e Mercedes Benz e hoje são mais de 10 mil pessoas utilizando o aplicativo.
“Não à toa”, ele comenta, “temos visto muitos executivos se tornando maratonistas, tendo um nível de autocuidado muito grande, pois eles entendem que isso é necessário para uma produção em alto nível – só não sabem ainda como multiplicar isso para todos os times. Um dos nossos papéis é escalar esse autocuidado que o C-level já tem para toda a empresa”.
“A corrida fez muita diferença para mim. Quando sinto uma dificuldade cognitiva, coloco um tênis e parto para a corrida”, comenta Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis, uma das primeiras empresas a apoiar o desenvolvimento da plataforma da GoGood, no ambiente de inovação aberta LinkLab. “Depois do terceiro quilômetro, os problemas não existem mais e, no quinto quilômetro, eu já tinha encontrado as soluções”, explica.
Segundo ele, as empresas ligadas à área de tecnologia e as que estão passando por transformações em seus modelos de negócio são as que mais demandam um cuidado especial com a saúde. “A exigência do mercado cresce diariamente e a capacitação é mais do que intelectual, é física. Se os CEOs não olham isso, terão uma cultura de burnout e o resultado será uma empresa ‘neurótica’, cheia de doentes gerando um resultado insuficiente”, afirma.
Barbosa usa a própria experiência de ter passado por um processo de burnout há alguns anos e a saída foi adotar uma rotina de exercícios físicos, em especial a corrida. “Mais do que um hábito, a atividade física se tornou uma premissa para mim. Se todos na empresa conseguirem ter a mesma disposição e a mesma disciplina, ao longo do período elas vão entender os benefícios disso – e a empresa também”.
Nos últimos três anos, a imobiliária tem passado por um profundo processo de transformação digital, impactada por novas tecnologias, serviços e o desejo dos consumidores terem uma experiência mais satisfatória na hora de alugar ou comprar um imóvel. Desde o início de 2017, se tornou mantenedora do laboratório de inovação aberta da Acate, se conectou a diversas startups e tem desenvolvido com elas várias ideias e projetos com base em soluções tecnológicas.
Segundo o CEO, ter utilizado uma ferramenta como a da GoGood – que estimula os colaboradores não só a fazer exercícios individualmente, mas em grupo e também a melhorar a rotina alimentar e de sono – ajudou a impulsionar um novo mindset de inovação. Isso se explica pela neurogênese, o processo de desenvolvimento de novos neurônios por meio da atividade física.
“Quando iniciamos esse processo na empresa com o uso da plataforma, nos tornamos mais ágeis – era só casar a performance dos colaboradores no ambiente de trabalho com o desempenho nas atividades físicas, os dados mostravam uma relação direta”.
INOVAÇÃO: UM MARKETPLACE DE SAÚDE PARA COLABORADORES
Recentemente, a Brognoli começou a testar uma nova solução desenvolvida pela GoGood, uma espécie de marketplace de academias e centros de saúde na qual os colaboradores da imobiliária em Florianópolis podem escolher a prática de 30 atividades físicas pelo app (de artes marciais a spinning, crossfit, musculação, natação, yoga, pilates e meditação por exemplo) – com um custo mensal bancado parcialmente pela empresa. E, se o usuário mantiver uma rotina de uso superior a três vezes por semana, a startup subsidia (via cashback) mais uma parte do custo mensal. O benefício, que parte de R$ 79,90/mês, pode chegar a R$ 29,90 no caso de quem tem uma alta frequência de utilização dos serviços.
Segundo a coordenadora de Recursos Humanos da Brognoli, Paula Daminelli, mais de um terço dos cerca de 200 colaboradores da empresa já utiliza o aplicativo e 36 começaram a usar os benefícios nas academias e estúdios nos primeiros dias do projeto. “Percebemos que as pessoas se engajam mais usando uma plataforma, pois ela causa uma reflexão com relação a qualidade de vida e bem-estar”, comenta Paula.
Do total de usuários do serviço, 50% tinham uma rotina sedentária – e são justamente estes que não faziam exercícios regulares que representam grande parte (80%) dos que mais estão utilizando os serviços de saúde via plataforma. “Isso mostra a força da solução – e da empresa – no esforço de mudar os hábitos dos colaboradores”, ressalta o CEO da GoGood. “O objetivo é democratizar para pessoas que têm alguma limitação financeira o acesso a várias academias. Isso tudo conectado a uma plataforma de dados e gamificação que permite acompanhar a evolução de saúde. A tecnologia não atua apenas para ser transacional, conectando pessoas a empresas, mas também pode gerar monitoramento de resultados e engajamento dos usuários”, afirma Bruno.
Há uma série de estudos que reforçam a relação entre atividade física e aumento performance no trabalho. Pesquisa da Universidade de Bristol (Inglaterra) comprovou que, na comparação entre um dia com exercícios físicos e outro sem, os participantes tiveram poder de concentração 21% maior, 41% disseram ter mais motivação para trabalhar e 25% terminaram suas tarefas antes do tempo. E outro estudo, publicado no Journal of Experimental Psychology, mostrou que fazer caminhadas em ambientes abertos ou fechados pode aumentar a produção criativa em até 60%.
“Os benefícios que uma rotina de atividades físicas e cuidados com a saúde trazem aos colaboradores dão um impulso fundamental para as organizações que buscam se reinventar e vencer os desafios do mercado. Sem pensar no fator humano, não haverá transformação digital“, resume o CEO da Brognoli.
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