Conheça histórias de quem decidiu empreender após passar pela maratona de desenvolvimento de startups
Conteúdo produzido para
O joinvilense Fabiano Dell Agnolo, um administrador com experiência de quase 20 anos na indústria de fundição, sempre teve a vontade de empreender. Apesar de não ter buscado a iniciativa nos primeiros anos de carreira, sempre teve o exemplo do pai, um empreendedor nato, e da mãe, que segundo ele “sempre inventava algo para ajudar na economia de casa”. Mesmo como empregado, em grandes empresas metal-mecânicas como Schulz e Embraco, ele buscava novas ideias e soluções para problemas no ambiente de trabalho.
Até o dia em que roubaram sua bicicleta dentro de casa. Cicloturista experiente, ficou incomodado não só com o furto mas também pelo fato de que, por ser um crime considerado leve, a chance de recuperação era muito pequena. Depois conversar com outros colegas que passaram pelo mesmo problema, ficou com uma ideia fixa na cabeça: como seria possível criar um dispositivo para rastrear bicicletas? Joinville, por sinal, é historicamente reconhecida como a “cidade das bicicletas” e ganhou até um documentário a respeito. “Não dava pra usar os rastreadores de carros, que são muito grandes, caros e consomem muita energia. É preciso algo mais específico”, comenta.
Foi com esse propósito que Fabiano participou da quarta edição do Startup Weekend em Joinville, em novembro de 2017, disposto a montar uma equipe para levar adiante a ideia e transformá-la em um modelo de negócio. Depois da maratona de 54 horas com um time focado nesta solução, surgiu a DeuZika, uma plataforma para rastreamento de bicicletas que foi escolhida como a melhor ideia entre as 14 desenvolvidas ao longo do final de semana e apresentadas para o júri. “Descobrir uma solução é doloroso, mas aprendemos esses caminhos. Especialmente a validação do projeto – não adianta a ideia ser muito boa para mim mas não ter validade para o mercado”, lembra Fabiano.
O caminho para desenvolver o DeuZika coincidiu com a entrada de dispositivos para internet das coisas (IoT) em Joinville. O hardware, um pequeno rastreador que se comunica com um aplicativo de celular por meio da rede de IoT da cidade, inclusive já ajudou a solucionar um roubo – embora de automóvel. “Um dos membros da equipe estava com o dispositivo no carro, que tinha sido furtado e foi localizado graças a essa comunicação emitida pelo hardware”, diz o empreendedor. Hoje formada por quatro pessoas, a DeuZika recebe também o suporte da Softville, onde está pré-incubada (prêmio pelo primeiro lugar no SW) e recebe mentorias, capacitação, além de participar de eventos de conexão com outras empresas. O próximo passo é buscar investimentos e fazer parcerias com outras startups para produzir o hardware no Brasil.
Uma outra ideia que ganhou impulso a partir do Startup Weekend hoje começa a ganhar o mercado internacional. A Becon, de Joinville, começou como uma ideia de aplicativo para fidelização de clientes de restaurante. Eles participaram de uma edição do SW em 2016 e ficaram em segundo lugar com o projeto de um hardware que emitia, por meio de frequência de celular, informações para os proprietários de restaurantes sobre comportamento de clientes. “A gente sabia que o desafio neste setor é a retenção de clientes. Apenas um terço dos consumidores voltam em um estabelecimento pela segunda vez e só um 15% vão pela terceira vez”, conta Lucas Vinicius Schiochet, um dos sócios da Becon.
LEIA TAMBÉM: Como o Startup Weekend se tornou um divisor de águas no ecossistema de inovação em Joinville
O desafio durante o Startup Weekend foi tentar validar um projeto baseado em hardware, “o que é muito custoso e demorado, diferente de um aplicativo”, comenta. Mas segundo Lucas, aquele final de semana marcou de fato o pontapé inicial: “o começo é sempre dessa maneira. você aprende que tem que ter um time forte. Sem isso não se chega a lugar nenhum. A nossa equipe hoje é a soma de pessoas com experiência em tecnologia, comercial e conhecimento desse mercado em que atuamos”. Após o destaque no SW, um grupo de 14 pessoas se manteve engajada na ideia, mas com o tempo começaram a enxugar e ficaram apenas quatro empreendedores que a partir de 2017 passaram a se dedicar à Becon em tempo integral. Entre maio e setembro do ano passado, a equipe passou pelo programa de capacitação Joinville Startups, um braço do StartupSC na cidade, onde entrou sem faturamento e saiu já com clientes e aportes de investimento anjo.
Hoje, com a equipe totalmente dedicada e crescimento de 50% ao mês, a empresa atende restaurantes em diversas cidades brasileiras e começa a abrir operações em Miami, um mercado mais maduro para oferecer soluções de inteligência de marketing para o setor gastronômico. “Nossa tecnologia ajuda o empresário a lembrar quem é o melhor cliente, dá informações de quanto tempo ele fica, a frequência. Se um determinado cliente fica muito tempo sem ir ao estabelecimentos, podemos prever ações especiais para que ele seja estimulado a voltar”, resume Lucas, que teve uma experiência anterior trabalhando no Vale do Silício, representando uma multinacional no contato com startups promissoras de região. “A energia de lá é muito forte, me apaixonei por aquele ecossistema. Por mais que as empresas sejam pequenas, quem tá lá sente que quatro pessoas podem mudar o mundo com um computador”.
Aprendendo a “empreender em série”
Assim como Fabiano, que iniciou a DeuZika, Rafael Miranda Moller trabalhava em uma grande empresa de Joinville mas há anos tinha vontade de fazer algo diferente, começar um novo projeto. Formado em Sistemas de Informação, ele tinha a veia empreendedora mas não sabia como por este instinto em prática. Há três anos, saindo da academia, ele conheceu um projeto social que troca lacres de latas (cerveja e refrigerante) por cadeiras de rodas para deficientes com baixa renda. Ali veio o primeiro insight: criar um aplicativo para informar os pontos de coleta e integrar conteúdos para aumentar o engajamento e as doações. O que começou como um grupo de whatsapp, chamado Coleta Lacre, virou um projeto social de base tecnológica levado para o Startup Weekend, em 2016, quando ficou em terceiro lugar.
Depois da experiência no evento, eles perceberam que nem seria preciso de um app e focaram as ações por meio de uma página no Facebook, marcando pessoas que precisavam e contando suas histórias. Em um ano e 9 meses, o trabalho do Coleta Lacre ajudou a comprar 110 cadeiras de roda. A experiência impulsionou Rafael a novos projetos e, no segundo Startup Weekend que participou, em Blumenau, compôs a equipe da 2Fix, uma plataforma que oferecia pequenos reparos domésticos. A ideia não foi à frente e ele se manteve com o trabalho fixo na fundição Tupy e o voluntariado com o Coleta Lacre.
O emprego fixo não durou muito tempo. Em maio do ano passado, ele se desligou da empresa, ciente que aquele era o momento de dar um passo maior e se dedicar a um projeto empreendedor. Assim surgiu o Pague Depois, um sistema de gestão que ele define como “caderninho as a service” e que cuja ideia surgiu durante uma reunião de pais na escola de suas filhas. “Eu percebi que a cantina, gerenciada por um casal de aposentados, tinha um problema sério de inadimplência e também que a senhora que cuidava do financeiro levava horas para organizar as contas que estavam no papel”, lembra Rafael. Apesar de vários softwares de frente de caixa já oferecerem esse serviço, ele argumenta que a funcionalidade é complicada para o público-alvo (administradores de cantinas, food trucks e fornecedores de alimentação em eventos). “Pensamos em uma solução para os empreendedores da velha guarda, para quem o primeiro sistema de gestão é o caderno”, resume.
Agora empreendedor “em definitivo” após as várias experiências de Startup Weekend (não só como participante, mas também como membro da organização), Rafael se dedica para fazer o caderninho as a service decolar: o PagueDepois foi contemplado com recursos do programa Sinapse da Inovação (Fapesc / Fundação Certi) e vai participar da nova turma do programa StartupSC em Joinville. “Eventos como o SW são fundamentais. Se não tivesse feito o primeiro certamente não teria feito o segundo e dado sequência nos projetos”, afirma Rafael.
Quer aproveitar o SW ao máximo? Siga essas dicas:
- Aprender o processo é mais importante do que a ideia
Como lembra o empreendedor Piero Contezini, CEO da Asaas e mentor de várias startups, “o mais importante é aprender o processo de montar uma ideia com potencial de mercado, não a ideia que você leva. Softwares e apps de balada, por exemplo, estão fadados ao fracasso. Muitos times que não ouvem os mentores acabam repetindo ideias que já deram errado – e deram errado por que o mercado não compra essa ideia”.
- Procura-se um time com várias habilidades
É claro que os programadores são fundamentais nesse processo, mas a diversificação de uma equipe é fator crítico de sucesso. Se você é designer, administrador ou da área de comunicação e acha que o Startup Weekend não é sua praia, é porque não conhece o evento. As equipes contam, em média, com 10 participantes e todo conhecimento é bem vindo.
- Não tenha medo de “ladrões de ideia”
Há quem deixe de participar de eventos coletivos como o Startup Weekend com medo de expor sua ideia e algum participante “roubar”. Como já dissemos aqui, a ideia é só um ponto de partida – e não vale nada se não se tiver capacidade de execução nem mercado disposto a pagar por ela.
- Deu errado? Use a metodologia e comece de novo
Na matéria acima mostramos vários exemplos de ideias que surgiram no Startup Weekend e vingaram, mas nem sempre é assim. Falhar com uma proposta inovadora em um cenário incerto é a coisa mais comum nesse ambiente de experimentação. Se você já empreendeu e no começo as coisas não engrenaram, não jogue o conhecimento fora. Pelo contrário, recupere as técnicas aplicadas ao longo do evento e parta pra outra: “quem consegue focar na metodologia consegue poupar muitos anos ao desenvolver o negócio”, lembra Gilles de Paula, CEO e cofundador da startup Treasy, de Joinville.
SIGA NOSSAS REDES