Spin: aceleradora foca em inovações para a indústria do norte de SC

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Spin: aceleradora foca em inovações para a indústria do norte de SC

Com base em Jaraguá do Sul, iniciativa busca startups para inovar e ampliar competitividade em grandes e tradicionais empresas da região

Parte dos sócios da Spin: Ricardo Rodermel, Reinhard Conrads, Antonio Cesar da Silva e Benyamin Fard.

Durante anos, Jaraguá do Sul, no norte catarinense, se manteve entre as cinco principais economias do estado. Berço de gigantes multinacionais (WEG) e nacionais (Duas Rodas, Malwee, Marisol, entre outras), a cidade de 167 mil habitantes mesclou o potencial de dois polos próximos – o metalmecânico de Joinville e o têxtil de Blumenau – para gerar um dos maiores PIB per capita do Brasil (R$ 50,3 mil, segundo o IBGE em 2013).

Ao longo da última década, a economia local começou a ser superada por outras cidades que começaram a crescer de maneira mais acelerada, como São José e Chapecó. Uma preocupação que começou a ser discutida por um grupo de empresários da região desde o fim dos anos 2000: “era 2008, ano da crise financeira internacional, quando eu e alguns amigos empresários já prevíamos que Jaraguá do Sul precisava diversificar sua matriz econômica. Senti que era hora de dar minha contribuição para transformar a cidade”, conta Benyamin Fard, 38 anos, engenheiro eletricista que trabalhou durante anos na WEG e depois passou a se dedicar a projetos de consultoria na área de sustentabilidade e inovação. Desde então, Benyamin virou também um empreendedor serial, criando oito negócios diferentes, todos como fundador, entre estes uma startup de lawtech (tecnologia para o setor de compliance) e outra com foco em gestão sustentável.

Entre 2013 e 2015, a convite do prefeito Dieter Janssen, foi nomeado secretário de Desenvolvimento Econômico e acumulou a pasta de Planejamento Urbano. “Aceitei o desafio porque queria ajudar a mudar a cidade”, lembra, citando projetos como o planejamento territorial para o município (Jaraguá Ativa), a doação de terreno para o Instituto Senai de Tecnologia e a assinatura para a cidade receber um Centro de Inovação construído pelo governo do estado – outros 12 municípios seriam signatários. Em meados de 2015, ele encerrou a jornada pública e voltou à origem empreendedora, continuando seus negócios e dando início ao projeto da Spin Exponential Business, uma aceleradora de startups no norte de Santa Catarina com foco em demandas de indústrias e grandes corporações (B2B e B2B2C).

Primeira aceleradora fora de Florianópolis, a Spin tem outros cinco sócios fundadores – Reinhard Conrads (Bauco/Duas Rodas), Antonio Cesar da Silva (ex-diretor da WEG), Guido Bretzke (Pip/Bretzke), Anderson de Andrade (A2C) e Ricardo Rodermel (Público Digital/Oodles) – além de participação de outros investidores e family offices locais. Lançada em setembro, a Spin encerrou em 2017 a primeira turma de startups aceleradas e está com novo ciclo aberto para seleção de projetos inovadores, um programa exclusivo com capacitações, mentorias e networking que dura 12 semanas.   

“Podemos trazer, por meio de conexão com startups, uma transformação digital mais rápida para indústrias da região. Temos bagagem como empreendedores e relacionamento regional e internacional. Começamos pelo principal polo industrial de Santa Catarina, que precisa ser ainda mais competitivo para não ser afetado pelas tecnologias de outras regiões, como EUA, Israel e Ásia. Mas não estamos restritos ao nosso estado, e já estamos fechando alianças em Curitiba e São Paulo”, detalha o fundador e CEO da aceleradora, que ocupa um espaço de 200 metros quadrados na região central da cidade.

Primeiro ciclo de aceleração encerrou em 2017 após 12 semanas de programa. Outras selecionadas farão parte da nova turma, em fevereiro de 2018.

Nascido no Irã, na cidade de Mashad, leste do país, Benyamin veio para o Brasil com os pais e os irmãos em 1987, quando tinha oito anos. Moraram em São Paulo até o ano 2001, quando se mudaram para o sul. “Sou vendedor desde criancinha”, comenta Benyamin, que trabalhou com o pai desde cedo. Mesmo como engenheiro formado, trabalhou na área de vendas internacionais da WEG, especialmente em contato com o mercado do Oriente Médio. Uma década e vários projetos depois, foi a vez de estabelecer contato com o universo inovador do extremo ocidente.

Metodologia de Stanford inspirou aceleradora

Logo após sair da prefeitura de Jaraguá, um convite do Stanford Research Institute (SRI) levou Benyamin a ser o head de operações do renomado instituto do Vale do Silício (EUA) para o mercado brasileiro, criando conexões na indústria nacional para o desenvolvimento inovações com base em tecnologia proprietária (patentes) de pesquisadores dos EUA. “Foi com base na visão do Stanford Research Institute, de cocriar ecossistemas propícios para inovação, que criamos a aceleradora com metodologia exclusiva”, explica.

Desde o início, o foco foi buscar soluções corporativas para a indústria do norte catarinense, em especial as fortes e tradicionais companhias de Jaraguá, Joinville e Blumenau. No primeiro ciclo de aceleração da Spin, passaram pelo programa startups como a da Bee2Share, plataforma para compartilhamento de máquinas e equipamentos industriais; a Bom, aplicativo de gestão financeira para pequenos negócios; Dynamique, com foco na gestão de documentos corporativos; a IoFish, solução de internet das coisas para monitoramento da produção de peixes e camarões em cativeiro, entre outras.

O modelo inicial da Spin não prevê aporte de capital nas startups. O conceito é atuar como sócio dos empreendedores, ajudando a refinar seu modelo de negócio, identificando oportunidades dentro de grandes empresas e junto a investidores. Para 2018, a Spin deve criar seu primeiro pool de investimento formado por investidores anjos, family offices e parceiros corporativos para aportar recursos nas startups com melhor performance.

Mesmo com a inspiração e o relacionamento com profissionais e pesquisadores do Vale do Silício, Benyamin aponta os desafios para o projeto cativar a indústria local: “precisamos adaptar nossa metodologia não só para o Brasil como para o norte de Santa Catarina também. O modelo mental dos empresários é diferente, mais conservador, assim como o apetite por investimentos de risco é bem menor”.

Segundo ele, como a indústrias familiares costumam ser conservadoras, às vezes faz mais sentido deixar o dinheiro investido de forma tradicional, correndo menos risco. “É preciso tempo, engajamento e convencimento para ampliar essa visão. Nossa oportunidade é justamente criar um relacionamento duradouro para transformar a indústria a partir das startups e servir como um hub conectando outros polos de inovação do Brasil e do mundo”, resume o fundador.