Smart City Expo Barcelona traz alertas sobre desinformação e chama cidades à ação pela transição climática

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Smart City Expo Barcelona traz alertas sobre desinformação e chama cidades à ação pela transição climática

Painéis destacam desafios que vão de fake news em contextos críticos (como guerras e desastres naturais) à governança na corrida pelo Net Zero

Painéis destacam desafios que vão de fake news em contextos críticos (como guerras e desastres naturais) à governança na corrida pelo Net Zero. / Fotos: Agência SC Inova


05.11.2025
Por Fabrício Umpierres, editor SC Inova – scinova@scinova.com.br
Direto do Smart City Expo World Congress, em Barcelona (ESP)

No segundo dia de debates do Smart City Expo World Congress 2025, o tom de urgência ficou ainda mais evidente em temas que desafiam gestores urbanos no mundo todo: como proteger cidades da desinformação num cenário geopolítico instável e como acelerar — com seriedade — a transição para uma economia urbana de baixo carbono.

A arma é a informação. E também o alvo. 

É o que deixou claro painel que mostrou como a manipulação de dados pode paralisar serviços essenciais — ou até sabotar uma cidade inteira. Michael Lakomski, diretor de digitalização e cibersegurança da cidade de Poznan (Polônia), relatou casos extremos: “Tivemos a imprensa hackeada com notícias falsas de que o país havia entrado em guerra. Só revertendo com a própria mídia conseguimos minimizar o impacto. O mais perigoso hoje é o que se acredita, não só o que é feito.”

A Polônia também enfrenta tentativas de contaminação de água potável por ataques cibernéticos vindos de fora. “É uma ameaça real, que demanda ação conjunta entre governo, academia e empresas”, reforça Lakomski.

A americana Kimberly Lagrue, CIO da prefeitura de New Orleans — cidade que ainda carrega as cicatrizes do furacão Katrina — trouxe uma visão mais comunitária sobre comunicação em momentos de crise: “o governo falhou com a população em 2005. Aprendemos que, para sobreviver, precisamos nos comunicar com todos os canais disponíveis: desde o app de enchentes até líderes de bairro.” 

Segundo ela, o grande desafio não está apenas em informar, mas em convencer a população de que as tecnologias públicas são confiáveis e estão a serviço delas. “Também precisamos entender se todas as informações precisam estar abertas ao público. Se exargerarmos nos avisos, há o risco da população não seguir acompanhando, o que pode ser crítico em um alerta mais urgente”.  

Em meio aos paineis, tecnologias para cidades atraem os mais de 25 mil visitantes.
Em meio aos paineis, tecnologias para cidades atraem os mais de 25 mil visitantes.

Net Zero: do discurso à prática — sem ilusões

Outra discussão que ganhou corpo no dia foi as ações que algumas cidades europeias estão fazendo para se tornarem Net Zero (quando se atinge o equilíbrio entre emissão e retirada de gases de efeito estufa do meio ambiente) até 2050. Apesar de discursos alinhados, os representantes de Estocolmo, Milão e Florença colocaram os pés no chão e mostraram que os projetos ainda estão em fase muito embrionária..

Lisa Enarsson, da Prefeitura de Estocolmo, resumiu em dados uma contradição estrutural: “Apesar de temos 27 projetos de descarbonização em andamento, apenas 24% do total de recursos necessários para a transição vêm de recursos públicos. Isso significa que não há transição sem o setor privado — e, também, sem o envolvimento dos cidadãos”. 

Milão, por sua vez, apresentou seu conceito de “Urban Molecules” — distritos-laboratório onde políticas ambientais são testadas em pequena escala para entender se os processos “net zero” estão realmente gerando resultados para a região. Em Florença, a dimensão cultural da transição ficou evidente. “Uma mudança forçada desrespeita o passado. Uma mudança ignorada compromete o futuro”, alertou Elena Aversa, executiva da área de projetos da prefeitura. A cidade — símbolo da história urbana europeia — vem ajustando seus modelos de mobilidade e energia sem quebrar o ‘pacto emocional’ de moradores e visitantes com o espaço.

Thomas Osdoba, diretor do programa europeu NetZero Cities, lembrou que a discussão sobre as cidades Net Zero começou há cerca de 25 anos e que ainda não há um consenso sobre por onde começar. A visão, contudo, deve ser sistêmica: “não estamos falando só de energia, de combustíveis fósseis. Isso envolve comida, água, mobilidade, cultura e economia. Sem multigovernança e processos verdadeiramente coletivos, não chegamos lá.”

O consenso no palco? Cidades neutras não se constroem com slogans ou metas isoladas. É um pacto que envolve todos os setores, com transparência, governança compartilhada e o reconhecimento de que tecnologia sozinha nunca será suficiente sem engajamento – e, claro, recursos financeiros, de governos ou de empresas. 

*O SC Inova está acompanhando o Smart City Expo em parceria com as comitivas do Instituto de Conectividade e Sustentabilidade (iConects) e do UniSENAI, responsável peo MBI em Cidades Inteligentes, em parceria com a FIESC