Sonho de consumo para 72% dos brasileiros com jornada em escritório, o day-off pode ganhar força com uso de novas tecnologias, como inteligência artificial, diz o especialista Junior Vendrami, que vai abordar tendências de futuro para o trabalho no festival de criatividade Sh*ft, em Joinville. / Foto: Jason Goodman on Unsplash
[JOINVILLE, 17.11.2022]
Redação SC Inova, com informações da Assessoria de Imprensa
Uma semana de trabalho com um “feriado” no meio (ou no começo, quem sabe no fim). Uma das tendências corporativas que ganhou força nos últimos anos é a “semana de quatro dias”, que tem sido testada como forma de aumentar a produtividade e o bem-estar de colaboradores em empresas de diferentes portes, especialmente no Japão, Bélgica, Reino Unido, Portugal e na pequena Nova Zelândia – mas que ainda está longe de ser uma regra no Brasil.
Mas se chegar, será bem-vinda aqui: pesquisa realizada pela empresa de espaços corporativos compartilhados WeWork e Page Outsourcing apontou que 72% dos brasileiros que trabalham em escritórios consideram que seriam mais produtivos se tivessem uma semana de quatro dias de trabalho em vez de cinco. De acordo com o estudo, a maioria dos entrevistados acredita que a criatividade está diretamente ligada à produtividade, e a flexibilidade na jornada de trabalho é o motor para este desempenho.
“Quanto mais tecnologias baseadas em inteligência artificial avançarem, mais nosso papel de curadoria será acentuado, o que irá impactar drasticamente na quantidade de tempo necessário para executar um trabalho”, acredita Junior Vendrami, designer que há três anos está à frente da Bubbleless, consultoria colaborativa para negócios e inovação. Ele vai abordar o tema “Semana de 4 dias e o futuro do trampo” no Sh*ft Festival, evento que debate inovação, criatividade e temas contemporâneos e acontece no dia 03 de dezembro, no Ágora Tech Park, em Joinville (SC).
Ferrenho defensor da redução da jornada semanal, ele detalha nesta entrevista ao SC Inova como essa tendência pode se intensificar no ambiente corporativo nos próximos anos.
SC INOVA – O que se pode dizer, levando em consideração experiências recentes neste sentido, com relação ao aumento de produtividade e a satisfação dos colaboradores com a semana de 4 dias?
Junior Vendrami – Uma semana de 4 dias pode trazer de volta parte do tempo particular dos colaboradores que ficou comprometido com o avanço tecnológico e social atual. A promessa de trabalhar quando e onde quiser, em determinadas situações, acabou pressionando as pessoas a trabalharem sempre e onde estiverem, além da facilidade de comunicação das plataformas digitais e a pressão por performance que fazem o trabalho invadir a casa e momentos antes privativos do colaborador.
Claro, de nada adianta uma semana de 4 dias se o tempo e o espaço particular dos colaboradores não forem respeitados, do contrário, a única coisa que muda é o status do tempo (tempo em casa versus tempo no trabalho), mas não a atividade.
Há diversas situações possíveis, pois existem diversos tipos de trabalho. Particularmente, me parece que, para trabalhos essencialmente intelectuais, uma pausa no meio da semana ajuda a recarregar melhor o ânimo e a força mental das pessoas – as duas pernas da semana ficam mais produtivas -, ao passo em que trabalhos braçais possam se beneficiar mais de uma pausa mais longa, ou seja, 3 dias de descanso seguidos.
SC INOVA – A pandemia “ensinou” alguma coisa com relação a autonomia dos colaboradores e mais flexibilidade na rotina de trabalho?
Junior Vendrami – Aqui na Bubbleless, antes da pandemia já estávamos ensaiando uma mudança de forma de trabalho: estávamos virando uma rede com parceiros acionados sob demanda, de acordo com suas expertises. Vale falar que essa foi uma decisão ligada à pluralidade dos trabalhos que desenvolvemos, fazendo com que tenhamos poucas demandas contínuas de profissionais com determinadas habilidades.
A pandemia, ao mesmo tempo, acelerou e bagunçou esse processo: diversas empresas seguiram, um pouco à força, caminhos parecidos com o nosso e acabamos obrigados a definir métodos novos de trabalho utilizando ferramentas remotas que estávamos testando “com calma”. Porém, essa parte não é ainda a bagunça: esta veio de lidar com a realidade humana no isolamento, com colaboradores, cliente e nós mesmos encarando problemas e até doenças num contexto que ninguém sabia muito como lidar ainda.
Nesse sentido, a flexibilização aconteceu meio que naturalmente – para nossa surpresa, foi justamente o oposto que tomou muito da nossa energia: tivemos que lutar para manter e equilíbrio na divisão entre trabalho e vida pessoal, pois descobrimos que quem nunca trabalhou com liberdade total pode, em situações de estresse como um isolamento, ter uma tendência de não parar nunca de trabalhar.
SC INOVA – Em sua visão, que mentalidade precisamos adotar para sermos mais felizes e produtivos nesses novos tempos?
Junior Vendrami – É preciso entender que, apesar de muitas analogias compararem o ser humano a máquinas ou computadores, não somos nenhum dos dois. Nossa medida de produtividade não pode ser medida pela velocidade da tecnologia dos nossos tempos. Todas as receitas de buscar propósito no que faz, ter atividades que te dão prazer no seu tempo livre, comer e dormir direito, cultivar amigos etc., apesar de serem clichês, certamente ajudam muito – há pessoas que têm uma vida caótica e se declaram felizes no trabalho, porém não me parece uma situação que se sustenta. O trabalho deve ocupar uma parte da nossa vida, obviamente, mas cada um deve refletir no tamanho dessa medida, até porque, se não definirmos isso, alguém irá definir por nós.
SC INOVA – De que forma a inteligência artificial vai impactar o futuro do trampo?
Junior Vendrami – Esta pergunta se liga bastante à anterior. Uma forma de ser produtivo no trabalho é aproveitar as oportunidades que a tecnologia nos dá para acelerar ou automatizar processos. Vivemos em uma época em que a tecnologia realmente me deixa fascinado: você pode literalmente pedir para um computador desenhar algo pra você. E pode ser algo que nem existe, na vida real, fora da tela.
Para um designer, esse tipo de tecnologia não é só algo divertido, pode ser algo que libera muitas horas do seu dia. Veja, em diversas áreas o designer atua muito como um curador – ele pede que alguém produza determinada peça visual e depois seleciona a mais interessante entre as opções geradas. Isso acontece na relação com fotógrafos, produtores de vídeo, ilustradores e qualquer área que o designer não domine. Nesse sentido, pedir a um fotógrafo determinada imagem e pedir para o Dall-e desenhar não são atividades tão distantes.
Diferente do que diversos profissionais acreditam, não imagino que o papel do designer venha a ser questionado, nem que ele muda de escopo – pois as escolhas e decisões que o designer faz durante o processo são a parte mais importante, não a execução – que, se ainda não pode ser terceirizada com uma máquina, pode ser feita por outro humano.
Assim, quanto mais tecnologias baseadas em inteligência artificial avançarem, mais nosso papel de curadoria será acentuado, o que irá impactar drasticamente na quantidade de tempo necessário para executar um trabalho.
SERVIÇO:
O QUE: Sh*ft Festival
QUANDO: 3 de Dezembro de 2022, sábado – das 9h às 18h
LOCAL: Ágora Tech Park / Perini Business Park, Distrito Industrial – Joinville/SC
MAIS INFORMAÇÕES: https://www.shiftfestival.cc/
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