Santa Catarina no contexto das Cidades Inteligentes

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Santa Catarina no contexto das Cidades Inteligentes

Alguns municípios do estado, segundo avaliação de diversos rankings nacionais, vêm se posicionando de forma ativa diante da inevitável necessidade de revisão dos nossos modelos urbanos. 

Alguns municípios do estado, segundo avaliação de diversos rankings nacionais, vêm se posicionando de forma ativa diante da inevitável necessidade de revisão dos nossos modelos urbanos. / Imagem: LabCHIS/UFSC

[04.11.2019]

Por Renata Marè*

Santa Catarina é um estado cheio de riquezas naturais e humanas. Com atividades econômicas na agropecuária, na indústria e em serviços, ele responde por mais de 4% do PIB nacional. Mas como tem sido o seu olhar e a sua participação no contexto das Cidades Inteligentes? 

Sem a pretensão de esgotar o tema e as referências em Santa Catarina neste artigo, acredito que o estado esteja se posicionando de forma ativa, diante da inevitável necessidade de revisão dos nossos modelos urbanos. Afinal, as cidades de hoje precisam passar por transformações profundas para que possam cumprir o seu papel com sustentabilidade, atendendo às necessidades dos cidadãos de hoje e do futuro. 

Apresento aqui algumas informações que fundamentam a minha opinião, começando por Florianópolis. A cidade vem sediando o Smart City Fórum Floripa que, em outubro deste ano, teve a sua terceira edição. Trata-se de um importante evento com a chancela da FIRA Barcelona, empresa responsável por uma família de eventos pelo mundo dedicados ao desenvolvimento socioeconômico das cidades. O Fórum reuniu especialistas do setor, gestores públicos e legisladores, empresas com uma pegada inovadora, representantes regionais, profissionais e membros da academia para discutirem juntos diversas questões agrupadas nos seguintes temas: Economia Criativa, Tecnologias Limpas para as Cidades, Estratégias para a Mobilidade Urbana e Inovação na Gestão Pública. 

A cidade também consta no Ranking Connected Smart Cities 2019, da empresa Urban Systems, como a 5a cidade do país com melhor pontuação geral entre 100 cidades avaliadas em 2018. Cabe ressaltar que o ranking utiliza 70 indicadores para avaliar os seguintes aspectos: Mobilidade e Acessibilidade, Urbanismo, Energia, Tecnologia e Inovação, Saúde, Segurança, Educação, Empreendedorismo, Governança e Economia. 

Mas Florianópolis não foi a única cidade do estado a constar no ranking: Blumenau aparece na 16a posição (contra a 27a na edição anterior), Balneário Camboriú na 24a (contra a 62a), Joinville na 30a (35a), Itajaí na 31a (34a) e Jaraguá do Sul e Chapecó, figurando na 68a e na 77a posições respectivamente, sendo que nem constavam na edição anterior do ranking. Ainda merecem destaque São José, ocupando a 39a posição entre as 50 melhores cidades no aspecto Segurança, Chapecó e Criciúma na 20a e na 31a posições no aspecto Empreendedorismo, respectivamente, além de Concórdia e Itapema nas posições 16 e 31 no aspecto Economia, respectivamente. 

Ou seja, apesar de todos os rankings em cidades inteligentes existentes no mundo apresentarem pontos a aprimorar e, portanto, requererem o nosso olhar crítico, observa-se que, em geral, as cidades catarinenses presentes no Connected Smart Cities vêm melhorando o seu desempenho

A título ilustrativo e como convite à reflexão, apresento também alguns números apontados no ranking Melhores Cidades para Fazer Negócios 2019, elaborado pela mesma empresa a pedido da Revista Exame). Ele avaliou os temas Desenvolvimento Econômico, Capital Humano, Desenvolvimento Social e Infraestrutura, em cidades com mais de 100.000 habitantes em 2018 (Estimativa da População – IBGE), perfazendo um total de 317. 

Nele, Florianópolis aparece na 15a posição (24a na edição anterior), Itajaí na 25a (36a), Chapecó na 65a (não figurava na edição anterior) e Joinville na 69a (72a). Em compensação, várias cidades catarinenses perderam posições em relação à edição anterior: Tubarão aparece na 55a (anteriormente na 50a), Balneário Camboriú na 67a (35a), Jaraguá do Sul na 84a (80a) e Blumenau na 100a (54a). Portanto, de um ano para o outro as três últimas cidades tiveram um desempenho excelente nos aspectos “smart”, mas pioraram em aspectos considerados chave para atrair investimentos. Cabe aqui, portanto, uma reflexão mais aprofundada. 

Como membro da academia, eu não poderia deixar de citar a iniciativa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o LabCHIS. Formado por pesquisadores locais e parcerias com universidades e institutos de pesquisa nacionais e internacionais, o LabCHIS trabalha sobre o mote “Cidades Humanas, Inteligentes e Sustentáveis”, buscando respostas aos problemas que afetam o planeta, resultantes da acelerada urbanização, como aqueles relativos à “segurança pública e mobilidade urbana, degradação da biosfera, escassez energética e de alimentos, combate à pobreza, produção de respostas a desastres naturais, melhoria dos serviços providos por governos”, entre outros. 

Não há receita padrão para a transformação das cidades, mas um olhar integrado que contemple, além da tecnologia e da inovação, as demandas sociais e humanas, o meio ambiente e a ciência.

O laboratório vem promovendo uma série de workshops, visando à criação e ao compartilhamento de conhecimento, além do engajamento dos diversos atores, essencial às transformações necessárias nas cidades, que deverão abrigar mais de 70% da população mundial em 2050, segundo estimativas da ONU. 

Aliás, a UFSC também está presente no parque tecnológico Ágora Tech Park, em Joinville. Inaugurado neste ano, o Ágora tem por objetivo fomentar o ecossistema de inovação, promovendo conexões entre os vários atores interessados em trabalhar, de forma colaborativa, soluções aos problemas urbanos, com vistas a cidades mais humanas e inteligentes. Ele está alinhado a várias iniciativas em Joinville, como o programa Join.Valle e o Pacto pela Inovação

Não há receita padrão para a transformação das cidades, mas um olhar integrado que contemple, além da tecnologia e da inovação, as demandas sociais e humanas, o meio ambiente e a ciência. É essencial para que se identifiquem os inúmeros potenciais e vocações de cada local a serem fortalecidos, complementados e explorados, proporcionando desenvolvimento e maior qualidade de vida aos seus cidadãos.

* A Profa. Dra. Renata Marè é Doutora em Engenharia de Computação pela Escola Politécnica da USP (EPUSP) e Coordenadora e Docente na Sustentare Escola de Negócios no novo curso de Cidades Inteligentes.