Startups terão dificuldades de crescimento caso texto aprovado na Câmara dos Deputados não seja alterado no Senado, afirmam especialistas. Impacto será em toda a cadeia: da arrecadação à geração de empregos qualificados. / Foto: Divulgação
[FLORIANÓPOLIS, 24.08.2023]
Redação SC Inova, com informações da Assessoria de Imprensa
O impacto da Reforma Tributária nas startups foi um dos temas em destaque no Startup Summit 2023, que reúne cerca de 10 mil pessoas no CentroSul, em Florianópolis. A aprovação do projeto de lei na Câmara, em julho passado, acendeu o alerta de entidades de tecnologia e de especialistas no tema, em função da falta de informações sobre qual será afinal a alíquota do IVA (Imposto sobre Valor Agregado) que vai incidir sobre o setor.
Um estudo recente feito por entidades setoriais apontou que o aumento da carga tributária pode chegar a 342% para o setor de tecnologia. “Ninguém é contra a simplificação de impostos, mas o tema é muito complexo e gera insegurança em todo o setor” afirmou o empreendedor contábil Ismael Rogerio da Silva, CEO da Softcon, em painel sobre o tema no estande da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE). O principal custo para o setor é a mão de obra, que chega a representar 70% em alguns casos. “As despesas com mão de obra não geram crédito tributário. Infelizmente, a tendência é que tenhamos um aumento de impostos”, reforça.
No caso das startups, o impacto teoricamente não seria tão alto, pelo fato da maioria estar incluída no Simples Nacional, um regime tributário diferenciado para empresas que faturam até R$ 4,8 milhões por ano. Porém, o contador alerta para prováveis impactos mesmo para essa faixa: “apesar do Simples se manter, há um ponto de bastante de atenção. As startups enquadradas neste regime, a princípio, não vão gerar crédito de forma integral ao comprador, o que poderá prejudicar a competitividade e, portanto, vai causar um impacto. As startups devem repensar se deveriam mesmo estar no Simples”.
O presidente da ACATE Iomani Engelmann reforça: “digamos que eu seja uma grande empresa e tenha duas opções para comprar um produto. A primeira opção vem de uma startup, e a segunda opção é de uma empresa maior, que não está enquadrada no Simples Nacional. Nesse caso, eu vou acabar comprando da empresa maior, pois consigo os créditos tributários. Por isso, estamos alertando que a Reforma Tributária, caso não seja modificada, pode afetar também os negócios nascentes”, diz Engelmann.
Para o advogado tributário Rafael Zimath, um sinal de alerta é a velocidade com que o tema está avançando no Congresso. Segundo ele, a aprovação na Câmara ocorreu sem que simulações de impacto fossem feitas. “Esse é um contexto perigoso. A discussão está sendo feita de maneira atropelada. Nós sequer sabemos qual vai ser a alíquota dos futuros impostos”, diz.
Nas últimas semanas, representantes da ACATE foram a Brasília para sensibilizar os senadores sobre a necessidade de mudanças no texto. O setor de tecnologia emprega 76,7 mil pessoas em Santa Catarina e representa pouco mais de 6% do PIB, o dobro da média nacional. A previsão é que o tema vá a votação em outubro no Senado.
INCENTIVO À INOVAÇÃO É QUESTÃO ESTRATÉGICA PARA GOVERNOS
Para Ismael Silva, um dos participantes de grupo de trabalho organizado pela entidade para entender os riscos das mudanças e levar informações aos parlamentares catarinenses, não se trata de um pedido de subsídio. “Incentivar a inovação é uma questão estratégia para os países. O modelo chinês de apoio à tecnologia permitiu que as empresas locais, depois de alguns anos, pudessem competir com as big techs norte-americadas”.
O presidente da ACATE vê risco de uma evasão de empresas de tecnologia do país. “A saída, em último caso, para empresas do Brasil é buscar outros países que ofereçam benefícios, como o Uruguai”.
O advogado Rafael lembra que, assim como aconteceu na atualização do Código Civil, há 20 anos, ainda haverá período de adaptação mesmo se a reforma for aprovada nos próximos meses. Contudo, ele reforça a preocupação pela forma acelerada como o projeto de lei foi debatido e aprovado na Câmara. “Estamos falando do tema há 30 anos, não podemos estar nesse ponto da discussão sem saber sequer a alíquota que será cobrada de um setor tão importante”.
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