[Cultura Digital] Pequeno inventário de coisas que jogamos no espaço

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[Cultura Digital] Pequeno inventário de coisas que jogamos no espaço

Com a corrida espacial migrando da Guerra Fria para o setor privado, há um grande interesse comercial por negócios gerados no Universo

Com a corrida espacial migrando da Guerra Fria para o setor privado, há um grande interesse comercial pelas possibilidades geradas por negócios no universo – desde experimentos químicos, biológicos e físicos, até comportamento dos mais diversos tipos de materiais


[21.05.2021]


Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve sobre Cultura Digital para o SC Inova  


Era manhã de 6 de fevereiro de 2018.

Em seu lançamento de estreia, e ao custo de US$ 90 milhões, o foguete Falcon Heavy alcançou a órbita terrestre em 32 minutos, desacoplando seus três módulos conforme planejado. Tido como o equipamento mais rápido construído até então, dois dos módulos retornaram à terra em total segurança, mas o terceiro se lançou ao espaço infinito carregando nada menos que um automóvel como bagagem.

O Tesla Roadster é o primeiro carro lançado no espaço e foi enviado numa órbita similar à trajetória necessária para uma viagem a Marte. A capacidade de carga do foguete varia entre 66 toneladas (se o destino for a órbita da Terra) e 17 toneladas (se for Marte), um teste de fogo para sua proprietária, a SpaceX, avaliar o foguete jumbo para transportar satélites mais pesados para o espaço. E até, no futuro, seres humanos em missões tripuladas à Lua e outros planetas.

O feito foi desenvolvido especificamente para gerar um buzz no digital, promovendo não só as empresas, o acontecimento e o boneco em traje espacial que está pilotando o carro atualmente perto da órbita de Marte, mas também um forte impulsionamento na imagem do seu criador, Elon Musk. Um cara que sabe como ninguém utilizar o digital como alavanca nos seus negócios.

Mirando a nossa atração por este tipo de “lançamento”, fato é que uma sucessão de coisas está sendo largada pelo espaço afora, muito pelo que pode ser cooptado via impacto digital.

VINHO GALÁCTICO

A Space Cargo Unlimited, empresa de transportes sediada em Luxemburgo, enviou 12 garrafas de vinho de Bordeaux ao espaço sideral para estudar o impacto da microgravidade. Armazenados na Estação Espacial Internacional, os vinhos ficaram condicionados em recipientes especiais, à prova de impactos, visando um envelhecimento pleno em um ambiente zero gravidade. 

A decisão de mandar as garrafas de Chateau Petrus fez parte do Mission WISE, um programa privado de pesquisa espacial aplicada. A organização está procurando maneiras de estudar os efeitos da microgravidade nos sistemas biológicos na esperança de descobrir ideias que possam ajudar os agricultores a se adaptarem ao aquecimento global.

Após um período de 14 meses chegou os vinhos voltaram à Terra, onde era chegada hora da prova de degustação:

“Por unanimidade, os vinhos foram considerados grandes vinhos, o que significa que apesar da estada de 14 meses na estação espacial internacional, o ‘vinho espacial’ foi muito bem avaliado sensorialmente”, disse Philippe Darriet, diretor do departamento de pesquisa de Enologia na Universidade de Bordeaux, em comunicado.  

Segundo um comunicado de imprensa que resume o julgamento: “Perceberam-se diferenças quanto à cor dos vinhos. Quanto aos componentes aromáticos e gustativos: os dois vinhos foram descritos com um vocabulário rico que atesta uma notável complexidade olfativa e gustativa; dimensões sensoriais de doçura, harmonia e persistência foram particularmente observadas.”

Anunciado pela Christie’s como o “vinho de outro espaço”, o assunto foi freneticamente compartilhado em redes sociais pelo mundo, com expectativa de alcançar mais de US$ 1 milhão por garrafa, muito mais por curiosidade do que por qualquer efeito do processo no resultado da bebida. 

Mas por que estamos lançando tanta coisa no espaço? Primeiramente como fazemos isso?

POR QUE LANÇAR?

Com a corrida espacial migrando da guerra fria para as companhias privadas nos últimos anos, despertou-se um grande interesse comercial pelas possibilidades que podem ser geradas por negócios no universo. Desde experimentos químicos, biológicos e físicos, até comportamento dos mais diversos tipos de materiais, metais, orgânicos, líquidos, etc. Como boa parte da ciência atual é voltada a ganhos monetários de seus financiadores, esta nova fronteira se mostra uma terra prometida, com mineração de asteróides para obtenção de metais raros que compõe nossos smartphones,  testes de percepção de tempo na rotina de vida na estação espacial e também vinhos e carros jogados no vácuo para testes em geral..

Lançado ao estrelato durante sua missão na estação espacial internacional, o astronauta Scott Kelly conseguiu nos aproximar desta realidade, exibindo sua rotina diária no tempo que passou orbitando a terra. Em uma ação estratégia de RP da NASA apoiada pelas redes sociais do capitão e hoje senador Scott, pudemos acompanhar alguns experimentos, tirar dúvidas ao vivo e também vivenciar lado a lado da tripulação coisas inusitadas, como se alimentam, tocam guitarra sem gravidade e até vestido de gorila.

Fato é que muitas das inovações que temos hoje em nossas vidas, principalmente na tecnologia digital, se deram por conta destes experimentos, feitos para testar hipóteses e comprovar novas fronteiras da transmissão de ondas, materiais para armazenamento de dados e também interfaces cognitivas do futuro. 

Porém, muito mais difícil que lançar algo no espaço é fazer com que valha a pena trazer de volta.

LIXO EM ÓRBITA

Embora todos os benefícios que temos hoje e no futuro próximo, esta série de coisas jogadas no espaço podem provocar alguns contratempos caso não sejam tomadas providências rapidamente. Calcula-se que existam cerca de 4.700 pedaços de satélites orbitando a Terra, comprometendo outros lançamentos orbitais e até contribuindo para o aquecimento do planeta segundo alguns.

Isso sem dizer da nova fronteira da comunicação digital, os cinturões de satélites lançados por empresas como Starlink (Elon Musk) e Project Krupier (Jeff Bezos), que vem tirando o sono dos astrônomos por atrapalharem a visão noturna em alguns lugares do nosso planeta. Ao custo de US$ 3 bilhões, estas geringonças orbitam a terra a baixa altitude, prometendo uma eficiência incrível em robustez e agilidade para nossa comunicação online.

Revisando esta fixação de Elon Musk pela próxima fronteira da humanidade, num “insight” que ele mesmo diz ter tido em Floripa e considerada por muitos como atos de insanidade, é de se pensar como ainda deveremos romper atuais barreiras da ciência, sem bem entender o benefício final e pouquíssima noção dos resultados negativos.

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