Onde começa a transformação digital?

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Onde começa a transformação digital?

Empresas que optam por desenvolver uma solução digital sem um investimento inicial em pesquisa e design tendem a fracassar.

Empresas que optam por desenvolver uma solução digital sem um investimento inicial em pesquisa e design tendem a fracassar. Isso porque não delimitam o problema e não validam rapidamente ideias arriscadas com os usuários. / Imagem: Springboard


[10.08.2021]


Por Luisa Nogueira,
CEO da Sensorama, consultoria de Inovação

O fato consumado: a pandemia impulsionou a transformação digital e mudanças no comportamento das pessoas. Nas mesas das grandes corporações as conversas são sobre diminuir distâncias com processos mais inovadores e tecnológicos.  Sim, parece uma boa opção para um momento tão complexo voltar os caminhos à  inovação.  Contudo, antes, há dois paradigmas para mudar com urgência o cenário brasileiro. 

O primeiro é que o Brasil tem passos curtos em comparação com os maiores mercados do mundo quando o assunto é digitalização. Um estudo da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), de 2018, mostra que apenas 2% da indústria no país está apta à transformação digital, enquanto nos Estados Unidos esse número chega a 50%. Além disso, dados recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que dos 24 setores industriais do país, 14 estão atrasados na adoção de tecnologias digitais. Esse último mostra que 40% de toda a produção industrial do país, ou seja, quase metade de tudo o que a indústria brasileira produz ainda não é impactada pelas tecnologias 4.0: Internet das Coisas (IoT), Big Data e Inteligência Artificial (I.A). 

Ou seja, a indústria brasileira ainda perde mercado por não se ajustar às mudanças. Isso significa que existe muito espaço e oportunidade para líderes desse setor agregarem ao seu dia a dia a visão da aplicação da tecnologia e começarem a inovar.

O segundo ponto é que a inovação envolve pesquisa e desenvolvimento. Empresas que optam por desenvolver uma solução digital sem um investimento inicial em pesquisa e design tendem a fracassar. Isso porque não delimitam o problema e não validam rapidamente ideias arriscadas com os usuários, errando gravemente no nível de investimento seja para um novo processo, produto ou serviço. 

Em um contexto de transformação digital, é preciso entender melhor as pessoas, a fim de estabelecer estratégias para melhorar a interação. Ou seja, entender os usuários e seus contextos reais é a chave a ser utilizada para trazer clareza para escolhas e decisões estratégicas das grandes empresas. Que fique claro, o objetivo final é inovar, mas gerando valor para todas as partes.

UM CASO PARA PENSAR

Vamos orientar esse contexto com um exemplo. Recentemente entramos em um projeto com uma multinacional sobre como trazer toda a capilaridade e endosso de marca dessa indústria para uma plataforma que encantasse o setor varejista. Em uma pesquisa com redes, entendemos que o varejo brasileiro espera que a indústria oriente em relação às tecnologias que podem trazer resultados para o seus negócios. Além disso, considera a transparência um dos fatores determinantes para gerar confiança nessa troca de informações.

Veja o desafio gigante: muito mais do que convencer alguém a comprar um produto, estamos falando de levar esse comprador à tecnologia, convencê-lo a utilizá-la e, por fim, engajá-lo em um ecossistema que sugere troca de informações para ampliação dos resultados. Isso é possível sem envolver pessoas e repensar processos? Dificilmente. 

Na prática, uma estratégia de business bem definida faz parte do processo. Mas o que nos ajuda a responder as dúvidas sobre a visão de futuro desta multinacional é estudar o mercado e ouvir os usuários. Seja qual for a estratégia da companhia – desenvolver uma plataforma omni channel, consolidar-se como um hub de serviços, abarcar negócios digitais ou criar um novo marketplace –  ter uma ideia que inclua tecnologia não é o suficiente para chamarmos de inovação (ou para que possamos dizer que faz parte da Indústria 4.0). 

Estar à frente é entender a inovação a partir da inteligência de mercado e validar as oportunidades no tempo certo, com pesquisa e desenvolvimento. 

No caso do nosso cliente, o projeto proporcionou estar à frente, entender a inovação a partir da inteligência de mercado e validar as oportunidades no tempo certo, com pesquisa e desenvolvimento, resultando em entregas mais rápidas de tecnologia, e com isso resultados operacionais relevantes. 

Todos podem buscar inovação. Mas só vão encontrá-la de fato àqueles que entenderem que inovar significa modificar antigas fórmulas e rever processos para colocar também as necessidades das pessoas no centro. Só assim é possível transformar um negócio ou um mercado. É aqui que geramos valor.

As metodologias de user experience (UX) design – que incluem pesquisas com usuários, estratégia e validação – ajudam a incorporar uma cultura voltada à inovação nas corporações. Em paralelo facilitam a tomada de decisões, pois sua aplicação diminui o risco de investir em soluções que não sejam adequadas ao momento da companhia e dos usuários. 

Por isso, o trabalho de uma consultoria de inovação em um cenário de transformação é contínuo. Sabemos que precisamos construir rápido, mas a partir de uma base sólida, estruturada com dados de mercado. E, antes de mais nada, acreditamos no design como ferramenta para estruturar a base de uma transformação digital bem sucedida.

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