“O evento ao vivo não vai morrer, mas ele mudou para sempre”

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“O evento ao vivo não vai morrer, mas ele mudou para sempre”

CEO e cofundador da mobLee, startup que desenvolve aplicativos para eventos, André Rodrigues conta como a empresa está se reinventando para encarar um mercado profundamente afetado pela Covid-19.

CEO e cofundador da mobLee, startup que desenvolve aplicativos para eventos, André Rodrigues conta como a empresa está se reinventando para encarar um mercado profundamente afetado pela Covid-19.


[FLORIANÓPOLIS, 14.04.2020]
Por Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br 

No mundo pré-pandemia da Covid-19, o aquecido mercado de eventos trazia também uma série de oportunidades para o desenvolvimento de novas tecnologias, de compras e serviços online até o relacionamento interpessoal em feiras (como o compartilhamento digital de contatos em estandes, por exemplo). Este era o mercado no qual a statup mobLee, de Florianópolis, vinha surfando e bem até o início de março passado. 

“Nós estávamos crescendo muito bem em 2019”, lembra André Rodrigues, CEO e cofundador da mobLee. A empresa surgiu em 2011, criando aplicativos para eventos corporativos do agronegócio, maquinário e setor automotivo entre outros. 

Com a evolução digital do mercado e a popularização dos smartphones ao longo da década, a mobLee começou a desenvolver serviços mais sofisticados – um deles, por exemplo, que permitia a captação de contatos no estande das empresas pelo aplicativo, triplicou em volume de receita de 2018 para 2019. Nos últimos anos, era a responsável por apps e soluções online para eventos de clientes como Globo, Bradesco, Unimes, Magazine Luiza, Resultados Digitais, Sebrae e outros.

Mas com as medidas de isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus – e a necessidade de cancelar todo e qualquer evento marcado para os próximos meses – o mundo literalmente mudou.  

“Pararam os eventos e a nossa principal entrega de valor estava relacionada ao evento estar acontecendo”, ressalta André. Uma das soluções foi levar essa experiência presencial para um ambiente digital – e fazer um evento próprio “para a gente se colocar na pele do cliente e ver os desafios”. No dia 3 de abril, a mobLee estreou com o seu Inception Digital, uma simulação online de uma conferência tradicional, com direito a palestras simultâneas em diferentes ambientes e “estande digital” para os patrocinadores.

Ambiente do evento digital experimentado pela empresa no início de abril.

Nesta entrevista exclusiva para o SC Inova, André destaca que, cada vez mais a partir de agora, os organizadores de eventos precisam se preocupar em formar e gerenciar uma comunidade que possa migrar também para um evento em ambiente digital: “o face-to-face, o evento ao vivo, não vai morrer, mas ele mudou para sempre a partir deste cenário”.

SC INOVA – Como a empresa estava se estruturando antes da pandemia? Qual era a perspectiva de negócios e como vocês começaram a se adaptar à nova realidade sem eventos?

André Rodrigues – Nós estávamos crescendo bem em 2019. Eu destaco um produto específico, que é o Collect, que trabalha com a entrega de valor para o patrocinador. Ele triplicou em volume de receita de um ano para o outro, então a gente estava tracionando de forma representativa com um produto que é exclusivo para os eventos ao vivo, que é a captura de contatos no estande. Nós estávamos indo muito bem. Porém, pararam os eventos e a nossa principal entrega de valor está relacionada ao evento estar acontecendo. 

“A nova realidade motivou organizadores que nunca olharam com seriedade para a virtualização dos seus eventos a começarem a tratar isso como prioridade”, opina André Rodrigues, CEO da mobLee

Nós pivotamos e resolvemos fazer o nosso próprio evento. Por que? Para primeiro aprender a fazer evento online na prática. Já tínhamos um conhecimento sobre as dinâmicas, mas a gente precisava se colocar na pele do cliente, ver os desafios. A gente quis ser o primeiro a testar a nossa nova solução e colocá-la a prova tendo nossos clientes como usuários participantes, recebendo os feedbacks desses clientes. Os resultados e perspectivas por enquanto são muito boas. A gente mais do que dobrou a geração de demanda e tivemos uma receptividade incrível por parte do público no nosso evento.

SC INOVA – Vocês já tinham planejado alguma mudança de rumos antes mesmo do cenário de isolamento social ou isso foi motivado em função do cancelamento generalizado de eventos?

André Rodrigues – Nós sempre levantamos a bandeira de que eventos têm a capacidade de aproveitar melhor a oportunidade de mobilizar pessoas – para criar comunidades engajadas por mais tempo e não só durante o evento ou naquele momento logo antes ou depois – e que deveriam fazer isso. Então, eventos conseguem atrair pessoas, fazer com que elas se mobilizem para ir aos eventos, e nesses lugares você encontra uma rede de pessoas com o mesmo interesse – isso é muito poderoso. 

“Eventos trabalham com urgências – acabou um, tem que dar um respiro e pensar no próximo. Então, formar uma comunidade nunca era uma prioridade para o mercado”

A gente sempre acreditou que as nossas tecnologias tinham a capacidade de formar e dar continuidade ao resultados desses eventos através de comunidades. No entanto, sempre houve um desafio por parte dos clientes (ou do mercado em geral) em implementar essa solução, essa visão de comunidade, porque, no final das contas, eventos trabalham com urgências e por isso eles precisam resolver sempre o que é mais emergencial. Acabou o evento eles tem que dar aquele respiro e pensar no próximo. Então, ter, formar e gerenciar uma comunidade nunca era na maioria dos casos uma prioridade para o mercado – porém, a gente sempre acreditou nisso.

Com a situação da pandemia ficou muito evidente que os eventos precisam engajar o público independente de eles acontecerem presencialmente – e isso está expresso na imensa movimentação de eventos físicos para o virtual. A nova realidade motivou organizadores que nunca olharam com seriedade para a virtualização dos seus eventos a começarem a tratar isso como prioridade. 

Agora, ficou muito mais evidente que quem tem comunidades mais engajadas consegue continuar entregando valor, tanto para seu público final, quanto para seus patrocinadores

Mesmo pós pandemia, esse recurso deve se manter e vai começar a ser utilizado com mais intensidade pelas empresas. O face-to-face, o evento ao vivo, não vai morrer, mas ele mudou para sempre a partir deste cenário.