Para setores intensivos em mão de obra, a IA representa tanto uma oportunidade quanto um desafio existencial. Empresas que abraçarem essa transformação poderão superar limitações históricas e redefinir sua competitividade. / Imagem: DALL-E/SC Inova
[05.12.2024]
Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”.
O impacto da IA na produtividade corporativa vai muito além da eficiência: ela redefine a dinâmica entre automação e especialização. Os setores mais dependentes de mão de obra, historicamente marcados por produtividade marginal decrescente, enfrentam riscos elevados frente à automação. Esses setores não apenas falham em escalar sua produtividade, mas também ficam vulneráveis à substituição por tecnologias exponencialmente mais eficazes.
SETOR DE SERVIÇOS VS. TECNOLOGIA
Empresas baseadas em mão de obra intensiva, como call centers e manufatura sob contrato, enfrentam quedas acentuadas de produtividade marginal à medida que crescem. Novos funcionários adicionam pouco valor incremental ao resultado final.
Em contrapartida, empresas como Nvidia e Tesla, orientadas por propriedade intelectual (IP) e automação, alcançam ganhos exponenciais de produtividade com menos funcionários.
O DECLÍNIO DA PRODUTIVIDADE MARGINAL E O RISCO PARA SETORES DE MÃO DE OBRA
À medida que as organizações baseadas em trabalho manual escalam, suas despesas fixas (salários, aluguel, treinamento) aumentam, enquanto a contribuição marginal de novos trabalhadores diminui. Isso cria um ciclo de baixa eficiência que limita o crescimento sustentável:
- Call centers, ao adicionar novos funcionários, têm resultados limitados, pois a maior parte das tarefas são de baixa complexidade e altamente repetitivas.
- Na manufatura, o crescimento depende de mais mão de obra, enquanto a produtividade não acompanha na mesma proporção.
Em contraste, tecnologias habilitadas por IA podem operar 24/7, sem os custos fixos associados a humanos, e escalar exponencialmente à medida que aprendem e otimizam processos.
A automação intensiva por IA transforma radicalmente o panorama para setores de mão de obra intensiva, substituindo tarefas repetitivas e manuais por sistemas inteligentes. Isso não apenas reduz custos fixos, mas também melhora a agilidade operacional, convertendo despesas fixas em variáveis.
- Copilotos digitais em empresas de serviços aumentam a produtividade em até 20%, reduzindo a dependência de funcionários para tarefas como atendimento ao cliente ou vendas.
- Na construção civil, robôs humanoides já executam atividades complexas como levantamento de materiais e montagem estrutural com maior precisão e velocidade do que humanos.
A TRANSFORMAÇÃO DAS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS
Além de impulsionar a produtividade, a IA permite que empresas reorganizem suas operações em torno de modelos mais enxutos e ágeis. Departamentos inteiros, antes essenciais, agora podem ser eliminados ou reduzidos com a integração de tecnologias avançadas.
Riscos e consequências:
- Para setores dependentes de mão de obra, o risco não é apenas econômico, mas estrutural. Organizações incapazes de adotar automação podem perder competitividade, sofrendo margens operacionais menores e maior vulnerabilidade a crises.
- A marginalização de trabalhadores em tarefas repetitivas pode gerar desafios sociais, como aumento do desemprego e descontentamento.
A adoção de IA não é opcional — é uma necessidade estratégica para sobreviver e prosperar. No entanto, a transição deve ser feita com atenção ao impacto social e às oportunidades de requalificação de talentos.
AÇÕES RECOMENDADAS:
- Avalie Vulnerabilidades: Identifique áreas de baixa produtividade marginal em sua organização e priorize a automação dessas funções.
- Adote Tecnologias Escaláveis: Invista em IA para substituir tarefas manuais, reduzindo custos fixos e aumentando a agilidade operacional.
- Requalifique Talentos: Desenvolva programas de capacitação para redirecionar sua força de trabalho a funções criativas e estratégicas.
- Transforme Estruturas: Reorganize sua empresa para modelos mais planos, eliminando camadas intermediárias desnecessárias e concentrando esforços em inovação.
- Implemente Agentes Digitais: Explore o uso de agentes de IA para funções administrativas, suporte ao cliente e vendas, melhorando margens operacionais.
Em suma, para setores intensivos em mão de obra, o impacto da IA representa tanto uma oportunidade quanto um desafio existencial. Empresas que abraçarem essa transformação poderão superar limitações históricas e redefinir sua competitividade.
No entanto, o sucesso dependerá de uma abordagem balanceada, que combine eficiência tecnológica com responsabilidade social. Líderes que entenderem a disrupção como um catalisador de reinvenção terão o diferencial para prosperar neste novo paradigma.
A produtividade do futuro não será medida pelo número de trabalhadores, mas pela eficácia das tecnologias implantadas e pela criatividade humana que elas habilitam.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Mohapatra, Hemant. AI — O Último Empregado? Como os gastos de CAPEX em IA das bigtechs remodelarão as futuras estruturas de custos corporativos. Medium, Novembro de 2024. Disponível em: https://medium.com/@MohapatraHemant
- Brynjolfsson, Erik; McAfee, Andrew. The Second Machine Age: Work, Progress, and Prosperity in a Time of Brilliant Technologies. W. W. Norton & Company, 2014. Explora como tecnologias avançadas estão transformando produtividade e trabalho.
- Davenport, Thomas H.; Kirby, Julia. Only Humans Need Apply: Winners and Losers in the Age of Smart Machines. Harper Business, 2016. Discute o impacto das máquinas inteligentes na produtividade e no trabalho humano.
- McKinsey Global Institute. The Future of Work in Advanced Economies. Relatório, 2023. Disponível em: https://www.mckinsey.com. Análise detalhada do impacto da automação em setores intensivos em mão de obra.
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