[OPINIÃO] Governo 5.0 pode transformar gestão pública com integração de tecnologias e foco no cidadão

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[OPINIÃO] Governo 5.0 pode transformar gestão pública com integração de tecnologias e foco no cidadão

O resultado é uma sociedade que, a partir de governos inteligentes, possa ser resiliente em situações imprevisíveis e incertas, como a Covid

O resultado é uma sociedade que, a partir de governos inteligentes, possa ser resiliente em situações imprevisíveis e incertas, como foi a pandemia. / Imagem: SC Inova/DALL-E


[18.07.2024]

Por Lúcia Mees, Vice-presidente da IPM Sistemas

Em 2016, o governo japonês apresentou seu plano para o futuro da sociedade, propondo uma quarta revolução industrial para a integração de tecnologias emergentes como a inteligência artificial (IA) para equilibrar o desenvolvimento humano e social. Assim surgiu o conceito de Sociedade 5.0, em uma visão que se tornou quase profética: ano após ano, vimos inovações como a IA, a Internet das Coisas (IoT) e a robótica transformando a rotina das pessoas em um ritmo sem precedentes. Enquanto a modernização do setor privado seguiu a passos largos, com marcos como o lançamento do próprio ChatGPT, o setor público não viu o mesmo desfecho. E quando as duas partes divergem, a população é quem sai perdendo com serviços essenciais defasados, frustrando as visões otimistas do Japão de um desenvolvimento centrado no ser humano.

Nos últimos anos, esse contraste trouxe à tona o conceito de Governo 5.0, que visa resgatar a visão otimista japonesa de compatibilidade entre o desenvolvimento econômico e social. A receita? A modernização da gestão pública, mas com uma nova escala e foco. A proposta central do Governo 5.0 não é apenas automatizar as rotinas da gestão pública, mas sim utilizar a tecnologia para atender às necessidades individuais do cidadão de maneira personalizada e proativa. Isso requer integrar sistemas, utilizar tecnologias como a inteligência artificial e simplificar processos. O resultado seria uma sociedade que, a partir de governos inteligentes, seria resiliente em situações imprevisíveis e incertas, como foi a pandemia da COVID-19. Na prática, claro, o ano de 2020 só evidenciou o quanto estamos longe desse ideal.

Como dizem, às vezes são os grandes momentos de crise que evidenciam a urgência da mudança. O Brasil tomou nota disso, e investiu como nunca no governo digital ao trazer soluções como a rede gov.br e colocar mais de 4 mil serviços públicos federais no meio digital. Em todos os sentidos, as interações do brasileiro com o governo ficaram mais práticas, levando ao reconhecimento como segundo país mais maduro do mundo em governo digital. Entretanto, desafios históricos como a falta de dados, sistemas não integrados e infraestrutura insuficiente limitam os resultados do governo no desenvolvimento econômico e social, que é o que propõe o Governo 5.0.

Olhando adiante, é hora de repensar o que se espera da gestão pública e realinhar o foco da modernização. Aqui, o objetivo do Governo 5.0 não é a modernização pela burocracia, o que tem um foco interno. A prioridade é a modernização pelo cidadão e suas necessidades, o que tem um viés de impacto, justiça social e progresso econômico, e requer expandir um pouco a abordagem brasileira.

Do outro lado do Atlântico e de forma similar ao Brasil, a Estônia investiu no governo digital e perseguiu o ideal de Governo 5.0. A virada de chave vem da promoção de um “estado centrado no cidadão”, com integração total e foco no digital. Na prática, além de permitir que quase todas as interações com o governo possam ser realizadas online, a Estônia criou o X-Road, uma plataforma que integra várias bases de dados e serviços públicos. Na análise de um projeto de construção civil, por exemplo, as organizações públicas da Estônia podem acessar dados do sistema de saúde, da Secretaria da Fazenda ou do registro de empresas, e vice-versa. Seoul, indo na mesma linha, coleta e analisa dados urbanos em tempo real para otimizar a gestão dos serviços públicos, como transporte e segurança.

Aos poucos, vão surgindo países, estados e cidades com funcionamento mais tecnológico, que colocam as pessoas no centro da gestão, promovem a dignidade humana e fortalecem uma visão de futuro para o próprio Brasil. O país já é referência em governo digital, mas precisa evoluir na integração de sistemas, modernização das cidades, educação da população e inteligência de dados. E é unindo todos esses pilares que o Governo 5.0 se apresenta como a atual visão ideal de gestão pública, um pilar essencial para a construção de um Brasil mais justo e sustentável.

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