Um dos fundadores da Procomp (à direita), que criou a urna eletrônica brasileira e ajudou a automatizar os serviços bancários no país, sucede José Eduardo Fiates (à esquerda) a partir desta quinta-feira (30.01). Foto: Fabrício Rodrigues / SC Inova
[FLORIANÓPOLIS, 29.01.2020]
Redação SC Inova / Fabrício U. Rodrigues, scinova@scinova.com.br
A partir desta quinta-feira, 30 de janeiro, a Fundação Certi, uma das mais importantes entidades de pesquisa e desenvolvimento do ambiente de tecnologia e inovação de Santa Catarina, terá um novo diretor-superintendente: Erich Muschellack, engenheiro eletrônico que fundou a Procomp na década de 1980 e que vem atuando nos últimos 15 anos como investidor-anjo e mentor em startups.
Em 31 anos de existência da Certi, ele é apenas o terceiro diretor superintendente – e o primeiro egresso do mercado. Ele sucede José Eduardo Fiates, que esteva à frente da fundação desde 2016 e que seguirá no conselho da entidade e também na direção de Inovação da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC).
O perfil da escolha, comenta Fiates, partiu de uma demanda para “surpreender o mercado e reoxigenar a instituição”. As primeiras conversas começaram em meados do ano passado e, após o aceite, ele foi eleito pelo conselho no dia 13 de dezembro – os demais diretores dos centros da Certi seguem nos cargos para a próxima gestão de quatro anos.
À frente da Fundação, o novo diretor superintendente quer dar uma “guinada ao mercado privado”, como ele mesmo define, neste período. “A atuação comercial da Certi precisa ser reforçada e a ideia é trabalhar com um modelo de negócios mais focado a produtos e serviços para desenvolver dois pontos: a inovação tecnológica em áreas estratégicas, como indústria 4.0 e o potencial do 5G, que vai crescer em escala nos próximos anos; e no aumento de competitividade em indústrias que necessitam deste salto, como a têxtil e moveleira”, exemplifica Erich Muschellack, citando dados do Observatório da Indústria da Fiesc.
Na área de desenvolvimento de empreendedores, a intenção é integrar as oportunidades que surgem no próprio “ecossistema Certi”, que vai dos projetos iniciais do Sinapse da Inovação, a incubadora Celta, as aceleradoras Darwin Startups e Hards (voltada ao desenvolvimento de hardware) e a gestora de venture capital Cventures – ou seja, usar a própria base para alimentar os outros programas. Mas também se abrir para o ecossistema: “com um trabalho em conjunto com outras entidades, como a Acate, podemos pensar futuramente em alcançar São Paulo em termos de faturamento de nossas startups. Atualmente Santa Catarina lidera na proporção, mas não na geração de receita”.
Primeiro diretor superintendente da Certi ao substituir o fundador, professor Carlos Alberto Schneider, Fiates avalia que sua gestão teve como principais legados “o aumento de projetos feitos em conjunto pelos diversos centros da fundação” e “o esforço para a entidade se posicionar mais empaticamente no ecossistema” se integrando a projetos com outros atores. E cita o Floripa Conecta como primeiro resultado dessa união. “Podemos futuramente ter um fundo de capital de risco comum entre os empreendedores e empresas da região, ou até mesmo outras formas de apoiar novos projetos, como faz o Silicon Valley Bank, por exemplo. O desafio é crescer de maneira integrada e fazer que esse ecossistema de Santa Catarina, tão festejado, gere resultados e seja mais competitivo”, define.
PROCOMP, FUNDADA POR ERICH, SERIA O PRIMEIRO UNICÓRNIO?
Na avaliação de Fiates, a Procomp, empresa criada por Erich Muschellack e outros três sócios em meados dos anos 1980, foi o primeiro “unicórnio” gerado pelo ambiente de tecnologia de Santa Catarina, ao ser vendida para a norte-americana Diebold no final da década de 1990 por algumas centenas de milhões de dólares (o valor exato não foi divulgado pelas empresas). Mas isso num tempo que não se falava em startups, muito menos no animal mitológico que caracteriza as empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
Na mesma época em que a Certi estava nascendo (1985), Erick deixou seu cargo na SID Informática, subsidiária da Sharp, em São Paulo, para desenvolver um projeto que ele havia oferecido à empresa mas que fora recusado porque “poderia matar a linha de produtos”, lembra. O projeto em questão era de um terminal automatizado para o setor bancário, os “caixas eletrônicos” tão comuns nas agências nas últimas décadas – nos anos seguintes, a empresa se tornou líder nacional no fornecimento de automação para bancos e a sexta maior do mundo.
Em meados dos anos 1990, a Procomp venceu concorrência para desenvolver e fornecer as urnas eletrônicas que seriam utilizadas pela Justiça Eleitoral no pleito do ano seguinte. Um projeto complexo, grande e entregue em tempo recorde: foram mais de 300 mil máquinas entregues em menos de um ano. A Certi, então, já era parceira no desenvolvimento da engenharia para as urnas. “A Procomp foi a maior cliente da Certi durante 10 anos”, destaca Fiates.
Quando a Procomp foi vendida para Diebold, em 1999, contava com uma equipe de 3,5 mil funcionários, fábricas na zona franca de Manaus e um faturamento anual em torno de US$ 400 milhões, lembra Erick. Ao sair da empresa, em 2004, passou a se dedicar a investimentos-anjo e criou seu próprio fundo, atuando em diversas iniciativas e startups do ecossistema catarinense, como a healthtech Neoprospecta e a desenvolvedora de games Hoplon. Ele também tem participação na aceleradora Darwin Startups e no fundo Primus, da Cventures.
“Em termos de ecossistema, o papel da Certi será o de participar em conjunto com as outras entidades locais de projetos que aumentem a chance de sobrevivência de nossas startups. E isso passa também por atrair outros fundos, nacionais e internacionais, para a região”, conclui.
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