A proximidade das eleições municipais motivou o Grupo de Cidades Inteligentes – iniciativa do WTC de Curitiba, Joinville e Porto Alegre – a elaborar uma carta aberta sobre o impacto e as oportunidades que as smart cities podem gerar na sociedade – e na economia. Confira o documento na íntegra:
[01.11.2020]
Redação SC Inova, scinova@scinova.com.br
O cenário de eleições municipais neste ano descortina uma nova oportunidade para a sociedade brasileira.
Apesar de todos os desafios que o momento sócio-econômico demanda – do combate à pandemia ao equilíbrio das contas públicas – há uma janela de oportunidades que pode representar um novo pacto entre população, o ambiente empresarial e o setor público: a necessidade de tornarmos nossas cidades mais inteligentes, que impulsione o desenvolvimento econômico, facilite acesso de serviços à comunidade, promova transparência nas ações públicas e crie uma conexão entre governo, sociedade civil, mercado e instituições de ensino.
Vivemos um momento singular da História, em que o isolamento provocado pela pandemia da Covid-19 nos fez abraçar uma realidade cada vez mais digital, da escola de nossos filhos ao trabalho remoto, relações pessoais e a interação com serviços públicos.
O Grupo de Cidades Inteligentes, iniciativa do Programa de Competitividade do WTC Curitiba, Joinville e Porto Alegre, vem a público para compartilhar ideias e conhecimento, além de sugerir aos gestores públicos que forem eleitos neste mês, estratégias e planos de ação que contribuam com o desenvolvimento das cidades de nossa região. Além de um fórum de debate, queremos servir como um player de conexão entre lideranças do mercado, academia e setor público, além de atuar como um hub de boas práticas, conteúdo e inspiração.
Mais do que nunca, as cidades ganham protagonismo na sociedade contemporânea. Se elas geram condições favoráveis, os cidadãos ganham em qualidade de vida, de serviços e oportunidades de emprego, renda e lazer. Se elas não correspondem às necessidades da população, perdem em atratividade e, consequentemente, talentos e potencial econômico.
“As cidades são na verdade uma plataforma de oportunidades. Tratá-la sob essa perspectiva, abrindo seus serviços, incentivando e possibilitando conexões – como um software e suas APIs, permite que a sociedade contribua, que a criação de novas startups seja incentivada, assim como a atração de players consolidados“, diz o presidente do GCI, Jean Vogel.
“Cria-se assim um ambiente propício à colaboração, inovação e ao compartilhamento sustentável, valores cada vez mais presentes junto a sociedade e aos talentos, que são os verdadeiros agentes transformadores e principais ativos das cidades inteligentes“, resume.
Para isso, ancoramos nossa visão sobre a importância dos novos gestores públicos em desenvolver cidades mais inteligentes a partir de cinco premissas:
#1: Uma cidade inteligente é mais do que tecnologia, é colaboração
Há uma visão simplista de que desenvolver uma cidade inteligente significa fazer investimentos gigantescos em novas tecnologias e infraestrutura de redes. Existem diversos conceitos, mas uma cidade inteligente é aquela que ajuda a melhorar a vida de seus cidadãos, seja com acesso simplificado a serviços (saúde, educação, segurança, mobilidade), com menor burocracia para quem quer empreender e mais transparência na gestão pública, entre muitas outras questões.
E como dar os primeiros passos para ser uma cidade mais inteligente? Tudo começa com uma mudança de mentalidade: a gestão pública precisa estar aberta, conhecer e se conectar com suas universidades e demais instituições de ensino, ouvir as demandas da população, ter uma interlocução transparente e propositiva com o setor privado e entidades representativas do mercado, criar desafios para que startups ajudem a pensar em soluções.
Cada cidade tem realidades, desafios e potencialidades distintas – mas o mindset deve ser o mesmo: entender que é a sinergia entre os atores da tríplice-hélice que trará as soluções para seu desenvolvimento.
Uma cidade inteligente é baseada nos princípios de colaboração, abertura e engajamento.
#2 “Smart spaces”: equipamentos públicos como ambientes inteligentes
E onde a comunidade pode colaborar e se engajar com uma cidade inteligente? Não há outra resposta que não vivendo a própria cidade: escolas, espaços corporativos, parques e praças, hospitais e postos de saúde podem se tornar smart spaces. Hoje há pouquíssima conectividade nestes ambientes, que são ocupados por parte significativa da população.
As cidades inteligentes transformam sua capacidade instalada em ambientes de inovação e conexão. Por isso, é fundamental estabelecer, transformar e oferecer à população espaços públicos que sirvam como hubs de ideação, desenvolvimento e até mesmo testes de novos serviços e tecnologias.
Em paralelo, os governantes podem atuar em sinergia com setor privado e instituições de ensino para estimular, com políticas de fomento ao empreendedorismo, novos centros de inovação, que não sejam apenas espaços de trabalho, mas também de encontros e negócios. A cidade inteligente é aquela que facilita conexões.
#3 Atração de talentos – e não apenas de CNPJs
Historicamente, os gestores públicos priorizaram a atração de novas empresas e indústrias para seus municípios para ampliarem sua receita (impostos) e gerar empregos. Mas isso hoje não basta: uma cidade inteligente demanda uma sociedade inteligente, por isso o gestor público do século XXI precisa também definir estratégias e ações para atrair e manter talentos.
Políticas públicas como Plano Diretor, urbanização, mobilidade, educação, lazer e segurança devem ser pautadas no contexto de uma sociedade inteligente e conectada. Há uma nova competição global entre as cidades, e o capital humano mais qualificado tende a se estabelecer onde houver a melhor qualidade de vida, boa infraestrutura de serviços e conectividade, menos burocracia para empreender e um ambiente ecologicamente saudável.
#4 Usar dados e inteligência artificial para tomada de decisão
As cidades inteligentes devem usar a tecnologia a favor da gestão pública, de maneira descomplicada, que gerem dados e insights fundamentais para a tomada de decisão dos governantes. Há uma série de plataformas e sistemas disponíveis, de baixo custo ou mesmo gratuitas, que usam bancos de dados públicos e podem ser aplicados à realidade local.
Temos o momento ideal para que as cidades se tornem ambientes propícios para inovar, incluir digitalmente seus cidadãos e facilitar a oferta de serviços.
Como melhorar a mobilidade urbana? Que regiões demandam maior investimento em segurança, ou uma infraestrutura de serviços (creches, escolas, parques)? A tecnologia tem ajudado cidades mundo afora (de grande ou pequeno porte) com dados e evidências que facilitam a criação de projetos e políticas públicas que façam sentido para seus habitantes.
Neste 2020 em que a sociedade vai escolher democraticamente as novas lideranças municipais pelos próximos quatro anos, temos o momento ideal para que as cidades se tornem ambientes propícios para inovar, incluir digitalmente seus cidadãos e facilitar a oferta de serviços. Isso acontece quando os gestores públicos encaram uma nova maneira de pensar – e planejar – as cidades.
#5: Inovação nas cidades mobilizam o ambiente empresarial
O estímulo à inovação nas cidades movimenta, consequentemente, todos os segmentos empresariais ligados a novos negócios e tecnologia. Quando o poder público abre a possibilidade de testar um serviço inovador à população, ele cria um ambiente de validação de mercado para novas soluções, o que facilita a conexão entre grandes empresas e startups.
É a oportunidade para transformar a infraestrutura já instalada nas cidades (como as redes 4G) em novas plataformas de serviço para o bem comum. Isso significa um alto potencial de novos investimentos, geração de empregos qualificados – e ganho de eficiência ao poder público.
Em um momento sensível à economia dos municípios, e em meio a uma acelerada transformação digital, não faltam razões para os futuros gestores públicos colocarem a inovação na ordem do dia, estimulando iniciativas e projetos que criem uma relação de inteligência entre as cidades e seus moradores.
JEAN VOGEL
Presidente GCI – WTC Curitiba | Joinville | Porto Alegre
MILTON FABRICIO
Diretor executivo WTC Curitiba | Joinville | Porto Alegre
GRUPO CIDADES INTELIGENTES
WTC CURITIBA | JOINVILLE | PORTO ALEGRE
01 de Novembro de 2020
No dia 09.11, o GCI debate o tema Smart Mobility em uma live, a partir das 19h, com presença de Douglas Tokuno (Head do Waze Carpool LATAM), Andrei Kuhnen (gerente de Engenharia da Renault América Latina) e Simon Locher (Relações Institucionais / Zurich Airport América Latina). A mediação é de Jean Vogel, presidente do CGI. A transmissão será pelo canal do WTC Joinville no YouTube (clique aqui).
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