Como inovar e estimular uma educação “fora da caixa” em uma sociedade profundamente impactada por avanços tecnológicos e de informação?
E como fazer isso em um país como o Brasil, que figura em péssima colocação nos rankings mundiais de desempenho escolar?
O SC Inova ouviu alguns painelistas que participaram do encontro internacional Educação Fora da Caixa, promovido em Florianópolis nos dias 2 e 3 junho pelo governo do estado de Santa Catarina em conjunto com universidades (UFSC, Udesc) e instituições como Sebrae, Acate e Recepeti, entre outras.
Para os especialistas, é hora de reconhecer que o modelo atual de educação não dá respostas à evolução da sociedade e das ferramentas tecnológicas, mas que, ao mesmo tempo, a mudança deve partir das pessoas.
Pensar fora da caixa ou construir novas caixas?
Lúcia Dellagnelo,
diretora presidente do Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB)
É impossível pensar totalmente fora da caixa. A grande novidade é construir novas caixas, mas não isoladamente. Isso tem que ser construído misturando as tribos, não só com teóricos, mas com empreendedores também, criando caixas diferentes e colaborativas. A maioria das empresas de edu tech (tecnologia para educação) que se mantém vivas no vale do silício tem entre os sócios um educador.
Para sermos pessoas inovadoras, precisamos de três competências: conhecimento específico, capacidade de análise e predisposição para colaborar. É preciso ter a capacidade de analisar um problema, decompor esse problema e pensar como fazer diferente. Mas nenhuma cabeça sozinha consegue resolver um problema. Uma ideia é sempre uma rede, como diz Steve Johnson (autor de De Onde Vem As Boas Ideias), pois conecta várias e diferentes referências do que a gente já viu e leu.
A grande polêmica hoje é se ensinamos ou não programação para crianças. Programação hoje é tão importante para o desenvolvimento quando aprender a ler numa sociedade baseada na informação e na tecnologia. Todos os países que estão crescendo já atualizaram seus currículos e nós nem estamos falando sobre isso.
No Brasil, estamos estagnados há 20 anos na educação. Não há um plano de ação para o uso de tecnologia em sala de aula – apenas um quinto das escolas envolvem os jovens no ensino médio nessa discussão. Em uma pesquisa que fizemos com 14 mil escolas, 70% dos professores dizem que usam tecnologia, mas de que forma? Para procurar figuras na internet para ilustrar a aula ou fazer power point.
O caos na educação é uma oportunidade para a inovação
Diego Calegari
CTO da Secretaria de Estado da Educação em SC e fundador da startup Politize!
A educação vem passando por um momento de crise, porque ainda insistimos em um modelo que está trazendo resultados absolutamente ruins. A gente tem tecnologia, comunicação que superam barreiras geográficas. Esse momento de caos é na verdade um momento de oportunidade. Muito mais do que problema, o caos é uma forma de vermos que esse sistema está falindo.
Por isso, quando pensamos em educar fora da caixa, não é ignorar o passado. É ressignificar tantos teóricos clássicos, como Vygotsky, Piaget, Paulo Freire e outros num contexto contemporâneo. Temos que usar essa matéria morta do modelo atual de educação como matéria prima pro novo que vai vir.
Estamos num momento extremamente sensível no momento atual, que é a questão política, com as pessoas cada vez menos tolerantes para conversar de uma maneira civilizada, respeito, ouvindo a opinião do outro. Então a gente observa que hoje fazer educação para a cidadania é estimular as pessoas se darem conta que as políticas públicas e a forma como o governo funciona e as coisas acontecem no setor público não vão mudar enquanto a gente não tomar a iniciativa.
A verdade é que o Brasil é um dos países com maior maturidade institucional para participação. Existem inúmeros instrumentos legais consolidados pela Constituição para que o cidadão participe. As pessoas também precisam se educar para a cidadania.
A educação deve ser pensada em rede
Márcio Vieira de Souza
Professor da UFSC e supervisor do Laboratório de Educação em Rede (Led Lab/EGC)
É preciso pensar a educação como redes. E a sociedade em rede pela qual vivemos hoje é resultado da crise do estatismo e do capitalismo, com a ascensão dos movimentos sócio-culturais, como o liberalismo e o feminismo, por exemplo.
O conceito de inteligência mudou muito nas últimas décadas e a educação mudou com isso. O desafio hoje é aprender a pensar, solucionar e transformar. Na época da Guerra Fria, 80% das informações eram sigilosas. Hoje é possível encontrar muitas dessas informações por meio de fontes abertas.
Na educação, ganha força nos Estados Unidos e na Europa o conceito de sala de aula invertida, em que não é mais o professor quem determina o que os alunos vão aprender, por que não dá pra competir com o Google, e a aula passa a ser um momento de discussão de temas que são estudados em casa, estão disponíveis na internet. Agora é a hora de experimentar, de criar, de inovar. E vejo que diversas instituições de ensino, entidades e o governo em Santa Catarina estão buscando, em eventos como esse, algumas respostas.
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