Segundo Lucas Martins, novo diretor de ESG do LIDE/SC, 43% dos consumidores globais querem comprar de quem beneficia a sociedade, mesmo a um custo mais alto, e que há muita “maquiagem verde” no mercado. / Foto: Towfiqu barbhuiya (Unsplash)
[02.02.2022]
Por Lucas Martins, Presidente da holding BVW/A, diretor de Marca da ADVB/SC e diretor de ESG no LIDE/SC.
A preocupação das organizações em se adaptarem cada vez mais aos padrões ESG movimenta um mercado trilionário. Em 2021, o setor bateu recordes atingindo a casa dos US$ 30 trilhões. Segundo um levantamento feito pela Bloomberg Professional Services, esse valor poderá chegar a US$ 53 trilhões em 2025. A conferência do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e a COP26 foram eventos que trouxeram ainda mais à tona e jogaram luz sobre as questões ESG.
As empresas que não se preocuparem com o ESG – sigla do inglês Environmental, Social and Governance, que se refere a questões ambientais, sociais e de governança – acabarão ficando para trás. Não é mais uma questão de futuro ou de ajuda social, agora é o eixo de cada produto ou serviço.
Dificilmente uma empresa conseguirá crescer se não rever de modo autêntico a sua ética de negócios, sem redesenhar o modo como se relaciona com o ambiente e, principalmente, com as pessoas, re-humanizando o convívio e modos de trabalho complexos, seja com melhores condições de trabalho, seja reduzindo violações dos direitos humanos ou emissões de CO₂ e, ainda, como cuida de sua governança.
Os debates precisam ser genuínos, partindo do alto executivo, passando por uma real compreensão do tema, sabendo que políticas e ações que deram certo no passado não são mais as ideais para o momento atual perante uma visão macro de economia e sociedade.
Em São Paulo, temos o exemplo do incrível Cidade Matarazzo, um oásis no coração de São Paulo com edifícios centenários, como a Maternidade Filomena Matarazzo, que agora dá lugar ao Rosewood, primeira unidade na América do Sul e uma das mais luxuosas redes hoteleiras do mundo, comandada com maestria por Edouard Grosmangin.
Um inédito estilo de vida unindo hospitalidade, moda, gastronomia e cultura, capitaneado pelo multiempreendedor francês Alex Allard, um entusiasta do Brasil, conhecido pela reabilitação de marcas como a Balmain e Royal Monceau em Paris. Complexo que ainda conta com a presença do hotel Rosewood.
Na arquitetura, o projeto do hotel conta com a assinatura do arquiteto francês Jean Nouvel (seu primeiro trabalho na América Latina), o designer de interiores Philippe Starck, além de mais de 50 nomes artísticos importantes do cenário brasileiro. Ele estará anexado à Torre Mata Atlântica, com mais de 100 metros de altura e 122 suítes na parte hoteleira e 90 apartamentos para moradores. A torre acomodará inúmeros tipos de árvores, formando uma continuação vertical da área verde do complexo, que possuirá mais de dez mil árvores nativas da Mata Atlântica.
Desse modo, quando concluído, o Cidade Matarazzo abrigará a maior floresta urbana do mundo. O projeto conta ainda com a presença marcante do arquiteto Rudy Ricciotti criando o Edifício Ayahuasca, o primeiro edifício de escritórios com serviços de alto luxo em São Paulo. Com apenas cinco lajes, este arrojado centro corporativo foi projetado em meio a prédios tombados para dialogar com o seu contexto histórico através da natureza. Sua fachada de cipós de concreto revestidos de trepadeiras naturais cria uma paisagem exuberante.
A pesquisa EY Future Consumer Index revelou, recentemente, que 43% dos consumidores globais querem comprar de empresas que beneficiam a sociedade, mesmo a um custo mais alto. E isso tem uma lógica muito simples: se é minha a decisão de compra, parte da responsabilidade é minha também.
No momento em que o mercado de consumo ganha consciência e tem acesso às informações da cadeia produtiva de determinado produto, incorpora em seu processo de análise de decisão as questões socioambientais. Estas, por sua vez, estampam o noticiário diariamente, alimentando o mercado destas percepções negativas.
ATENÇÃO AO “GREENWASHING”
Portanto, é razoável, como estratégia de negócio, pensar que responsabilidade socioambiental também é posicionamento de mercado (o que, volto a dizer, necessita ser um complemento, pois dificilmente a visão apenas de posicionamento trará verdade e autenticidade necessária para ser um agente de mudança).
O importante é que a agenda seja genuína. Há muito greenwashing (maquiagem verde, em tradução livre) no mercado hoje. Então, antes da adoção de qualquer prática, é preciso que as empresas pensem em como elas afetam a sociedade e o meio ambiente e como contribuem na geração de valor dentro destes mesmos ativos. Esse é o início coerente para uma agenda com propósito ESG.
As deficiências brasileiras no campo ambiental são muitas, mas, por outro lado, os desafios são enormes. O Brasil é um dos países com as maiores desigualdades sociais – tem mais de 35 milhões de pessoas sem acesso à água potável – e, quando o assunto é desmatamento, o cerrado, outro importante bioma nacional, teve aumento de 25% em 2021. O setor privado no Brasil, em sua maioria, é ambientalmente responsável e comprometido com esta agenda. Mas é fato que, por estarem em ambiente com estes problemas, precisam ser melhor preparados.
Junto a isso, temos diversos movimentos acontecendo, como agrofloresta (com possibilidade de novas formas de geração de alimentos). Temos o movimento, também, do crédito de carbono acontecendo de forma global, com diversas empresas assinando protocolos e começando a agir, onde alguns países já saíram da forma voluntária para a forma involuntária. Aumento considerável da produção energética através de lixo e o aumento exponencial da necessidade de formas de geração de energia limpa; enfim, uma variedade enorme de possibilidades, possibilidades do tamanho do nosso país.
A recomendação para aqueles que estão tomando consciência da importância de contribuir com práticas de ESG é começar com pequenas atitudes. De preferência que beneficie uma comunidade próxima à empresa. Assim, o impacto social poderá ser medido e sentido, motivando a continuidade das ações e a criação de uma cultura corporativa.
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