Investidores e especialistas detalham diferenças, benefícios e os principais processos para uma bem sucedida oferta privada de ações.
[29.07.2021]
Redação SC Inova, scinova@scinova.com.br
O fortalecimento do mercado de capitais no Brasil nos últimos anos – impulsionado pela expansão de fundos de investimento e o crescimento de empresas listadas em Bolsa no período – abre novas frentes e estratégias para organizações no país. Uma delas é a busca por investidores externos, seja para ampliar ou reestruturar operações, ou para adquirir outras empresas e se consolidar no mercado.
A opção pela captação de recursos via Private Equity, a oferta privada de ações para investidores, foi o tema do segundo encontro do Grupo de Funding e M&A, iniciativa do Programa de Competitividade do WTC Curitiba, Joinville e Porto Alegre, realizado nesta terça (13.07) e que trouxe como convidado o investidor e especialista em finanças corporativas Bruno Dequech Ceschin, fundador da Jupter – uma plataforma de inovação e conexão entre startups e investidores.
Na presença de diversos executivos, empreendedores e especialistas, o encontro – além de fortalecer o networking entre todos – deixou entre as lições os riscos e oportunidades deste tipo de operação, orientando os participantes a entender se, em suas empresas, faz sentido ou não iniciar a captação externa de recursos.
Conceitualmente, lembra Bruno, o private equity (PE) é toda e qualquer operação de venda de ações da empresa de maneira privada, ao contrário do IPO – a oferta pública de ações na Bolsa de Valores. “Atualmente, há pouca diferença prática entre o private equity e o venture capital. Em geral, o PE é mais incisivo na gestão da empresa, tende a ser majoritário e a criar uma estratégia própria de condução dos negócios. Os VCs em geral são acionistas minoritários e mais amigáveis ao empreendedor, não vai tocar a operação”, explica Bruno, que foi um dos primeiros investidores da fintech catarinense Asaas, que já levantou cerca de R$ 50 milhões em diferentes rodadas de seed e venture capital.
“Em linhas gerais, o private equity vai trazer o sócio que além de gerenciar a empresa vai fazê-la mudar de patamar, conforme o objetivo que a empresa definiu ao abrir a rodada. E isso é fundamental deixar claro logo no começo: por qual razão você busca recursos?”, comenta.
Por parte dos compradores, há uma série de perfis e teses diferentes que precisam se encaixar com o momento da empresa e a necessidade da operação:
INVESTIDOR ANJO E VENTURE CAPITAL: para negócios early stage, em que há premissas variáveis no negócio e, portanto, mais riscos |
GROWTH PRIVATE EQUITY: focado para empresas que já estão em fase de crescimento em escala, muito semelhante ao venture capital; |
CONTROLE: o comprador entra para fazer a gestão do negócio conforme sua expertise e estilo, como nas aquisições do fundo 3G, de Jorge Paulo Lemann; |
CONSOLIDAÇÃO: modelo recomendado para empresas que querem se consolidar no mercado comprando concorrentes ou negócios complementares; |
TURNAROUND: voltado para organizações que precisam de mudanças mais profundas na gestão, troca de sócios ou recursos para destravar estratégias ou momento de mercado; |
SETORIAIS: comuns em mercados como agro, infraestrutura, imobiliário e tecnologia – o fundo/investidor pode entrar na empresa ou apenas em algum projeto específico |
DISTRESS: perfil para negócios repletos de problemas e entraves, que precisam se desfazer de ativos ou emitir dívida para “desestressar” o caixa |
SITUAÇÕES ESPECIAIS: em operações muito específicas, que não estão em nenhuma das definições acima; |
Bruno explica que cada fundo tem uma tese específica e “buscar recursos com qualquer um simplesmente não vai funcionar. Se os seus motivos e os do investidor não estiverem alinhados, nem adianta seguir com o processo adiante”.
Na visão de Paulo Junqueira, presidente do Grupo de Funding e M&A, há outra estratégia importante para empresas que estão em busca de captação de recursos por funding ou IPO: o “dual track”, um caminho pelo qual a companhia se estrutura para a oferta pública de ações com todos os especialistas e informações necessárias, mas aproveita esta mobilização para negociar um investimento em private equity.
“O posicionamento da empresa e a forma como você vai apresentar seu caso e seu mercado é decisivo para a geração de valor e o potencial de multiplicador para o investimento”, detalha Junqueira.
Como reforça Bruno Dequech: “o dinheiro é uma commodity. O que realmente importa é como aquele partner do fundo investidor vai se comportar no conselho de administração de sua empresa, se vai ajudar a crescer. É um processo doloroso, com muitas discussões, mas se o investidor confiou na empresa, vai estar junto para gerar valor”.
TIMELINE DO PROCESSO:
- PREPARAÇÃO: ao longo dos primeiros meses, a empresa precisa produzir um memorando de informações para o mercado e um plano de negócios/financeiro básico explicando as razões desta captação ;
- OUTREACH DE MERCADO: uma das fases mais complexas, que pode durar anos, de acordo com a maturidade da empresa e do momento de mercado. A empresa que busca recursos abre suas informações, começa a receber propostas e negociar por meio de acordos de confidencialidade até definir o fundo que será o novo investidor;
- NEGOCIAÇÃO: processo de due dilligence e entrada do time jurídico de M&A no processo. Pode durar alguns meses e a recomendação é ser extremamente cuidadoso com as cláusulas de contrato;
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