[OPINIÃO] Conexões Inteligentes: dados são o novo petróleo?

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[OPINIÃO] Conexões Inteligentes: dados são o novo petróleo?

Mas sem o engajamento das lideranças, a chance de sucesso do uso dos dados como ferramenta é bastante reduzida

Mas sem o engajamento das lideranças, a chance de sucesso do uso dos dados como ferramenta é bastante reduzida – principalmente porque será preciso criar uma cultura interna de dados. / Foto: Zbynek Burival (Unsplash)


[03.10.2025]

Por Ademar Paes Júnior, médico, CEO da Lifes Hub e presidente da Unimed Grande Florianópolis.
Escreve sobre inovação/big data/saúde

Todos que trabalhamos com Big Data já ouvimos inúmeras vezes afirmações sobre o potencial dos dados como grandes geradores de riqueza. De forma bastante simplificada, a ideia é resumida na frase “os dados são o novo petróleo”. O corolário dessa afirmação é uma imagem simpática. Em uma releitura dos desenhos animados de antigamente, nos quais os personagens enriquecem depois de cavar um pequeno buraco no próprio quintal e encontrar poços do “ouro negro” ao acaso, conviveríamos com grandes bolsões de informação valiosa escondidos pela rotina de planilhas e relatórios nas empresas. Bastaria então acessar o lugar certo para obter informação valiosa capaz de melhorar os balanços das organizações. 

Infelizmente, essa é uma ideia bastante equivocada. 

De forma alguma deixo de reconhecer o valor estratégico do Big Data. Dados são sinônimo de ganhos de competitividade e eficiência – geradores de riqueza, portanto. Ainda mais nos dias de hoje, quando a Inteligência Artificial multiplicou de forma impressionante o poder das ferramentas de processamento de informação. O equívoco é pensar de forma simplória sobre o assunto. 

Antes de mais nada, é preciso ter clareza de que a decisão de usar dados como ferramenta estratégica passa necessariamente pela alta gestão das organizações. Sem o engajamento de lideranças, a chance de sucesso é bastante reduzida, principalmente porque será preciso criar uma cultura interna de dados. 

Em primeiro lugar, há que se ter clareza sobre quais informações são úteis para o negócio. Nem tudo o que circula por sistemas da empresa vai necessariamente ter alguma serventia. Então cabe aos líderes do negócio identificar em que frentes é válido investir tempo, recursos e atenção para colher os maiores ganhos. 

Em seguida, é fundamental estabelecer regras para o levantamento, registro, organização, proteção (a LGPD é uma realidade e precisa estar no radar de todos) e processamento de dados. Há que se pensar na higidez das informações que serão processadas para geração de novo conhecimento. A tecnologia tem enorme poder. Mas se o input no sistema estiver contaminado, o output certamente será de pouca utilidade. 

A etapa final do processo inclui o entendimento e a aplicação prática do conhecimento gerado. Isso fica mais simples, claro, quando a empresa teve clareza no ponto de partida. Antes de desenhar um dashboard, é preciso ter em mente: quais dados vou avaliar?; qual problema eles podem me ajudar a resolver?; como vou implementar mudanças indicadas pelo novo conhecimento gerado? 

Em minha experiência profissional, acompanho estudos sobre a distribuição de equipamentos de diagnóstico por imagem nas diferentes regiões do País. Os relatórios mostram ainda a demanda por determinados procedimentos realizados nessas máquinas e a concentração geográfica de pessoas com determinadas características que podem necessitar de atendimento, entre outras variáveis. São dados que podem ter usos diferentes – e todos bastante importantes para a sociedade e empresas. Cito apenas dois a título de exemplo: o gestor público que direciona investimentos de forma mais assertiva e o fornecedor de equipamentos que antecipa em meses ou anos a demanda regional.

O dado, portanto, é uma riqueza. Mas, assim como o petróleo, também a informação precisa ser refinada, transformada e preparada para o uso antes de garantir lucros.