Na nova era dos ecossistemas inteligentes, o empreendedor passa a ser um coordenador de inteligências (humanas e não humanas) que colaboram, competem e constroem juntas soluções mais robustas. / Imagem: ChatGPT/SC Inova
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[10.12.2025]![]()
Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”.
A Inteligência Artificial está atravessando uma transformação profunda que altera não apenas a tecnologia, mas o próprio ato de empreender. Durante décadas, criamos softwares que seguiam instruções; agora, criamos sistemas que pensam, organizam informações, coordenam tarefas e tomam decisões. Essa mudança — silenciosa, mas avassaladora — marca a entrada definitiva na era dos agentes inteligentes, e esse movimento exige uma revisão completa do que consideramos estratégia, operação, experiência e escala em negócios.
O ponto central dessa nova fase não está apenas nos modelos poderosos, mas na arquitetura que os sustenta. Empreendedores acostumados a pensar em “uma IA” precisarão começar a pensar em ecossistemas de IA: estruturas formadas por múltiplos componentes inteligentes que executam tarefas em paralelo, filtram informações, competem, cooperam, avaliam hipóteses e entregam respostas de forma quase instantânea.
É uma mudança comparável à passagem da máquina de escrever para o computador — e agora, do computador para um conjunto coordenado de inteligências trabalhando simultaneamente.Isso se torna evidente quando observamos que o maior obstáculo hoje não é o processamento da IA, mas a latência. A experiência do usuário depende menos do “cérebro” e mais do fluxo. Negócios que aprendem a ocultar a latência, antecipar necessidades e paralelizar etapas criam produtos que parecem naturais, quase orgânicos. Essa fluidez torna a tecnologia invisível, e é exatamente nessa invisibilidade que está a sensação de sofisticação.
Outro aspecto que redefine o papel do empreendedor é a lógica das hipóteses paralelas. Em vez de seguir uma linha única de raciocínio ou de teste, os sistemas inteligentes exploram vários caminhos ao mesmo tempo e escolhem rapidamente o mais promissor. Essa abordagem, quando aplicada a negócios, elimina a lentidão típica de ciclos longos de experimentação. Marketing, precificação, comunicação, atendimento e expansão passam a ser arenas onde múltiplas versões competem — e o aprendizado é contínuo.
O empreendedor não avança mais por tentativa e erro, mas por tentativa múltipla, seleção e evolução. A construção de ecossistemas agentivos também exige governança. Não basta que a IA funcione, é preciso que seja auditável, rastreável e compreensível, isso vale tanto para modelos quanto para processos de negócio. O mundo que estamos construindo exige clareza — logs bem estruturados, métricas transparentes, explicações consistentes. Autonomia sem supervisão não é inteligência; é risco. E empreendedores que entenderem isso cedo terão uma vantagem significativa na criação de produtos confiáveis e escaláveis.
A COORDENAÇÃO DE EQUIPES INTELIGENTES
Há também uma mudança estrutural profunda: saímos da lógica da IA monolítica e entramos no paradigma das “equipes inteligentes”. Em um produto financeiro, isso pode significar agentes especializados em risco, outros em comportamento, outros em oportunidades, outros em compliance. Em um produto imobiliário, agentes que analisam terreno, mercado, demanda, narrativa comercial e precificação trabalham como um time. Numa healthtech, agentes médicos, regulatórios, preditivos e comportamentais formam uma orquestra.
O empreendedor passa a ser um coordenador de inteligências — humanas e não humanas — que colaboram, competem e constroem juntas soluções mais robustas. A ideia de uma memória compartilhada, semelhante a um quadro negro onde agentes depositam e consultam informações, reforça a necessidade de criar empresas que operam sobre um centro de verdade comum. Isso vale tanto para máquinas quanto para pessoas, quando equipes e agentes trabalham sobre as mesmas informações, o ciclo de decisão acelera, o retrabalho cai e a qualidade aumenta. Startups que entenderem isso transformarão seus dados em vantagem competitiva real — não como um discurso, mas como prática diária.
Outra transformação importante é a capacidade de filtrar, destilar e priorizar informações, antes de escalar, é preciso eliminar o ruído, produtos que incluem tudo se tornam lentos, caros e confusos; produtos que focam no essencial são mais inteligentes, mais eficientes e mais fáceis de amar. Na IA, isso se manifesta como pré-processamento paralelo; nos negócios, como foco estratégico. E talvez a mudança mais fascinante seja a execução antecipada: sistemas capazes de prever o próximo passo e preparar respostas antes mesmo de o usuário solicitar. Quando essa ideia entra no cotidiano de produtos digitais, a experiência deixa de ser reativa e passa a ser preditiva.
É o momento em que o usuário sente que o produto o entende — e essa sensação, mais do que tecnologia, é conexão.
A síntese de tudo isso é clara: empreender neste novo ciclo significa desenhar inteligências, não apenas aplicações. Significa estruturar arquiteturas vivas, dinâmicas, compostas por agentes que cooperam, competem, filtram, antecipam e aprendem. Significa criar negócios que se tornam mais inteligentes à medida que operam. Santa Catarina, com sua maturidade em tecnologia e inovação, tem uma janela rara para se posicionar como referência nacional nesse novo paradigma. Mas isso exige que líderes e empreendedores deixem para trás a visão tradicional de produto e adotem uma visão de ecossistema agentivo.
O futuro não será construído por quem usar IA, mas por quem souber arquitetá-la.





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