Biotech Center: em SC, um laboratório para revolucionar a indústria global de alimentação

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Biotech Center: em SC, um laboratório para revolucionar a indústria global de alimentação

Centro de inovação em biotecnologia da JBS vai desenvolver no Sapiens Parque tecnologia 100% nacional de proteínas alternativas.

Centro de inovação em biotecnologia da JBS, que terá investimento total de US$ 60 milhões, vai desenvolver no Sapiens Parque (foto), em Florianópolis, tecnologia 100% nacional para produção de proteínas alternativas. / Foto: Bruno Beretta (Divulgação)


[FLORIANÓPOLIS, 18.08.2022]
Por Fabrício Umpierres, editor SC Inova – scinova@scinova.com.br 

Portal referência em inovação lança na quinta (04.08) edição impressa durante o Startup Summit, que reúne 5,5 mil pessoas em Florianópolis.
*Matéria publicada na edição #1 da Revista SC Inova.

O futuro da alimentação, e o desenvolvimento de uma nova indústria baseada em proteínas alternativas, passa pelo ecossistema de inovação de Santa Catarina. Mais precisamente, por um centro global de pesquisa e produção que a JBS, maior companhia global de proteínas e líder em produção de alimentos, está implementando no Sapiens Parque, em Florianópolis. Nos próximos quatro anos, o JBS Biotech Innovation Center deve receber um investimento total de US$ 60 milhões – cerca de R$ 400 milhões – para desenvolver um um novo mercado para a companhia.

O projeto, anunciado em maio passado pela JBS e o Governo de Santa Catarina, prevê um espaço de 2 mil quadrados de área construída envolvendo laboratórios para aplicação de proteína cultivada, robótica e desenvolvimento de embalagens, entre outras pesquisas. Mas o que tornou a capital catarinense tão atrativa para este projeto? O que diferenciou a cidade frente a tantos hubs globais?  

Florianópolis foi escolhida por algumas “condições particulares”, como explica Luismar Porto, pós-doutor em Engenharia Biomédica, Biológica e de Biomateriais e presidente do JBS Biotech Innovation Center: “além da cidade ser um polo de inovação, o Sapiens conta com algumas empresas que desenvolveram biotecnologias avançadas, como a Biomehub e a Neoprospecta. Havia a opção de montar este centro em outras regiões, mas aqui a tecnologia de alimentos criativa encontra amparo legal”. 

Professor titular aposentado dos departamentos de Engenharia Química e de Alimentos da UFSC, Luismar fundou e foi diretor de inovação de empresas de base tecnológica. A vice-presidente do Biotech Center, a engenheira química Fernanda Vieira Berti, também mescla experiência de academia e mercado: pós-doutora na área de Biomateriais, Biodegradáveis e Biomimética, foi diretora científica e uma das fundadoras da Vetherapy, startup de San Francisco (EUA) focada no desenvolvimento de produtos baseados em células-tronco para a regeneração de tecidos animais. 

POTENCIAL PARA REPATRIAR PESQUISADORES 

Luismar e Fernanda lideram a equipe de sete pesquisadores que já está trabalhando no projeto, em um espaço provisório no Instituto da Indústria da FIESC, localizado no próprio Sapiens Parque. Ao todo, o JBS Biotech Center deve contratar pelo menos 100 pesquisadores de alta qualificação. “Queremos iniciar um movimento de repatriação de pós-doutores que não encontraram espaço no Brasil. Já trouxemos profissionais de Cingapura, Portugal, Estados Unidos e estamos com vagas abertas. Trata-se do desenvolvimento de uma tecnologia 100% nacional a partir do zero”, ressalta. 

Professores, pesquisadores e empreendedores: Luismar Porto e Fernanda Vieira Berti lideram o JBS Biotech Innovation Center, em Florianópolis

Segundo o presidente do Centro, as pesquisas são uma extensão natural da engenharia tecidual, área que ele pesquisa desde 2002. No Sapiens, a área de P&D não vai se limitar a proteínas plant-based. “Vamos mergulhar no estudo das células animais e isso nos dará conhecimento sobre o comportamento da proteína animal, o que deve melhorar o desempenho da carne que já oferecemos. É um investimento em novos mercados mas também naquilo que a companhia já tem”, resume. 

A JBS começou a olhar para o mercado de proteínas cultivadas há pouco mais de três anos, com a criação de um grupo de trabalho envolvendo times de inovação, tecnologia e marketing de várias unidades da companhia mundo afora. O projeto de uma divisão de proteína cultivada foi lançado em 2019, em Chicago (EUA), explica Eduardo Noronha, diretor global de Inovação da JBS.

PROTEÍNA CULTIVADA: ALTERNATIVA PARA CRESCIMENTO DA DEMANDA ALIMENTAR 

“Entendemos que havia uma oportunidade naquele momento de estudarmos e desenvolvermos produtos plant-based, algo que estava em diferentes níveis de maturidade mundo afora. Lançamos uma linha de proteína vegetal no Brasil e nos EUA e fizemos aquisições de empresas na Europa”, detalha. Uma delas é a Biotech Foods, fundada em 2017 e que conta com uma planta-piloto na cidade de San Sebástian (Espanha).

A empresa é uma das líderes em biotecnologia para produção de proteína cultivada e receberá investimento da JBS para construção de uma nova unidade fabril no país para dar escala à produção – o custo é estimado em US$ 41 milhões. 

Não vemos o plant-based substituindo o que temos hoje, ele será uma oferta complementar ao consumidor
“Não vemos o plant-based substituindo o que temos hoje, ele será uma oferta complementar ao consumidor”, diz Eduardo Noronha, head global de Inovação da JBS. / Foto: Like Meat/Unsplash

No projeto de Florianópolis, a JBS prevê a conclusão da infraestrutura completa até o final de 2024. A partir disso, nem mesmo a empresa sabe precisar as estimativas de crescimento e potencial deste mercado.

“Globalmente, o setor de proteína vai crescer dos atuais US$ 850 bilhões para US$ 1 trilhão nos próximos anos. Além disso, teremos 10 bilhões de pessoas no planeta até 2050, e a demanda vai crescer 70%. Não vemos o plant-based substituindo o que temos hoje, ele será uma oferta complementar ao consumidor. O motivador é criar desde já essa realidade”, comenta Noronha.

Realidade esta que ele compara ao início do desenvolvimento de outras tecnologias revolucionárias, como os computadores pessoais e os celulares. “Estamos vendo surgir um novo setor de alimentos. E criar isso a partir do zero implica uma nova cadeia produtiva, pois precisamos de uma série de insumos que certamente virão da agroindústria, da agricultura familiar. Também se abre uma nova rota tecnológica, com equipamentos que também queremos desenvolver – e Santa Catarina se coloca muito bem neste cenário, pelo polo agro e industrial que já tem e o potencial de desenvolver startups para atender a essa demanda”, conclui.