[OPINIÃO] Bioma Food Hub: caso de sucesso de habitat de inovação especializado

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[OPINIÃO] Bioma Food Hub: caso de sucesso de habitat de inovação especializado

A escolha por determinada área, somada à participação de empresas estabelecidas, acelera a curva de crescimento e os resultados de habitats de inovação, independentemente do modelo adotado

A escolha por determinada área, somada à participação de empresas estabelecidas, acelera a curva de crescimento e os resultados de habitats de inovação, independentemente do modelo adotado. / Foto: Bioma Food Hub (Facebook)


[06.07.2023]


Por Marcus Rocha,  Especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação e Gerente de Inovação e Startups do Sebrae/SC.
Escreve quinzenalmente sobre o tema no SC Inova. 

O leitor desta coluna pode perceber uma defesa constante da especialização da atuação de habitats de inovação, considerando modelos de sucesso nacionais e internacionais. No texto de hoje é realizado o relato de visita realizada recentemente ao Bioma Food Hub, durante o programa de imersão promovido pela StartSe, em São Paulo.

No geral, as visitas realizadas durante a imersão mostraram uma riqueza impressionante de iniciativas bem-sucedidas para a promoção da inovação, ao mesmo tempo em que foi possível perceber uma dificuldade muito grande na integração dos atores para formar ecossistemas de inovação equilibrados, com a participação ativa de empresas, universidades, poder público e organizações da sociedade civil. Claro que, em uma cidade com mais de 11 milhões de habitantes – isso sem considerar a região metropolitana -, é naturalmente difícil integrar todos os atores relevantes; porém, mesmo em bairros com vizinhanças bem-definidas, isso ainda não acontece por lá.

Mesmo assim, uma série de iniciativas para incentivar a geração de empreendimentos inovadores são desenvolvidas em São Paulo com sucesso, a partir de uma atuação importante de empresas estabelecidas, que percebem a necessidade de se integrar – ou até mesmo criar – comunidades de inovação. A partir de diferentes abordagens derivadas dos conceitos originais de inovação aberta, essas empresas buscam desenvolver novas soluções que possam proporcionar vantagens competitivas relevantes e, com isso, garantir o sucesso dos seus negócios no longo prazo. 

Certamente este é um exemplo a ser seguido em Santa Catarina e em outros estados do Brasil, onde as empresas estabelecidas ainda não têm participação relevante nos seus respectivos ecossistemas de inovação.

Considerando a necessidade natural de alimentação dos seres humanos, o setor alimentício é um vetor importante para demandar o desenvolvimento de inovações. As empresas dos diferentes segmentos deste setor se encontram em ambientes altamente competitivos e, por isso, as atividades para o desenvolvimento de inovações são fundamentais para elas.

O Bioma Food Hub é um ambiente de inovação criado em 2020 para trabalhar a “alimentação e seus futuros”. O manifesto publicado no site deste habitat explica o seu propósito:

… o Bioma é um coletivo independente de pessoas, marcas e iniciativas que buscam restaurar o bem-estar socioambiental através da alimentação.

Muito além de um espaço de trabalho, o ecossistema do Bioma proporciona conexões sólidas, fomenta iniciativas na área e propulsiona o pensamento sistêmico com conteúdos exclusivos, afim de participar e potencializar processos que ajudem a consolidar empreendimentos de impacto socioambiental no Brasil.

Sistemas Alimentares regenerativos é a alma do Bioma Food Hub.

Entrada do Bioma Food Hub (foto do autor)
Entrada do Bioma Food Hub. Foto: Marcus Rocha

Apesar de não ter um modelo bem definido de atuação, o ambiente de coworking ao redor de duas cozinhas experimentais, junto com diferentes ações de integração, eventos, e promoção de parcerias, já gerou várias histórias de sucesso. As cozinhas têm o apoio e recebem as marcas de indústrias relevantes para a gastronomia: Electrolux e Topema. Apenas neste ponto percebe-se que desde o início o espaço atraiu a atenção de indústrias estabelecidas que têm a inovação aberta como estratégia.

Um dos casos de sucesso que mais chamou a atenção dos visitantes foi a Notco. A empresa desenvolve alimentos com produtos 100% vegetais, mas que possuem aspecto, textura e gosto muito parecidos (senão iguais) aos equivalentes do mundo animal. O autor desta coluna provou o NotBurger, NotMeat (na forma de um “NotQuibe”), NotChicken e o NotMilk, e pode afirmar que todos são surpreendentemente muito bons, sendo que o nuget de NotChicken é igual (senão melhor) do que o produto com carne de frango.

Cozinha desenvolvida em parceria com a Topema, fabricante de equipamentos para cozinhas industriais, onde foi produzido um almoço com produtos da Notco
Cozinha desenvolvida em parceria com a fabricante de equipamentos para cozinhas industriais Topema, onde foi produzido um almoço com produtos da Notco. / Foto: Marcus Rocha

No entanto, o mais interessante sobre a Notco não diz respeito aos produtos, mas aos processos de criação e de produção. Primeiro, a empresa não possui nenhuma planta industrial, pois a produção é feita por indústrias parceiras, utilizando os tempos de ociosidade.

Segundo – e mais interessante – é a tecnologia utilizada para criar as fórmulas dos produtos, a partir de uma plataforma com inteligência artificial batizada de Giuseppe, que possui uma extensa base de conhecimentos sobre ingredientes vegetais. O processo da Notco inicia com um “pedido” para o Giuseppe combinar uma receita à base de plantas com a de um produto de origem animal, considerando aspectos como sabor, textura, teores de carboidratos, proteínas e gorduras, etc. A plataforma faz diferentes análises da estrutura do produto de origem animal no nível molecular e, em seguida, sugere uma réplica usando apenas produtos à base de plantas.

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Além da Notco, também são destacadas as empresas Nude, com produtos feitos de aveia e que provavelmente o leitor já deve ter encontrado em algum supermercado, The Question Mark Co., que também produz alimentos plant-based, Mother (suplementos) e Yamo (sorvete). Todas essas empresas buscam desenvolver produtos com graus de inovação significativos em relação ao que existe no mercado brasileiro hoje.

Os casos de sucesso desenvolvidos dentro do Bioma mostram que a especialização com a participação de empresas estabelecidas efetivamente acelera a curva de crescimento e os resultados de habitats de inovação, independentemente se o modelo adotado é mais ou menos formal. Isso inclusive serve de validação para o Fermento, iniciativa da Abrasel que já foi objeto desta coluna, e que em breve deve iniciar suas operações com espaço físico. 

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