Análise da Maturidade em Inovação Aberta: o primeiro passo para as empresas que precisam inovar

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Análise da Maturidade em Inovação Aberta: o primeiro passo para as empresas que precisam inovar

Para operar nos dias de hoje, é fundamental desenvolver redes e trabalhar de forma aberta, inclusive em relação à inovação.

Para operar nos dias de hoje, é fundamental que as empresas desenvolvam diversas redes (fornecedores, distribuidores e parceiros). Ou seja, é necessário trabalhar de forma aberta, inclusive em relação à inovação. / Foto: Israel Andrade, Unsplash


[23.11.2021]


Por Marcus Rocha, empreendedor e colunista SC Inova.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação

Nos dias de hoje é óbvio que inovar é algo fundamental para todas as organizações, independentemente do tipo (públicas ou privadas), ou do setor econômico em que atuam. A realidade mostra que a competitividade é global e, nesse sentido, é fundamental que as empresas estabelecidas, principalmente de setores mais tradicionais, e de qualquer porte, estabeleçam ações estratégicas e sistemáticas de inovação.

O resultado da última edição da Pintec (Pesquisa de Inovação) do IBGE, divulgada em 2020, mostra alguns dados preocupantes: apenas 33,6% das empresas brasileiras registraram algum tipo de inovação em produtos ou processos, sendo que 68,9% dos investimentos foram feitos por empresas de maior porte, com 500 funcionários ou mais. Mesmo que outros estudos recentes mostrem cenários um pouco melhores, é inegável que a maior parte desses negócios ainda precisa melhorar muito em termos de inovação, englobando estratégias, investimentos, talentos e processos. 

O que mais preocupa é o fato de que as empresas do nosso país que menos investem em inovação são as que mais precisam inovar, pois estão sofrendo mais com os impactos da competitividade em nível global. São negócios de médio e pequeno porte de setores mais tradicionais da economia, que representam uma parcela significativa da economia brasileira.

Para essas empresas, é difícil saber por onde começar para sistematizar as ações para a inovação. A melhor sugestão nesse sentido pode vir do filósofo Sócrates: “conhece-te a ti mesmo”. É a partir da realização de um diagnóstico da maturidade em inovação que a empresa pode identificar suas forças e fraquezas nesse assunto, para então planejar e executar suas ações.

Considera-se que, para operar nos dias de hoje, é fundamental que as empresas desenvolvam diversas redes: de fornecedores, distribuidores, parceiros, etc. Ou seja, é necessário trabalhar de forma aberta, inclusive em relação à inovação. Por isso, o diagnóstico precisa considerar a avaliação da maturidade utilizando o paradigma da inovação aberta.

Há diferentes métodos para fazer esse diagnóstico. Um dos principais é o Open Innovation Maturity (OIM), criado no Centro para Inovação em Negócios da Universidade de Cambridge por Enkel, Bell e Hogenkamp. O OIM avalia 3 dimensões principais: o clima interno para a inovação, a capacidade da organização em desenvolver parcerias, e os processos internos de inovação

Ao avaliar o clima interno para a inovação, o método OIM busca descobrir inicialmente as práticas das lideranças da empresa relacionadas às estratégias de inovação e a comunicação dos casos de sucesso. Além disso, também verifica a existência e a comunicação de objetivos claros para as ações inovadoras e a avaliação dos respectivos indicadores e metas. E procura compreender a mentalidade geral das equipes, identificando os gatilhos que promovem as iniciativas de ideias de projetos inovadores, além das práticas de seleção das ideias que surgiram.

Na dimensão da capacidade em desenvolver parcerias, o OIM primeiro avalia a reputação da empresa nesse tema, a partir da intensidade de colaboração com parceiros, da padronização e do equilíbrio das relações, e da satisfação geral dos parceiros. Em seguida, busca analisar a atual base de parceiros, considerando a diversidade em relação aos tipos e finalidades das parcerias, as práticas de desenvolvimento de redes de relacionamento da empresa, e os processos para selecionar os potenciais parceiros. Além disso, também verifica-se a existência de práticas de capacitação para que os funcionários garantam que a empresa desenvolva continuamente a sua rede.

Um dos indicadores de maturidade é a mentalidade geral das equipes, identificando os gatilhos que promovem as iniciativas de ideias de projetos inovadores. / Foto: Annie Spratt, Unsplash

A terceira e última dimensão do OIM procura conhecer e avaliar os processos internos de inovação aberta da organização, começando pela gestão do conhecimento, desde a coleta de informações, comunicação, até as práticas de absorção de conhecimentos e monitoramento de resultados. Também são avaliados os recursos disponibilizados para a inovação, considerando instalações, equipamentos, ou equipes, além do orçamento financeiro e as fontes de financiamento. Por fim, verifica-se como a empresa lida em relação aos aspectos jurídicos e de propriedade intelectual da inovação, a partir de uma perspectiva aberta, equilibrando os seus próprios interesses e os dos parceiros.

Uma vez que os resultados foram devidamente coletados e tabulados a partir de questionários respondidos por diferentes lideranças da organização, cria-se um relatório final com um gráfico de radar, que demonstra as áreas nas quais a empresa possui forças, além daquelas que precisam ser melhor desenvolvidas. Tal cenário auxilia muito na tomada de decisão em relação às frentes de trabalho que precisam ser priorizadas. 

Com isso, se pode fazer uma avaliação geral da maturidade da empresa em termos de inovação aberta, compreendendo pelo menos três níveis:

  • Conscientização: nesse estágio inicial de maturidade, as parcerias são desenvolvidas pontualmente, e a gestão da cooperação com parceiros é na sua maior parte sob demanda, pois não há estratégias de inovação em execução. A empresa precisa melhorar as suas competências em inovação aberta para melhorar suas operações internas e criar mais valor (novos produtos, serviços, ou processos) por meio de parcerias desenvolvidas constantemente.
  • Integração com as estratégias: a organização possui estratégias de inovação que reconhecem a importância das parcerias. Há processos e operações de inovação aberta para identificar, selecionar e gerenciar oportunidades de projetos e parcerias externas para inovação. A partir de uma cultura de colaboração interna e externa e da consciência de que parcerias são vias de mão-dupla, essas organizações criam uma boa reputação que atrai novos parceiros.
  • Orquestração com o ecossistema: nesse estágio de maior maturidade, a empresa trabalha de forma integrada com os ecossistemas de inovação nos quais está presente, orquestrando as relações com os parceiros, que são encorajados a compartilhar conhecimentos e tecnologias não apenas com a própria organização, mas também entre si. Isso tende a criar um sistema de colaboração que tende a trazer boas ideias inovadoras de forma espontânea.

Além de escolher um bom método de avaliação da maturidade em inovação aberta, a organização precisa garantir que a aplicação seja precisa e que os resultados sejam interpretados da forma mais neutra possível – por isso é recomendável a contratação de especialistas externos para essa etapa. A compreensão da realidade como ela é, sem mascarar problemas ou aumentar virtudes, é algo precioso para os gestores da organização, pois só assim poderão traçar estratégias que tragam respostas aos desafios.

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Também é interessante que os planos e estratégias incorporem questões que as empresas pesquisadas pelo Pintec do IBGE indicaram como barreiras para a inovação. Ações para buscar ou desenvolver pessoal qualificado, buscar fontes de financiamento, tanto públicas (como a Lei do Bem) quanto privadas, além de parcerias para mitigar riscos econômicos e mercadológicos, são importantes.

Após o diagnóstico e o plano de ação, vem a parte mais importante: a execução. Nesse ponto, os ecossistemas de inovação podem ajudar bastante. Muitas empresas da economia tradicional ainda percebem esses ecossistemas como “clubes fechados”, restritos a “empresas de tecnologia”. É fundamental derrubar essas barreiras, buscando e integrando ativamente o maior número de empresas.

Pelo lado das empresas, também é importante buscar ocupar espaços e participar ativamente de ecossistemas de inovação. Além da absorção de conhecimentos e de práticas culturais positivas, nesses ambientes é possível aprender com outras empresas que já trilharam o caminho da inovação aberta. Essa troca de experiências pode fazer com que as estratégias e planos sejam efetivamente implantados e executados com menores riscos, maximizando as possibilidades de resultados positivos, com bons retornos para os investimentos realizados e garantindo a competitividade dos negócios no longo prazo.

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