“Atingir o potencial da tecnologia vai demorar mais tempo e custar mais do que muitos esperavam inicialmente”, comenta nesta entrevista Cezar Taurion, fundador da Redcore e ex-diretor da IBM Brasil. / Imagem: DALL-E
[FLORIANÓPOLIS, 13.10.2023]
Por Alexandre Gonçalves | @agenteinforma, especial para o SC Inova
O lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, colocou a Inteligência Artificial em pauta. E apesar do uso de IA não ser novidade, o formato (o bom e velho chat…) e a dinâmica de interação amigável aproximou mais pessoas desse tipo de tecnologia. E por isso, também despertou o interesse das empresas de olho nos benefícios que o ChatGPT pode proporcionar na rotina dos negócios. Mas a IA Generativa da OpenAI é suficiente para que organizações provoquem verdadeiras revoluções em suas rotinas?
Para Cezar Taurion, a resposta é não:
“A diferença entre usar uma ferramenta como o ChatGPT de forma pessoal e no ambiente corporativo é abissal: as empresas são obrigadas a seguir regras de compliance, normas de auditoria e estar aderentes às legislações como LGPD e as do próprio setor, alguns dos quais bem rigorosos, como saúde e mercado financeiro. As principais barreiras são os dados.”
Fundador da Redcore, Taurion é ex-diretor de Novas Tecnologias Aplicadas e Chief Evangelist na IBM Brasil e tem escrito e compartilhado conteúdos sobre IA. E na entrevista a seguir, concedida à newsletter agenteGPT, ele detalhe os principais obstáculos que as empresas precisam superar para que a aplicação da Inteligência Artificial no ambiente corporativo.
Quais são os maiores obstáculos das empresas na tentativa de integrar a IA em suas operações diárias?
Cezar Taurion – Saindo do hype da IA generativa, o que vemos são as empresas ainda lutando para implementar a nova tecnologia, enfrentando obstáculos de custos e de gestão de dados que fazem com que muitos dos seus projetos de IA generativa fiquem presos na fase piloto e não entrem em produção.
As empresas continuam otimistas quanto ao aumento da produtividade prometido pela IA generativa, mas para atingir o potencial da tecnologia vai demorar mais tempo e custar mais do que muitos esperavam inicialmente. Estão vendo que não é apenas escrever prompts.
A diferença entre usar uma ferramenta como o ChatGPT de forma pessoal e no ambiente corporativo é abissal: as empresas são obrigadas a seguir regras de compliance, normas de auditoria e estar aderentes às legislações como LGPD e as do próprio setor, alguns dos quais bem rigorosos, como saúde e financeiro. As principais barreiras são os dados.
Muitas empresas estão descobrindo que seus dados não estão organizados para serem usados adequadamente por sistemas de IA. Estão em formatos diferentes, em conjuntos de dados díspares e, às vezes, ainda com muitas inconsistências entre os data sets. A seguir preocupações com segurança, privacidade, eventuais infrações de propriedade intelectual autoral e as sempre presentes alucinações, que são inerentes ao modelo.
E como a avaliação da maturidade digital é importante nesse processo?
Cezar Taurion – Muitas organizações não estão prontas para implementar IA, com baixo nível de maturidade digital e em IA, e acredito que ainda possa levar 5 anos ou mais para incorporarem totalmente a IA nos seus fluxos de trabalho. Mas, a IA generativa abre novas oportunidades. Mas também força os executivos a lidar com novas incógnitas. A estratégia não deve ser usar a ferramenta e sair em busca de problemas onde ela possa ser solução. E nem deve ser “fazer algo com ChatGPT”.
Portanto, uma abordagem estratégica correta e eficaz para a IA generativa ajuda a distinguir o sinal do ruído. Os executivos podem pensar em reimaginar seus modelos de negócios, com uso da IA e da IA generativa, mas para isso precisam identificar claramente as oportunidades certas, reorganizar sua força de trabalho e ajustar seus modelos operacionais para que as implementações não sejam feitas às custas de riscos de segurança e da ética. A criação de vantagem competitiva de longo prazo passa por muito mais que simplesmente adotar ChatGPT em um ou outro setor.
Como as empresas podem cultivar uma cultura receptiva ao uso da IA? O ChatGPT, pela sua popularidade, poderia servir de “porta de entrada” nesse sentido?
Cezar Taurion – O ChatGPT não trouxe uma revolução tecnológica, pois as tecnologias já existiam. O que mudou foi a interface, criando uma revolução no UX (User Experience), abrindo a caixa preta da IA para os usuários.
A IA estava aí, mas escondida atrás de outros sistemas e nem notávamos. Usando algoritmos de forma simples e direta, o ChatGPT e os demais sistemas LLM, trouxeram para as manchetes o uso da IA. Creio que essa forma de interface vai se tornar bem popular e até padrão nas interações dos usuários com os sistemas. Para os executivos, a IA generativa representa um desafio.
E como adotar de maneira correta essa tecnologia?
Cezar Taurion – Esta não é uma tarefa fácil, e os executivos, que provavelmente estão distantes da tecnologia em si, podem se sentir incertos sobre o que fazer. Mas, na nossa perspectiva, a prioridade dos executivos não é mergulhar totalmente na tecnologia, mas devem se concentrar em compreender como a IA generativa afetará suas organizações e seus setores, e quais escolhas estratégicas permitirão que explorem oportunidades e gerenciem desafios.
Essas escolhas estão centradas em três pilares principais: potencial de uso; talentos e operacionais; e governança. O primeiro passo é compreender a tecnologia, suas potencialidades e limitações. Os executivos precisam se mostrar como líderes engajados e entusiastas das iniciativas de IA. As empresas e suas ações são reflexo das suas lideranças e caso esses líderes não se engajem, a empresa não se engajará.
Entrevista originalmente publicada na newsletter agenteGPT.
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