O tipo de ação troll vem de muito antes da mídia de massa e internet. Mas este modus operandi ganhou outra escala nos tempos digitais, de Banksy (imagem acima) ao “Gemidão do Zap”.
[30.10.2020]
Por Alexandre Adoglio*
Em setembro de 2013 os principais veículos de comunicação deram destaque a um fato curioso, não só pela natureza dos envolvidos mas pelo modo como estava sendo divulgado. O playboy (bi)lionário Chiquinho Scarpa convocou a imprensa para testemunhar o enterro do seu automóvel Bentley, avaliado à época em R$ 1,2 milhão. Segundo o “empresário” a ideia lhe ocorreu após assistir um documentário sobre os faraós, que levavam consigo ao túmulo seus tesouros mais preciosos.
Assim, na data esperada, com cerca de 30 jornalistas de diversos veículos presentes, Chiquinho anunciou que na verdade a ação era uma trollagem, voltada a despertar a sensibilidade das pessoas para a questão de doação de órgãos, pois muitos levavam consigo os seus quando morriam. O plano de aproveitar a imprensa presente foi para fazer um discurso no qual ele lembrou que algo precioso, por mais valor que tenha no mundo, não vale nada debaixo da terra, promovendo em seguida a semana da campanha de doação de órgãos e tecidos da Associação Brasileira dos Transplante de Órgãos.
O termo “troll” e seu verbo “trollar” são derivados da expressão “trolling for suckers” (lançando a isca para os trouxas), identificado e atribuído ao causador das sistemáticas flamewars na internet e não aos trolls, criaturas tidas como monstruosas no folclore escandinavo. Trollar é o ato de chatear deliberadamente outra pessoa, principalmente em ambientes digitais, gerando inclusive o meme Troll Face muito utilizado na busca pelo sarro alheio.
GUERRA DOS MUNDOS
O tipo de ação troll vem de muito antes da mídia de massa e internet. Em outubro de 1938, a rede de rádio CBS (Columbia Broadcasting System) interrompeu sua programação musical para noticiar uma suposta invasão de marcianos. A “notícia em edição extraordinária”, na verdade, era o começo de uma peça de radioteatro, que não só ajudou a CBS a bater a emissora concorrente (NBC), como também desencadeou pânico em várias cidades norte-americanas. “A invasão dos marcianos” durou apenas uma hora, mas marcou definitivamente a história do rádio.
Dramatizando o livro de ficção científica “A Guerra dos Mundos”, do escritor inglês Herbert George Wells, o programa relatou a chegada de centenas de marcianos a bordo de naves extraterrestres à cidade de Grover’s Mill, no estado de Nova Jersey. Os méritos da genial adaptação, produção e direção da peça eram do então jovem e quase desconhecido ator e diretor de cinema norte-americano Orson Welles.
Porém, a transmissão se revelou como uma das primeiras ações de trollagem em escala nos meios de comunicação, sendo que o jornal Daily News resumiu na manchete do dia seguinte a reação ao programa: “Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos”.
ÉPICOS DA TROLLAGEM
Impulsionado pela geração online e a genialidade humana para fazer merda, a trollagem virou lugar comum na internet através de alguns casos épicos, como a narração ao vivo de um acidente aéreo em que os nomes dos falecidos eram trocadilhos sexuais (Ho Li Fuk), a do inglês que instalou um esqueleto humano falso embaixo do seu assoalho para que os próximos moradores encontrem numa futura reforma da casa, e por fim instalar Windows nos notebooks da Apple Store.
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BANKSY, O IMPERADOR TROLL
Mas nada nem ninguém consegue superar Banksy, o grafiteiro-ativista mais controverso da atualidade, que se utiliza de todo um ferramental Troll para fazer valer o interesse pelo seu trabalho e crítica social mais do que bem vinda.
Os estênceis que ele criou expuseram uma variedade de questões sociais e políticas nas paredes de várias cidades do mundo. Por meio do uso de imagens e frases provocativas, Banksy costuma criar debates polêmicos. Em 2014 uma imagem famosa de pombos segurando cartazes como “volte para a África” e “migrantes não são bem-vindos” foi pintada em Claction-on-Sea, Inglaterra, a uma semana das eleições. Ofendido por este mural e para proteger sua campanha, as autoridades locais o denunciaram por racismo, presumivelmente sem entender a perspectiva do artista.
Em outra ação épica, o artista disponibilizou uma de suas obras mais icônicas para ser leiloada no sóbrio Sotheby’s de Londres. No leilão de 2018, os compradores e o público ficaram bastante surpresos quando logo depois de arrematada a peça começou a se autodestruir por meio de um triturador que estava escondido na moldura. Foi o momento em que “Garota com Balão” se transformou em “O amor está no lixo”. Mesmo destruída pela metade a peça chegou ao valor de $ 1.135.219, tendo sido avaliada anteriormente a $ 395.624.
Banksy continua seu trabalho em levar sua visão de crítica social através de suas obras, utilizando da trollagem para constar em alguns dos melhores catálogos e museus do mundo.
GEMIDÃO DO WHATSAPP
Épico mesmo é quando você está naquele almoço de família, domingão, todo mundo conversando sobre banalidades da vida e de repente de um canto qualquer saí uma voz feminina aos berros de prazer. O Gemidão do WhatsApp é com certeza o troll mais sacana dos últimos tempos, tendo pego de surpresa pessoas como o jornalista Octávio Guedes durante transmissão ao vivo da Globonews.
Nova meca de trolls online, o WhatsApp tem vivido tempos de glória nas interações. A sacanagem é tanta que vc já pode baixar sua próxima trollagem em sites como o Áudios pra Zap com o seu hit Bota Pornô nesse grupo aí.
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* ALEXANDRE ADOGLIO é CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve semanalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.
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