Pop-ups, captcha, carregadores…. do ponto de vista de empresas de tecnologia, fica uma vontade de punir certas aplicações e “soluções” que não são nada amigáveis aos consumidores.
[16.09.2022]
Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e Diretor no grupo Marketing&Vendas/ACATE Startups.
Escreve quinzenalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.
Foi um desses casos “só acontecem nos Estados Unidos”.
Era uma manhã de 1979 no condado de Albuquerque, California, quando Stella Liebeck, 79 anos, estava sentada no banco do passageiro do carro de seu neto segurando um copo de café comprado no drive-in de um dos muitos McDonald’s da região. Em certo momento, com o carro parado no semáforo, ela tentou segurar o copo firmemente entre os joelhos enquanto removia a tampa para adicionar açúcar e creme. No entanto, o mesmo virou, derramando café escaldante sobre si. Ela recebeu queimaduras de terceiro grau em 16% de seu corpo, necessitando de hospitalização por oito dias, tratamento de hidromassagem para desbridamento de suas feridas, enxerto de pele, cicatrizes e incapacidade por mais de dois anos.
Depois de muito atrito e confusão, com processos envolvendo as partes, acordos e imprensa metida no meio, o júri chegou a punir o MCDonald’s em U$ 2,7 milhões por não ter prestado a devida assistência inicial, negociando danos punitivos e compensatórios em um caso emblemático de como a experiência de usuário pode causar mais dor de cabeça do que o simples abandono de carrinho.
Ou você não se lembra a última vez que precisou rasgar um saquinho de catchup com os dentes ou apertar o tubo da pasta de dente com severa raiva para sair aquele resquício seu por direito enquanto se exasperava pelo atraso para sair ao trabalho. Vendo este fato aqui do nosso ponto de vista como empresas de tecnologia, fica aquela vontade de punir certas aplicações e “soluções” que não são nada amigáveis a nossa experiência, ao contrário, nos fazem ranger os dentes de raiva na utilização de alguns produtos e serviços.
CAPTCHA QUE PARIU
Se você utiliza web na sua rotina com certeza já se deparou com uma invenção irritante chamada CAPTCHA. São amostras de letras amassadas, esticadas e rabiscadas, manchadas de cor, que muitas vezes precisam ser decifradas antes de enviar um e-mail, postar um comentário ou comprar uma passagem.
“Isso é um i ou um l?” você se pergunta. “Um zero ou a letra O?” Talvez você veja três letras onde parece que deveria haver apenas duas. Você inclina a cabeça. Você empurra sua cadeira para trás e aperta os olhos. Você se pergunta se precisa de óculos novos. Você também pode se perguntar se essas coisas estão ficando mais difíceis – talvez muito difíceis para pessoas com olhos e cérebros envelhecidos.
O CAPTCHA foi criado na Carnegie Mellon University em 2000. O nome é abreviação de Completely Automated Public Turing para diferenciar computadores e humanos. Os sites precisam de CAPTCHAs para se proteger contra os “bots” de spammers e outros tipos de agentes do submundo do computador. Desenvolvido por Luis von Ahn e Manuel Blum a inovação anti-fraude recebeu inúmeros prêmios por sua aplicação, sendo comprada pelo Google em 2009 e gerando uma cria tão irritante quanto, o ReCAPTCHA, que faz o usuário ajudar de graça a decifrarem imagens escaneadas de livros antigos. Bem chato isso.
CARREGADOR “INOVADOR” DA APPLE
Tida por alguns como a empresa mais inovadora do mundo, a gigante da maçã vive tropeçando em seus próprios pés para legitimar-se como um ser superior à concorrência. Fora a descarada obsolescência programada de seus produtos, que já falamos aqui e gera milhões de toneladas de lixo tecnológico mundo agora pelo descarte dos produtos “vintage”, a companhia não consegue se explicar no assunto carregadores, e seus fios.
Para entender como os cabos de Apple, principalmente iPhones, se quebram de forma contínua é preciso primeiro entender a mente de Steve Jobs e de como seu séquito enxerga o mundo. Tão desagradável e brusco quanto era conhecido por ser com colegas e subordinados, ele era em sua essência um zen-budista, que valorizava a simplicidade não apenas em sua vida pessoal, mas também na tecnologia.
Para ele, a chave para o design industrial bem-sucedido era fazer com que algo parecesse elegante, simples e não intimidador. Na verdade, ele aderiu tão estritamente a essa diretriz de design em primeiro lugar, que aprovaria primeiro a aparência e o tamanho de um dispositivo e só então encarregaria os engenheiros de hardware da Apple de encontrar uma maneira de fazê-lo funcionar.
Mas estabelecer uma hierarquia com designers no topo apresenta alguns problemas únicos, como por exemplo fazer a Apple ser sempre inovadora e criadora de tendências. Alguns produtos como os fones de ouvido sem fio ou mesmo o Dynamic Island recém lançado no iPhone 14. Nenhuma dessas coisas é inovadora em termos de tecnologia – empresas como Samsung já fabricavam fones bluetooth há anos e a função da ilha dinâmica já pode ser encontrada até em sistemas Android – mas isso representa uma oportunidade para a Apple se afirmar mais uma vez como a opção mais simples e elegante.
Quando a aparência supera a função, no entanto, você acaba com designers optando por uma estética específica, mesmo quando isso vai contra o conselho dos engenheiros – ou reclamações maciças de usuários. Simplificando: um design elegante é mais importante para a Apple do que um que prolonga a vida útil de um produto.
Então, muito provavelmente, é por isso que os carregadores se desgastam e desmoronam – e continuarão a fazê-lo. Não é só porque eles querem que continuemos investindo dinheiro em cabos de reposição. Um ex-funcionário da Apple afirma no Reddit que a equipe de Design Industrial simplesmente odeia a aparência dos populares cabos de estilo “alívio tenso”, que existem especificamente para evitar que os cabos se dobrem em ângulos ásperos, e eles insistem em ficar com o branco de aparência mais elegante, que fica encardido em pouco tempo de uso.
Agora com a obrigatoriedade de inserir cabos USB-C nos produtos vendidos na Europa, e a obrigatoriedade de incluí-los no Brasil por enquanto, talvez limite a angústia dos aficionados pela marca.
POP-UP DOS INFERNOS
Há um consenso que o grande motor da Web 2.0 é a publicidade on-line, desde os anúncios que pipocam pelas redes Ads por aí, passando pelo email marketing e afins, até chegar ao mais odioso deles, o pop-up.
No final dos anos 1990, o desenvolvedor Ethan Zuckerman trabalhava para o Tripod.com, um site que comercializava conteúdo e serviços para graduados. A Tripod mais tarde mudou o modelo de negócios depois que o conceito inicial não pegou, tornando-se um provedor de hospedagem de páginas da web e uma “proto rede-social”.
A empresa tentou vários fluxos de receita para manter o negócio, incluindo venda de mercadorias, um serviço de assinatura e até uma revista paga. Mas o que realmente funcionou foi a publicidade, e onde tudo começou. A empresa passou a analisar as páginas pessoais dos seus usuários e direcionar melhor os anúncios para eles, oferecendo ao mercado o início do que temos hoje como mídia online paga.
Porém em determinado dia um dos clientes, grande empresa automobilística, enloqueceu quando seu banner foi inserido em uma página que celebrava o sexo anal. Zuckerman e seu time agiram rapidamente e criaram uma forma do anúncio não ser vinculado ao conteúdo da página que é acessada, ou seja, o banner aparecia logo em seguida ao carregamento do site, flutuando sobre ele em um horrendo box cinza ao seu entorno.
E a publicidade pop-up nascia.
“Eu sinto muito pessoal”, disse um arrependido Zuckerman em 2014 em seu artigo para o The Atlantic, “nossas intenções eram boas”.
Com ou sem desculpas, a invenção do pop-up é provavelmente a pior experiência de usuário já cometida em toda interface tecnológica, provando que esta matéria deve ser observada sempre em primeiro lugar no seu próximo desenvolvimento de produto. Duvida? É só acessar aqui as consequências que impactam atualmente nossa vida: https://how-i-experience-web-today.com/detail.html#
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