[TECH NA BOLSA] 2022: o furacão de uma tempestade perfeita, porém repleta de oportunidades

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[TECH NA BOLSA] 2022: o furacão de uma tempestade perfeita, porém repleta de oportunidades

Para quem já investiu, é o momento de paciência para enfrentar uma turbulência das bravas. Para novos aportes, uma janela escancarada.

Para quem já investiu, trata-se do momento de manter a paciência para enfrentar uma turbulência das bravas. Para novos aportes, o momento de alocação não poderia ser mais propício, uma “janela escancarada”. Foto: Jeremy Bishop (Unsplash)


[12.01.2022]


Por Thiago Lobão, CEO e gestor do Newton Tech Fund

Uma chuvarada sem fim. O ano de 2022 tem sido uma verdadeira tragédia. Até agora, um janeiro para se esquecer, com inundações, acidentes, conflitos e muito, mas muito COVID e H3N2. Minha avó sempre dizia que atenção demais nunca é pouca, porque sempre o buraco pode ser mais embaixo – e este ano já é prova viva disso, em todos os aspectos. Atenção sempre foi e, sempre será, o lema da vez.

Na Bolsa, não podíamos ter uma pá de cal mais pesada: nos EUA, as ações de tecnologia prosseguem numa correção acentuada para baixo, desencadeada pelas dúvidas sobre o real peso e velocidade das medidas do FED para extração dos benefícios da economia. É a primeira vez, em muitos anos, que os americanos convivem com o temor do dragão da inflação. E a volatilidade come solta – completamente solta. 

É verdade que as FAAMGs (Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Google) pareçam sofrer menos no atual momento, numa mistura de percepções sobre o comportamento híbrido de seus ativos, tanto geradores de valor (Value) quanto de crescimento (Growth). As demais techs, contudo, com mínimas exceções, comem o pão que o diabo amassou nessa largada de ano, mesmo no caso de companhias com fundamentos indiscutivelmente sólidos, penalizados com correções na faixa dos 15-20% de queda na primeira semana de 22.

No Brasil, a situação é parecidíssima, seja pela reverberação do comportamento global, seja pela incapacidade completa de se reestabelecer algum grau de otimismo num mercado que não vê qualquer real possibilidade de uma terceira via política e que, infelizmente, pouco consegue contribuir para uma retomada econômica minimamente digna, que possa acontecer para além do nosso agronegócio (responsável por continuar carregando nosso país nas costas).

Feliz exceção aqui talvez seja a Embraer e seu projeto EVE, mais uma prova de que o Brasil pode sim liderar disrupções tecnológicas. Outra boa exceção se trata do Nubank que, como já comentamos em outras oportunidades, persiste em quebrar paradigmas ao trazer a visão gringa como protagonista no contexto de avaliação de negócios brasileiros de base tecnológica. 

Ainda nos resta esperança!

Mas o que vai ser de 2022? Vamos continuar nesse caos o ano todo? O cenário ainda piora? Vou passar algumas impressões rápidas sobre o que temos debatido na Catarina Capital para mais um ano que, nem precisamos enfatizar, será de enormes desafios.

  • Devemos ver no primeiro trimestre do ano, ao menos, um movimento insistente de correção de papéis, especialmente aqueles que tiveram desempenho muito agressivo de valorização ao longo da pandemia e, mais recentemente, em novo ramp-up de crescimento no período de agosto a outubro em 2021; 
  • Na grande maioria dos casos, estamos falando de empresas que têm evoluído de forma robusta no caminho de geração de caixa, graças a resultados muito acelerados de crescimento de receita, por vezes superiores à marca de 100% a.a. São empresas com excelentes fundamentos, como no caso de líderes na cadeia de segurança cibernética, infraestrutura em nuvem e expoentes em inovações nos segmentos de meios de pagamento e e-commerce;
  • Para os que já alocaram, trata-se do momento de manter a paciência para enfrentar uma turbulência das bravas. Para novos aportes, o momento de alocação não poderia ser mais propício: uma janela escancarada para investimentos em ativos que lideram transformações claras na vida das pessoas e dos negócios e que, por um comportamento assustado de mercado, voltaram a patamares de precificação próximos ou até inferiores ao início da COVID-19;
  • O momento é bom para construir posições em empresas com histórico de crescimento contínuo para além dos resultados durante a pandemia e, naturalmente, para comprar empresas disruptivas que foram penalizadas criticamente nos últimos 3 meses;
  • Manter uma boa posição em ativos sólidos com grandes volumes de negociação no mercado, como as FAAMGs, também parece soar como uma ótima opção de defesa na construção de uma carteira, principalmente diante de um começo de 2022 já tão volátil;
  • A perspectiva é de que ao longo do ano, com a gradativa recuperação econômica americana, o mercado possa entender elementos para amansar os ânimos e reestabelecer uma dinâmica de precificação um pouco mais ancorada pelos resultados apresentados por cada negócio – crescimento tende a voltar a ser o nome do jogo;
  • No Brasil, a recíproca tende a não ser verdadeira, infelizmente. Podemos ver uma valorização de ativos de tecnologia no começo do ano, em razão das correções extremas sofridas pelas techs brazucas em 2021 (especialmente no caso de ativos diretamente listados na B3). No entanto, os desafios político-econômicos tendem a chacoalhar a recomposição de vários segmentos produtivos, dificultando um caminho para aumento do volume de negócios entre empresas e busca de lucratividade. Sem uma terceira via política estaremos ainda muito à mercê da sorte e do gogó da polarização para observar, nos ativos brasileiros, a mesma resposta de crescimento e geração de valor que prevemos para os líderes globais.

Em miúdos: estamos no meio do furacão de uma tempestade perfeita. Uma tempestade pandêmica, instável tanto politicamente quanto economicamente, que vai exigir paciência e coragem para um céu azul de oportunidades de crescimento e geração de valor em médio-prazo.

Aos que já estão dentro do furacão, sugiro atenção redobrada. Aos que estão vendo este espetáculo do caos de mais longe, sugiro coragem – nada melhor do que pegar terra limpa logo depois da passagem de uma tormenta dessas para uma jornada cristalina de valorização.


A COLUNA TECH NA BOLSA É UMA PARCERIA DE CONTEÚDO COM O NEWTON TECH FUND.
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