Nesta nova era, a intuição dá lugar a análises preditivas e dashboards customizados. Com isso, as pequenas e médias empresas antecipam tendências de demanda e minimizam riscos financeiros. / Imagem: DALL-E/SC Inova
[17.06.2025]
Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”
Até recentemente, muitas PMEs operavam com controles em planilhas desconectadas, arquivos físicos de propostas e conferências verbais de estoque. Esse modelo custava tempo precioso: estima-se que equipes gastassem até 20 horas mensais apenas consolidando dados para fechamento financeiro. A falta de automação gerava inconsistências, duplicidade de registros e retrabalho constante, enquanto a tomada de decisão era atrasada por revisões manuais, o que acabava por comprometer prazos e elevar custos invisíveis.
LIMITAÇÕES OCULTAS DO MODELO ANALÓGICO
Além dos custos diretos com retrabalho, a gestão manual minava a cultura de inovação e dificultava a adoção de novas práticas. Sem um fluxo claro de dados, surgiam silos de informação entre vendas, marketing e finanças, impossibilitando uma visão unificada do desempenho. Em mercados voláteis, reativar processos manuais para cada ajuste de estratégia tornava as PMEs vulneráveis a mudanças de cenários, levando a reações reativas — e muitas vezes tardias — frente à concorrência.
ADOÇÃO MASSIVA DE PLATAFORMAS
Com a aceleração imposta pela pandemia, as soluções de ERP em nuvem, CRMs inteligentes e plataformas de e-commerce tornaram-se acessíveis via modelos SaaS, reduzindo barreiras de investimento inicial. Dados da FGV mostram que, em 2021, os gastos e investimentos em TI nas empresas representaram 8,7% da receita, evidenciando que a tecnologia deixou de ser custo e virou alavanca de eficiência. Ferramentas de automação de marketing e comunicação unificada passaram a eliminar tarefas repetitivas, liberando tempo para iniciativas estratégicas.
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL COMO REPOSICIONAMENTO ESTRATÉGICO
Não basta “fazer digital”, isso implica repensar processos, modelos de negócio e cultura organizacional, alinhando cada área a métricas de desempenho mensuráveis e objetivos claros, capazes de sustentar a vantagem competitiva no longo prazo.
No novo DNA, a intuição dá lugar a análises preditivas e dashboards customizados. Relatórios em tempo real passam a embasar decisões de precificação dinâmica, alocação de recursos e planejamento de estoque. Em vez de monitorar apenas resultados passados, as PMEs conseguem antecipar tendências de demanda, ajustar margens de lucro conforme sazonalidade e otimizar capital de giro, minimizando riscos financeiros.
BENEFÍCIOS TANGÍVEIS E MENSURÁVEIS
Essa abordagem traz ganhos concretos: redução de até 30% em custos operacionais pela eliminação de processos repetitivos, aumento de produtividade da equipe em até 25% e aceleração no tempo de fechamento mensal de 50%. Em indústrias de nicho, a aplicação de machine learning para ajustar preços em tempo real chega a elevar a margem em até 10%. A soma desses resultados reforça que data-driven não é luxo, mas necessidade.
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
E MITIGAÇÃO DE VIESES
Insights de economia comportamental — especialmente de Daniel Kahneman e Amos Tversky — mostram que heurísticas como aversão à perda e ancoragem influenciam decisões de gestores e clientes. A cultura de dados, aliada a “nudges” digitais, ajuda a combater esses vieses: notificações automáticas de desvios de KPI, definição de metas claras e visualizações intuitivas orientam escolhas mais racionais e alinhadas aos objetivos estratégicos.
Na coletânea HBR’s 10 Must Reads on Leading Digital Transformation, a Harvard Business Review enfatiza a necessidade de redefinir estruturas de governança de dados, estabelecer ciclos de revisão curtos e mensurar impactos de forma contínua. Organizações orientadas a dados superam suas concorrentes ao adotar cadências regulares de monitoramento e alinhamento estratégico.
Para Verne Harnish, autor de Scaling Up e idealizador das Rockefeller Habits, a cultura de dados alimenta quatro pilares críticos: pessoas, estratégia, execução e caixa. Metas diárias, reuniões de alinhamento semanais e revisões trimestrais de indicadores (como taxa de conversão e ciclo de vendas) garantem que toda a equipe compartilhe objetivos claros e se responsabilize por resultados mensuráveis.
GESTÃO DE CUSTOS COMO INSTRUMENTO ESTRATÉGICO
No novo DNA, custos deixam de ser vilões a serem exclusivamente cortados e passam a ser variáveis a serem orquestradas. Modelos de custos variáveis, análises de sensibilidade e simulações de cenários permitem projetar investimentos com clareza de retorno. Isso viabiliza inovação sem comprometer margens, sobretudo em mercados de alta competição.
LIDERANÇA E CULTURA ORGANIZACIONAL
A mudança cultural é tão vital quanto a tecnológica. Líderes devem incentivar experimentação, tolerar falhas controladas e fomentar aprendizagem contínua. Programas de Data Literacy capacitam equipes a interpretar e usar insights, enquanto a integração de métricas de desempenho em reuniões regulares consolida uma mentalidade de ownership.
ROADMAP PRÁTICO PARA INICIAR A JORNADA
Um roteiro de implantação pode seguir seis etapas:
- Diagnóstico de maturidade digital: mapear processos e identificar gaps.
- Definição de KPIs e OKRs: estabelecer métricas alinhadas à estratégia.
- Seleção de plataformas modulares: adotar soluções SaaS com APIs abertas.
- Construção de dashboards e automações: priorizar relatórios em tempo real.
- Capacitação de equipes: treinar em análises básicas de dados.
- Governança contínua: ciclos de revisão trimestrais para ajustes.
FERRAMENTAS E PARCERIAS RECOMENDADAS
No Brasil, soluções como RD Station e TOTVS se integram facilmente a CRMs globais (Salesforce, HubSpot). Para BI, Power BI e Metabase oferecem escalabilidade. Em IA, serviços como AWS SageMaker e Azure Cognitive Services fornecem modelos prontos. Consultorias e Conselhos especializadas em PMEs podem acelerar a adoção e customizar processos conforme o porte e o setor.
MÉTRICAS DE SUCESSO E EVOLUÇÃO CONTÍNUA
Implemente indicadores de progresso, como proporção de processos automatizados, tempo médio de fechamento financeiro e NPS de clientes. Compare-os com benchmarks setoriais e use metodologias ágeis para ajustar iniciativas. Squads multidisciplinares garantem entregas rápidas e feedback constante, acelerando a geração de valor.
Chegou a hora de reescrever o DNA da sua PME.
Menos obsessão por cortes de custos pontuais e mais foco em construir uma arquitetura de decisão inteligente. Avalie seu modelo de gestão, identifique alavancas digitais e lance, nos próximos 30 dias, um projeto-piloto que gere ganhos rápidos e escaláveis.
No mundo atual, quem não for data-driven ficará para trás. Vamos liderar a próxima geração de PMEs estratégicas?
REFERÊNCIAS
- HARNISH, Verne. Scaling up: how a few companies make it… and why the rest don’t. Gazelles, Inc., 2014.
- KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
- THALER, Richard H.; SUNSTEIN, Cass R. Nudge: o empurrão para a escolha certa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
- HARVARD BUSINESS REVIEW. HBR’s 10 Must Reads on Leading Digital Transformation. Boston: Harvard Business Review Press, 2021.
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