[CULTURA DIGITAL] WEB 3.0, Tomo 1: DeFi e o desafio da vida no novo normal

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[CULTURA DIGITAL] WEB 3.0, Tomo 1: DeFi e o desafio da vida no novo normal

Esta é uma série de artigos com o objetivo de trazer conhecimento sobre o universo Web 3.0 e como estas tecnologias estão impactando o mundo

Esta é uma série de artigos que tem como objetivo trazer conhecimento sobre o universo Web 3.0 e como estas tecnologias estão impactando o mundo.


[01.04.2022]


Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve quinzenalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova


ATENÇÃO: Nada neste artigo é uma recomendação de investimento, este conteúdo tem apenas fins educativos e exprime a opinião do seu autor. Faça sempre sua própria pesquisa para qualquer tipo de investimento financeiro.

A grande resignação.

Foi como os norte-americanos rotularam um acontecimento neste mundo que estava começando a se mover de uma pandemia, que havia colocado a todos nós dentro de casa por um longo período, limitando a convivência corporativa e a rotina que por vezes embotava nosso verdadeiro sentimento para com o trabalho.

Neste período de lockdown pudemos rever a forma como nos relacionávamos com os variados aspectos de nossas vidas, quando muitos conflitos foram solucionados, separações aconteceram, negócios faliram e oportunidades foram surgindo, transformando nossas vidas de maneira radical em curto espaço de tempo, permitindo um novo olhar sobre o viver e conviver. Muitos provavelmente avaliaram suas vidas anteriores e perceberam o desequilíbrio que havia entre o esforço no emprego e o retorno na qualidade de vida.

Segundo números não compilados, cerca de 25% da força mundial de trabalho foi impactada pelo fenômeno: pessoas se demitiram para buscarem algo que o local ou tipo de trabalho não ofereciam. Só nos EUA, no mês de setembro de 2021 foram 4,5 milhões de pedidos de demissão, confirmando o levantamento de que 40% dos funcionários estão no momento em busca de outras oportunidades. No Brasil estima-se 500.000 pedidos de demissão voluntária por mês desde 2021.

VIDA TECH

Fato é que além das reflexões existenciais causadas pelo impacto do Covid-19 tivemos uma grande aceleração tecnológica que trouxe muita gente para uma realidade de bytes até então periférica e que passou a ser fundamental para a sobrevivência. Em meio às crianças berrando no home-office, aplicativo de reunião virtual e internet caindo durante a reunião, os trabalhadores passaram a interagir de forma rotineira através dos meios digitais e tiveram que aprender na marra como se organizar através das inúmeras ferramentas online de mercado. 

Aliado a esta aceleração digital temos o desejo por uma qualidade de vida melhor, um ambiente de trabalho mais saudável e um aumento nos ganhos; complementando um novo fenômeno que nasce das cinzas do modelo tradicional de emprego. 

Queremos trabalho híbrido / assíncrono / não fidelizado.

Ou seja, se antes estava difícil contratar pessoas para a área tecnológica imagina agora que a maioria não se vê mais sendo obrigada a “bater ponto”, desejam liberdade para trabalhar de onde quiserem e querem ser remunerados por entregas, e não mais por tempo, independente de quantos “contratantes” seja possível atender.

MUNDO DESCENTRALIZADO

E esta grande aceleração permitiu que muitas tecnologias que estavam em seu começo, ou mesmo em fase beta, fossem impulsionadas e se agrupassem para fornecer soluções para este novo e desejado estilo de vida. Finanças descentralizadas (DeFi) é um termo abrangente para vários aplicativos financeiros baseados em Distributed Ledgers (Blockchain é uma delas e a mais antiga) e voltados para democratizar o acesso a produtos financeiros e interromper intermediários financeiros. 

As finanças descentralizadas expandem o uso das ledgers e criptomoedas da mera transferência de valor para casos de uso financeiro mais complexos sendo uma alternativa aos sistemas financeiros tradicionais caracterizados por infraestruturas e processos antigos. Os usuários desfrutam de acesso sem fronteiras, sem intermediários e sem permissão a instrumentos financeiros, como bancos e corretoras, tendo controle total sobre esses ativos. 

Com a integração das mais variadas ferramentas DeFi o mundo começa a construir uma nova forma trabalho, com um impacto talvez muito maior que a revolução industrial e que mudará de forma contundente as relações patrão/empregado,  transformando parte da sociedade em um exército de empreendedores descentralizados. Através destas tecnologias configura-se funcionalidades que permitem a geração de contratos inteligentes e transações econômicas via tokens (criptos e NFTs), gerando uma nova forma de se obter riqueza e produtividade. 

NOTA DO AUTOR: Estamos comumente definindo blockchain como qualquer tipo de rede onde aplicações Web 3.0 estão rodando, porém o correto é Distributed Ledgers, que na tradução literal português seria “Razões Distribuídas”. Como em todo o mercado W3 a língua preponderante é o inglês, inclusive para uso das aplicações, optamos por expressar o termo correto LEDGER para toda a aplicação baseada nesta tecnologia. Em tempo, Blockchain é a aplicação mais antiga de Distributed Ledger, sendo a primeira utilizada para mineirar uma criptomoeda, o Bitcoin.

E para ajudar na navegação segue um guia com os principais termos aqui apresentados.

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THE SHIFT

Sabe aquele GPTW colado em muitas fachadas e rodapé dos websites corporativos como forma de atrair talentos para as empresas que investem na cultura corporativa by the book? Esqueça! Segundo pesquisa Lagom Data tivemos um crescimento nos pedidos de demissão em cerca de 15% nos últimos 18 meses, sendo que o maior motivador é a busca por maior rendimento seguindo por flexibilidade no trabalho, principalmente entre os colaboradores até os 30 anos de idade. Exemplo disso é que o volume de aberturas de CNPJs cresceu aceleradamente no Brasil nestes últimos meses. Só em 2021, 1.550.593 empresas individuais foram abertas, um aumento de 30% em relação a média anual dos anos anteriores. 

E o DeFi está definidamente possibilitando que um crescente número de profissionais, tech ou não, munidos de qualquer notebook possam de fato sobreviver e até empreender com resultados excelentes. Para tangibilizar um pouco melhor para o não-nativo digital, seguem os principais modelos de atuação neste novo e misterioso universo:

STAKING | PROVA DE PARTICIPAÇÃO

Na primeira aplicação cripto para gerar o Bitcoin utilizou-se como prova de consenso na rede Blockchain o Proof of Work (prova de trabalho), que atualmente conhecemos como mineração, aonde inúmeras máquinas processam o algoritmo criado por Sakamoto para gerar as moedas. Prova de participação (do inglês proof-of-stake ou PoS) é uma alternativa proposta a prova de trabalho (PoW) e assim como esta é provida de um consenso e prevenção ao problema do duplo gasto. No conceito PoS um nó na rede deve provar que possui acesso a uma certa quantidade de moedas antes de ser aceito pela rede ao invés de resolver algum trabalho como no PoW. 

Assim, gerar um bloco envolve o envio de moedas para si mesmo, provando assim a posse e colocando estes ativos para validarem as transações deste bolco, sendo remunerado por elas, ou seja, colocando suas posses de cripto para gerar lucro de forma autônoma. Na PoW, os investidores que mineram criptomodas ganham em troca mais moedas. Já o validador da PoS também é recompensado com rendimentos em forma de tokens. Algumas delas que entram nesse investimento são Ethereum 2.0, Cardano, Polkadot, Solana, Polygon, Neo, Stellar e EOS.

LENDING | EMPRÉSTIMO

Em resumo, lending é quando um indivíduo envia os tokens (cripto-ativos) que deseja emprestar para o “mercado financeiro” através de um contrato inteligente, que então intermedia a negociação na plataforma e remunera-o pelas transações. O empréstimo é um dos principais pilares do DeFi, sendo que estes protocolos cresceram de um TVL de US$ 7,1 bilhões para US$ 46,8 bilhões em 2021, representando um aumento de 559,2%. Maker, Compound e Aave foram os três principais protocolos de empréstimo com base no valor bloqueado com um TVL de US$ 18,3 bilhões, US$ 12,8 bilhões e US$ 10,8 bilhões, respectivamente. Esses protocolos também tinham dívidas pendentes totais avaliadas em US$ 9,1 bilhões, US$ 7,7 bilhões e US$ 6,5 bilhões, respectivamente.

DECENTRALIZED EXCHANGES (DEX) | TROCAS DESCENTRALIZADAS 

Uma exchange descentralizada (DEX) é um serviço on-line ponto a ponto (peer-to-peer – P2P) que permite transações diretas de criptomoeda entre duas partes interessadas.

As exchanges de criptomoedas descentralizadas têm como objetivo solucionar problemas inerentes às exchanges centralizadas. Elas criam mercados P2P diretamente na blockchain, o que permite que os traders guardem e operem fundos de forma independente. Os usuários dessas exchanges podem fazer transações com criptomoeda diretamente entre si – ou seja, sem o envolvimento de terceiros, sejam corretoras, bancos ou outros agentes. 

STRUCTURED PRODUCTS | PRODUTOS ESTRUTURADOS 

O DeFi vem mostrando sofisticação de gestão de portfólio nos últimos anos, e agora podemos ver diferentes produtos estruturados pré-embalados. Também conhecidos como investimento vinculado ao mercado, é uma estratégia de investimento financeiro com base em um único título, uma cesta de títulos, opções, índices, commodities, emissão de dívida ou moedas estrangeiras e, em menor grau , derivados. Os otimizadores de rendimento, encarregados de fornecer e otimizar rendimentos para depositantes de fundos, foram a primeira forma de produtos estruturados para DeFi, sendo o Convex, lançado em maio de 2021, foi o maior otimizador de rendimento com um TVL de US$ 16,9 bilhões. 

LIQUID STAKING 

Para os não iniciados, o staking líquido é uma maneira de emitir versões tokenizadas ou derivativos de ativos apostados para desbloquear sua liquidez e permitir que eles sejam armazenados, transferidos, usados ​​em DeFi ou gastos como qualquer outro token. Em todo o setor cripto com prova de participação (PoS), um grande número de usuários e protocolos há muito tempo colhe os benefícios deste mecanismo de consenso. Não é apenas uma maneira fácil e prática de proteger redes blockchain, mas também uma maneira infalível de os usuários ganharem APYs altos em troca de sua participação via staking. 

No entanto, o fato de os ativos staking permanecerem bloqueados por longos períodos de tempo limita sua usabilidade e impede muitos usuários de apostar completamente. É exatamente por isso que o staking líquido como meio de desbloquear a liquidez dos ativos staking está sendo explorada dentro de DeFi.

DECENTRALIZED STABLECOINS 

Apesar de serem criptomoedas, as stablecoins não apresentam a volatilidade elevada típica desses ativos. Elas são lastreadas em dólar americano, euro, ouro e outros ativos com valor próprio, o que garante a sua estabilidade. O dólar é o lastro mais comum das stablecoins. O tether (USDT) e o USD coin (USDC), por exemplo, são lastreados em dólar na proporção de um para um, ou seja, para cada US$ 1 emitido na forma de stablecoin, deve existir US$ 1 depositado em uma reserva de garantia.

SMART WALLETS | CARTEIRAS INTELIGENTES 

Ethereum tem dois tipos principais de contas, contratos ditados por código e contas de propriedade externa controladas por chaves privadas. Os contratos permitem a criação de ‘contratos inteligentes’ que oferecem maior flexibilidade. As carteiras inteligentes também vêm com recursos fáceis de usar para gerenciamento pois são ferramentas online que permitem que “guardiões” selecionados pelo usuário restrinjam ou restaurem o acesso a elas. 

Um novo modelo de mundo está surgindo, que muitos chamaram de novo normal, com impactos acelerados em nosso sistema social. Os colaboradores não mais procuram a empresa ideal, mas sim um estilo de vida ideal que possa prover equilíbrio definitivo entre pessoal e profissional. Um desafio não só para o mundo corporativo mas também para a gestão pública, ainda dependentes dos velhos modelos de governança.

A seguir: Web 3.0 \ Tokenização

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