Palhoça lança programa inédito no país para “acelerar” microempreendedores

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Palhoça lança programa inédito no país para “acelerar” microempreendedores

Salto é um projeto para levar metodologias usadas por startups para ajudar no desenvolvimento de MEIs, em programa inédito no Brasil

Modelo utilizado para desenvolver startups começa a ser aplicado a microempresários individuais em iniciativa conjunta entre Impact Hub Continente, Sebrae e Prefeitura


Os mais de 250 mil microempreendedores individuais (MEIs) registrados em Santa Catarina representam quase a metade do total de empresas do Estado, segundo dados do Sebrae/SC. Estabelecida em 2010 pelo governo federal, esta figura jurídica criada para formalizar quem trabalha por conta própria já foi adotada por mais de 7 milhões de pessoas no país.

Para especialistas, o maior desafio daqueles que se tornam microempreendedores individuais é, como qualquer empresa de outros portes, se manter competitivo no mercado, crescer e gerar renda. Ainda que Santa Catarina seja o estado com o menor índice de inadimplência (cerca de 30%) entre os MEIs do país, são poucos os microempreendedores que evoluem ao ponto de se tornar microempresa, ou seja, que superam o limite anual de faturamento de R$ 60 mil por ano – ou R$ 5 mil por mês.

Poucos para não dizer raros.

Durante uma maratona de inovação para projetos públicos realizado pelo Sebrae/SC e o centro de treinamento para políticas públicas We Gov, a empreendedora Gabriela Werner, CEO do coworking Impact Hub de Florianópolis, teve acesso a um dado que mostrava que, a cada mil MEIs registrados, somente dois (0,2%) viraram microempresa de um ano para o outro. “Essa informação ficou na minha cabeça por muito tempo. Não é possível que apenas 2 em cada 1000 superem essa fase nesse período. É preciso pensar numa forma de capacitar este público”, conta Gabriela.

Foi em uma conversa informal em 2016 com o secretário de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Palhoça, Marcelo Fett, durante a inauguração do Impact Hub Continente, que o problema se tornou uma oportunidade de inovação. Com o apoio do secretário e do Sebrae/SC, começou a tomar forma o projeto de um programa inspirado nas aceleradoras de negócio, modelo muito comum para desenvolver startups e empresas de base tecnológica, só que desta vez voltado para o microempreendedor individual.

Marcelo Fett, da secretaria de Desenvolvimento Econômico: “um grande número de MEIs sem planejamento pode gerar um problema social” / Foto: Julio Trindade

Assim nasceu a Salto Aceleradora, lançada no dia 18 de maio, em Palhoça, uma iniciativa inédita no país executada pelo coworking Impact Hub Continente em parceria com o Sebrae/SC e a prefeitura municipal. O propósito é capacitar os MEIs da cidade em um programa de cinco meses com a realização de encontros e mentorias com profissionais e outros empreendedores, utilizando metodologias inovadoras, como design thinking e storytelling, por exemplo. Para participar, os microempreendedores de Palhoça depositam um valor de R$ 50, que é devolvido após a conclusão do programa.

E por que Palhoça?

Segundo o secretário Marcelo Fett, foram abertas cerca de 5 mil novas empresas no município, dos quais quase 80% são microempreendedores individuais. A grande maioria destes MEIs registrados na cidade são os chamados empreendedores por necessidade, pessoas que abrem um negócio porque não tem outra forma de sustentar a família – e fazem isso sem planejamento, um problema que leva ao fechamento de 55% das empresas em menos de três anos.  

“O que parecia ser um número que demonstrava que Palhoça pudesse ser um Eldorado do empreendedorismo mostrou que, na verdade, a cidade pode ter um grave problema social no futuro. Se esse percentual de empresas fechar, teremos um grande número de pessoas desempregadas e falidas, que aplicaram os últimos recursos nesse novo empreendimento sem planejamento nenhum”, ressalta Fett.

A inovação, portanto, está na forma de lidar com o problema: “buscamos fazer uma releitura do processo de desenvolvimento das startups, só que voltado para as necessidades dos microempreendedores. A ideia do MEI é servir como uma política pública de inclusão social, então queremos que esse programa seja como um rito de passagem, que ajude a alavancar os negócios e desenvolva o networking dos participantes”, explica Soraya Tonelli, coordenadora regional do Sebrae.

A metodologia envolve três etapas – ou “saltos”, na concepção que dá nome ao programa ao longo de cinco meses:

  • A primeira fase é aberta, para captação de empreendedores, com o evento de lançamento, que reuniu cerca de 80 pessoas, seguido por visitas e encontros em diversos bairros de Palhoça, com apoio da Prefeitura. A estimativa é atingir 500 MEIs nesta primeira etapa.
  • Em seguida os participantes participam de encontros quinzenais no Impact Hub Continente com os workshops sobre modelo de negócios, oficinas sobre design thinking, storytelling e outras ferramentas, além de conversas entre si para entender as necessidades e dificuldades comuns entre os empreendedores. No ‘funil’ de seleção, a expectativa é de que essa etapa reúna cerca de 30 negócios.
  • A fase final é de atenção mais personalizada com os participantes, com mentorias individuais e foco no crescimento do negócio e na possibilidade de parcerias.

Após o evento de lançamento, programa deve passar pelos bairros de Palhoça para captar novos empreendedores / Foto: Julio Trindade

“Os desafios de um microempreendedor são bem parecidos com o das startups: encontrar um sócio, validar seu produto para o mercado e crescer. Mas precisamos ajudar a derrubar a primeira barreira para crescer, que é o MEI se ver de fato como um empreendedor, capaz de gerar negócios, não ter um trabalho apenas para se sustentar”, explica Rahel Aschwanden, coordenadora do programa no Impact Hub. Nascida na Suíça, ela atuou durante três anos em programas de incubação e aceleração de startups em Zurique, também na rede do Hub, o que ajudou nos contatos para vir trabalhar no Brasil, onde está há um ano e meio.

Tanto ela quanto a CEO do Impact Hub reforçam que a iniciativa ainda é um protótipo, e evitam cravar expectativa de resultados no curto prazo: “há diferentes tipos de MEIs, alguns mais preparados que outros. Precisamos entender de que forma o treinamento vai funcionar para essa diversidade de perfis e medir como isso evolui. Exatamente da forma como pensam e se desenvolvem as startups”, conclui Gabriela.

O programa é voltado exclusivamente para microempreendedores com sede em Palhoça e as inscrições para o programa podem ser feitas neste link.