Do P&D tradicional a um laboratório de novos negócios: a jornada de inovação da Cianet

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Do P&D tradicional a um laboratório de novos negócios: a jornada de inovação da Cianet

Ao criar o ISP Next Lab, empresa catarinense mudou a forma de desenvolver inovação e agora desenha ao lado dos clientes soluções para o futuro do mercado de provedores de internet no país. Foto: Beatriz Cascaes

Ao criar o ISP Next Lab, empresa catarinense mudou a forma de desenvolver inovação e agora desenha ao lado dos clientes soluções para o futuro do mercado de provedores de internet no país. Foto: Beatriz Cascaes

 

A expansão da rede de fibra óptica no Brasil, que ajudou provedores regionais de internet a levar conectividade para o interior do país, foi o motor de crescimento da Cianet, empresa de Florianópolis que atua há 24 anos no mercado de produtos e tecnologia para operadoras de TV e web.

Mas e quando a fibra óptica deixar de ser um diferencial competitivo? Este foi justamente o tema de um encontro que a Cianet promoveu no dia 10 de novembro, em Florianópolis, reunindo cerca de 100 participantes, grande parte gestores de provedores do Sul e São Paulo, além de representantes do mercado do Centro-Oeste e Nordeste.  Entre as respostas anunciadas no ISP Next Summit, estão o investimento em inovação e capacitação para o mercado, entre elas a criação da Universidade Cianet, um ambiente de ensino para profissionais que atuam em provedores regionais (os chamados ISPs) com trilhas de conhecimento disponíveis no portal da empresa.

Outra novidade é o “Guru”, uma ferramenta que permite, a partir do cruzamento de dados, fazer uma análise geográfica do potencial de expansão de redes. Esta é a primeira solução apresentada ao mercado que foi desenvolvida no ISP Next Lab, o braço de inovação da Cianet em parceria com os ISPs clientes. A ferramenta apresenta vários filtros, a partir de dados do IBGE, Anatel, Abrint e outras fontes de referência: região, município, tecnologia utilizada, número de residências, renda, consumo de internet, média de preços etc.

“O mercado de ISPs cresce na faixa de 30% ao ano. Pela falta de dados, muitas empresas aproveitam esse cenário de crescimento e tomam decisões sem conhecer informações de mercado, de concorrentes. Por isso, pensamos em um relatório de dados, por meio de um dashboard, para facilitar essa tomada de decisão”, explica Viviane Goulart, gerente do ISP Next Lab. Em termos de negócio, o novo serviço não deve apresentar uma fatia relevante das receitas, mas reforça o posicionamento da Cianet como provedora de informações para o mercado: “vimos, a partir da experiência com as empresas que utilizaram o protótipo, que ter acesso a esses dados fazia sentido para seus projetos de expansão”.

RESPOSTA ÀS “ONDAS DE INOVAÇÃO”

O ISP Next Lab é a resposta da empresa às “ondas de inovação” que vem transformando muitos mercados – e que também deixou algumas lições recentes à Cianet. Há pouco mais de três anos, quando rompia a barreira dos 20 anos no mercado, a empresa estava em uma situação comercialmente confortável: no primeiro semestre de 2015, a companhia anunciava um aumento de 61% no faturamento (que foi de R$ 20 milhões no período) em comparação com o ano anterior. E não era um resultado isolado: entre 2008 e 2014, o faturamento da Cianet cresceu mais de dez vezes, um salto que colocou a empresa por quatro anos consecutivos no ranking das pequenas e médias empresas (PMEs) que mais cresceram no país, ranking elaborado pela consultoria Deloitte.  

Durante evento com parceiros de várias regiões do país, o ISP Next Summit, empresa anunciou novidades como a “Universidade Cianet” e um serviço de inteligência de dados, primeiro produto do Lab de Inovação. / Foto: Beatriz Cascaes/Cianet

Com o interior do país cada vez mais digital graças à expansão das redes de fibra óptica, a tendência então era buscar novos produtos e serviços para os provedores regionais. A bola da vez era o IPTV –  a oferta de canais pagos por meio de sinal de internet e não mais por infraestrutura de cabos – e a Cianet dedicou cerca de dois anos desenvolvendo uma ferramenta com este serviço. Mas no meio do caminho a cultura de streaming veio com força e mudou o jogo de vez neste mercado, com os consumidores mais interessados em ter internet para Netflix e YouTube do que para canais fechados.

“Como toda empresa de 20 anos, nossa cultura era desenvolver dentro de casa, com estrutura de P&D (pesquisa e desenvolvimento) tradicional”, lembra Viviane. Com o fim do projeto de IPTV, a empresa entendeu que era preciso continuar investindo em inovação, mas de outra maneira, encurtando o tempo de prototipação e buscando ideias a partir de dores reais do mercado.  

O fim do projeto de IPTV deixou um legado importante para os passos futuros da empresa: “foi um grande aprendizado para o desenvolvimento de novos negócios. Isso nos ajudou a entender onde estava a demanda, quanto o mercado paga por ela para depois experimentar e investir no produto. Hoje estamos olhando a empresa de fora pra dentro e criamos maturidade nos processos”, resume Viviane, que buscou experiências com outras empresas de tecnologia com desafios semelhantes.

Um momento importante nesta virada se deu em 2016, quando Silvia Folster, ex-diretora comercial da empresa, se tornou CEO. Além de uma reestruturação organizacional, com a união de áreas (marketing e recursos humanos, financeiro e suprimentos, entre outras), a área de inovação saiu do corporativo e se tornou um braço externo da empresa – fisicamente, inclusive. O ISP Next Lab está localizado a cerca de 5 km da sede da Cianet, em um espaço no Centro de Inovação ACATE Primavera. “Quando você está dentro da estrutura corporativa e precisa bater alguma meta comercial, acaba deixando a inovação de lado. Com uma estrutura a parte, os processos ficam muito mais ágeis”, ressalta Viviane.

“Hoje estamos olhando a empresa de fora pra dentro e criamos maturidade nos processos”, conta a coordenadora do ISP Next Lab, Viviane Goulart

Na equipe, nove profissionais – entre desenvolvedores, UX, analistas comerciais e de inteligência, por exemplo – com o desafio de redesenhar metodologias de processos a partir de demandas trazidas pelos clientes da empresa. No radar do laboratório, as economias emergentes, identificadas a partir da curva de longevidade do Gartner, por exemplo.

Tudo isso para se preparar para o momento que a fibra óptica, o motor do crescimento, por tantos anos, não for mais o diferencial a ser oferecido aos clientes. “Nossa aposta com o Lab é ajudar o provedor na área de gestão, com a fidelização da base dele. Nem todos estão sentindo isso mas quem tem continua crescendo é porque está buscando novidades como uso de inteligência artifical (chatbots) para suporte e vendas, por exemplo, reduzindo custos e ampliando capacidade de atendimento”, detalha a gerente.

Enquanto busca a respostas para o mercado, a Cianet mantém um ritmo seguro de expansão – no primeiro semestre de 2018 o crescimento nas receitas (não divulgadas) foi de 44%. Para 2019, a expectativa é de expansão de pelo menos 25%.

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br