Como as agrotechs estão levando tecnologia para o campo em Santa Catarina

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Como as agrotechs estão levando tecnologia para o campo em Santa Catarina

Nova geração de empreendedores faz o caminho de volta à área rural levando tecnologias e criando negócios inovadores

Nova geração de empreendedores faz o caminho de volta à área rural levando tecnologias e criando negócios inovadores

A expansão da internet em áreas rurais, o desenvolvimento de novas tecnologias e o surgimento de uma nova geração empreendedora está, aos poucos, transformando a realidade no campo em Santa Catarina. Depois de décadas em que o êxodo às cidades foi um dos principais problemas de agricultores e produtores rurais no estado, uma série de startups começa a fazer o caminho inverso e levar às lavouras, granjas e fazendas soluções inovadoras para qualificar a gestão e aumentar a produtividade no campo.

É o caso da JetBov, startup fundada por dois empreendedores de Joinville que criaram um sistema de gestão para controlar custos da fazenda e acompanhar a cria, recria e período de engorda de gado. Em pouco mais de três anos, a empresa é responsável pelo monitoramento de mais de 450 mil cabeças de gado em 450 fazendas do país e o faturamento cresce, em média, 30% ao mês. Outros exemplos são a Agrolytica, também de Joinville, que atua com solução para a cadeia de produção de soja, a Mais Leite, de Chapecó, que auxilia na gestão de propriedades no setor de pecuária leiteira, a YAK Tratores (outra joinvilense), que desenvolveu máquinas elétricas compactas de colheita para agricultura familiar, entre várias outras que surgem pelo estado.

“O ano passado foi surpreendente. Fizemos interações com mais de 20 novas empresas que ofereciam alguma solução para o agronegócio. Em qualquer área que você imagina surge uma nova oportunidade tecnológica”, comenta Clóvis Rossi, diretor da Vertical Agro da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE). Criada há cinco anos para reunir as empresas associadas à entidade que atuam neste mercado, a Vertical contava com seis membros e viu explodir desde 2016 o número de iniciativas inovadoras para o campo.

Diretor da Khor Tecnologia, criada em 2003 e que atua com rastreabilidade de carne suína, Clóvis avalia como se deu esse boom de startups voltadas ao agronegócio: “mesmo com a situação econômica crítica do país entre 2014 e 2016, o setor agrícola saiu fortalecido economicamente neste período. Quem estava pensando em investir em tecnologia foi para essa área, que tinha verba, ao contrário da indústria. As agrotechs ‘bombaram’ porque o setor tinha dinheiro e demanda para melhorar o processo de gestão”.

Entre as primeiras empresas de base tecnológica que começaram a olhar para o mercado rural em Santa Catarina – e que participaram dos primeiros passos da Vertical – estão a Khor,  Agriness (referência em sistemas de gestão e produtividade para produtores de suínos), Boreste (sistemas embarcados), PariPassu (sistemas de rastreabilidade de alimentos frescos, que recentemente anunciou união de operações com a paranaense Genesis Group), Arvus (tecnologia para agricultura de precisão, comprada em 2015 pela sueca Hexagon), entre outras – hoje são 15 associadas.

Participantes da Vertical Agronegócios da ACATE. Segundo o diretor Clóvis Rossi (primeiro à direita), setor vive um boom de novas startups. 

Só em 2016 o agronegócio representou 46,2% das vendas brasileiras para o exterior. De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, o agronegócio é responsável por gerar 32% de empregos no país – em Santa Catarina, o setor movimentou R$ 61 bilhões em 2016.

Mas há também outros fatores que ajudaram a dar o empurrão a estes novos negócios, como a expansão da internet no campo. Estudo realizado pela Vertical Agro em 2014, e publicado em anuário do setor, mostrou que apenas 14% das propriedades rurais em Santa Catarina tinham acesso a web. Hoje, diz Clóvis, a estimativa é de aproximadamente 80%. Como muitos aplicativos e sistemas desenvolvidos pelas novas startups se baseia na coleta e compartilhamento de dados em campo, a infraestrutura de rede é fundamental para que as soluções gerem valor para os agricultores e produtores rurais.

“As agrotechs ‘bombaram’ porque o setor tinha dinheiro e demanda para melhorar o processo de gestão”, afirma Clóvis Rossi, diretor da Vertical Agronegócios da ACATE

Há também o surgimento de uma nova geração de empreendedores que estudaram em universidades nos grandes centros e acabam voltando às propriedades para implantar sistemas de TI e métodos de gestão. “Os filhos estão voltando ao campo e profissionalizando os negócios. O produtor hoje se vê como um empreendedor rural. Além disso, é possível viver com lucratividade e uma qualidade que vem faltando nas grandes cidades. Esta êxodo urbano vai ser uma grande tendência nos próximos anos”, avalia Clóvis.

Tecnologia para a agricultura familiar em SC

Em Santa Catarina, 90% dos produtores são agricultores familiares que, juntos, respondem por quase 70% de toda a produção agropecuária do estado. Para identificar as demandas e gargalos tecnológicos dos pequenos negócios do campo, foi lançado em agosto de 2017 o Núcleo de Inovação Tecnológica para Agricultura Familiar (NITA), iniciativa que envolve o governo de Santa Catarina, com recursos do Banco Mundial e participação de diversas entidades ligadas ao setores de agro, TI e empreendedorismo.

Lançamento do Núcleo de Inovação Tecnológica para Agricultura Familiar, em agosto de 2017. / Foto: Divulgação NITA

A ideia é que o núcleo funcione como um elo entre startups e empresas inovadoras de pequeno e médio porte, que podem se cadastrar no portal do NITA, com as cadeias produtivas organizadas, como cooperativas. Em SC, as 265 cooperativas registradas reúnem cerca de 2 milhões de associados, mantêm 58 mil empregos diretos e faturam mais de R$ 31,5 bilhões por ano. O desafio, segundo os idealizadores, é levar tecnologias de ponta a baixo custo aos agricultores do estado e parte desta conexão com as startups é feita por meio da Vertical Agro.  

Um exemplo desta conexão é o evento que a Coopercampos, de Campos Novos, promove entre os dias 27 de fevereiro e 01 de março, o Dia de Campo 2018, que deve reunir 140 expositores para apresentar inovações para o setor. As startups e PMEs cadastradas terão um espaço compartilhado de 3,2 mil m2, sem custo de locação, para mostrarem suas soluções.

Para o diretor da Vertical, o trabalho do Sebrae, em paralelo a outras iniciativas, ajudou a levar uma visão empreendedora ao meio rural. “Conhecemos vários produtores cooperados que passaram por treinamentos e foram se qualificando. Em meio a isso, o cenário levou à necessidade de investimento em tecnologia. Agora estamos experimentando uma nova realidade”, define.